02/01/2018
Robson Sávio e a retrospectiva 2017 que a Globo jamais irá fazer
Do Cafezinho - Escrito por Wellington Calasans, Postado em Redação
Entender o ano que terminou é o melhor caminho para que possamos encarar os desafios do ano novo.
Nesta retrospectiva, o cientista social e colunista de O Cafezinho Robson Sávio, dá uma verdadeira aula sobre as instituições ou o que sobrou delas.
Assista ao vídeo ou leia a transcrição feita pela ativista política Camila Govedice.
Olá, eu quero hoje conversar com você fazendo um rápido balanço do ano de 2017. Esse ano que termina, ele foi um ano de importantes perdas para setores democráticos e importantes conquistas. Eu acho que é preciso a gente sempre fazer uma avaliação no sentido de renovar as nossas forças para o ano que vem que será um ano fundamental para a retomada da democracia no Brasil. Em relação à questão das perdas, eu acho que é muito importante nós reconhecermos, enquanto sociedade, principalmente nós que somos dos setores mais democráticos, de uma democracia inclusiva, que em relação aos três poderes nós perdemos um espaço imenso.
Na verdade, os três poderes da república, eles se amalgamaram num único poder contra o povo e contra a nação. O Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Judiciário trabalharam em uníssono em relação a tudo que significa reformas constitucionais que depreciam a qualidade da nossa democracia, a qualidade da cidadania brasileira e principalmente juntaram todas as energias contra conquistas importantes no âmbito das políticas sociais, em relação ao patrimônio público, em relação à nossa soberania. Outra perda importante é em relação à mídia hegemônica, a mídia empresarial.
A mídia empresarial, num determinado momento desse ano, parece que articulou uma certa reação ao governo golpista, mas logo se entregou. Se entregou porque de fato esse governo, ele está fazendo a agenda, impondo uma agenda que não é uma agenda nacional, é uma agenda dos interesses do EUA, uma agenda dos interesses dos rentistas e dos especuladores e a mídia, de alguma forma, é aliada desses grupos. Uma outra questão muito importante que eu chamaria atenção é em relação a grupos religiosos pentecostais e neo-pentecostais ultra-conservadores.
No Brasil, talvez seja o grupo mais perigoso para uma democracia inclusiva. São grupos baseados no fanatismo religioso, no radicalismo religioso conservador, muitos deles financiados por dinheiro americano numa perspectiva de uma teologia da prosperidade que simplesmente valoriza o indivíduo em detrimento de tudo o que é coletivo. É ótimo para esse capitalismo que prega o sucesso somente individual e o desdém a tudo aquilo que é publico, que é coletivo, que é para benefício de todos. Essa é um tipo de religiosidade que está espraiando pelo Brasil com o neo-pentecostalismo nas igrejas evangélicas, mas também num segmento importante do catolicismo.
Talvez seja o grupo mais perigoso porque ele associa radicalismo religioso, fanatismo religioso com conservadorismo moral e com conservadorismo político. Ele está espraiado no seio da sociedade e esse grupo talvez é um dos grupos que mais insufla o discurso da violência e do ódio na nossa sociedade, por mais paradoxal que isso possa parecer. Por outro lado, segmentos democráticos e que pensam na democracia inclusiva, numa democracia de e pra todos, também tiveram vitórias importantes nesse ano. Eu diria que uma vitória das mais significativas tem a ver com uma certa reação da sociedade civil em relação a esse governo golpista amalgamado nos três poderes.
As últimas pesquisas de intenção de voto agora no final do ano mostra que realmente a população parece acordar, inclusive os segmentos tradicional da classe média se reposicionando, verificando que o golpe foi um golpe contra o brasileiro, o trabalhador brasileiro em favor das elites econômicas, as elites empresariais, das elites que defendem o capital especulativo e os interesses internacionais. Nesse sentido a classe média também perdeu muito, não foram somente os pobres como determinados segmentos da classe média pensavam. Então parece que há um ressurgimento da sociedade em relação a esse cenário desse governo golpista que tomou posse à força, à fórceps dos poderes da república.
Uma outra reação muito importante também no âmbito da sociedade tem a ver com a comunicação alternativa. Os blogs, os impressos e mesmo as redes sociais alternativas, os vários portais, tiveram uma reação espetacular, inclusive começaram a pautar a mídia empresarial na medida que começaram a praticar um jornalismo investigativo, um jornalismo aguerrido, um jornalismo de conscientização da população brasileira e isso é um campo também que se alargou muito, principalmente a partir da metade do segundo semestre para cá. E também no âmbito da sociedade eu vejo uma outra grande reação, essa reação tem a ver com setores que prezam por uma democracia de fato, não a democracia de fachada e eu acho que o momento, digamos assim, que a gente pode verificar essa retomada mais coesa desses grupos, tem a ver com tudo o que aconteceu a partir daquela invasão autoritária e arbitrária que aconteceu na UFMG.
Na verdade no Brasil há uma juristocracia formada pelos segmentos que prezam uma democracia somente formal, incrustados no setor judiciário, Ministério Público, Poder Judiciário, nas polícias e essa juristocracia se coloca acima do bem e do mal, não respeitam os poderes, digamos assim, que são constituídos através do voto, os poderes que são a base da democracia e suplantam tais poderes querendo ser donos da república e se achando superiores, inclusive à própria lei.
E esses segmentos foram rechaçados veementemente depois daquela ação arbitrária e autoritária da Polícia Federal com a omissão do Ministério Público e com a ação do Poder Judiciário na UFMG. Foram milhares de reações, de toda a sociedade, de todos os segmentos democráticos do Brasil e fora do Brasil. Uma reação em cadeia, uma reação portentosa que mostrou que esses segmentos intelectuais, esses segmentos que prezam por uma democracia real não toleram essa juristocracia que quer sobrepujar todos os poderes de república e se tornar, digamos assim, dona da própria república.
Essa foi uma reação muito interessante que aconteceu também nesse final do ano. Para 2018 nós temos um ano com muitos desafios. Um ano que vai depender muito dos setores progressistas, de uma maior articulação, obviamente primeiro para garantir as eleições e que todos os candidatos tenham condições de disputar e que o Poder Judiciário não interfira na política, dê condições para que os eleitores definam os rumos da nossa democracia. E em segundo lugar para a eleição de um Congresso.
Um Congresso que, de acordo com as demandas da população, inclusive dê as condições necessárias para revisar tudo o que foi feito por esse governo golpista contra o povo e contra a nação. É muito importante que os setores democráticos, os setores progressistas, que os setores comprometidos com a democracia real estejam mais articulados em 2018 para garantir a lisura, a transparência e a possibilidade da participação ampla nas eleições para garantir um Congresso renovado e para, na verdade, criar condições para reformas estruturais, reforma política, reforma fiscal, reforma da mídia, reforma do judiciário, reforma da segurança pública, que sem tais reformas não é possível de se falar num Brasil verdadeiramente democrático.
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