03/02/2010
Davos classifica os EUA como nação de "instabilidade política"
Vermelho - 2 de Fevereiro de 2010 - 18h48
Como parâmetro político, o Fórum Econômico Mundial em Davos em geral oferece alguns indicadores reveladores do ambiente global, e este ano não é exceção. Contaram-me que uma expressão estava sendo usada por não americanos sobre os EUA que eu honestamente posso dizer que nunca tinha ouvido antes: “instabilidade política”.
por Thomas L. Friedman
para o New York Times
“Instabilidade política” é uma expressão normalmente reservada a países como a Rússia ou o Irã ou Honduras. Mas agora, um empresário americano observou: “As pessoas me perguntam sobre instabilidade política nos EUA. Nos tornamos imprevisíveis para o mundo.”
Repare, as pessoas em conferências internacionais adoram criticar os EUA, rir dos EUA e reclamar dos EUA. É o único esporte mundial mais popular que o futebol. Contudo, no passado, sempre criticavam sabendo que os EUA eram essa rocha em quem sempre podiam confiar para assumir a liderança. Este ano é diferente. Neste ano, asiáticos e europeus em particular, puxam você para o lado e fazem alguma versão da seguinte pergunta: “Diga-me, o que está acontecendo em seu país?”
Estamos deixando as pessoas nervosas.
Bancos, multinacionais e fundos de investimento frequentemente contratam especialistas em política externa para fazerem uma “análise de risco político” antes de investirem em lugares como, digamos, Cazaquistão ou Argentina. Em breve, possivelmente, acrescentarão os EUA em suas listas de observação.
Dá para entender por que os estrangeiros estão inconfortáveis. Eles olham para os EUA e veem um presidente eleito por uma sólida maioria, entrando no cargo com uma onda de otimismo, controlando tanto a Câmara quanto o Senado. Ainda assim, um ano depois ele não consegue aprovar sua maior prioridade legislativa: a reforma na saúde.
“Nosso sistema político de dois partidos está quebrado justo quando tudo precisa de grandes consertos, não pequenos reparos” disse K.R. Sridhar, fundador da Bloom Energy, empresa de células de combustível no Vale do Silício que está participando do fórum. “Estou falando de saúde, infra-estrutura, educação, energia. Somos nós que precisamos de um Plano Marshall agora.”
De fato, em termos de frases que eu nunca de ouvido antes, há outra assim: “Será que o Consenso de Pequim está substituindo o Consenso de Washington?” O “Consenso de Washington” é um termo cunhado após a guerra fria que se refere às políticas de mercado livre, pró-comércio e globalização promovidas pelos EUA. Como disse Katrin Bennhold no “International Herald Tribune” nesta semana, os países em desenvolvimento estão procurando “uma receita para estabilidade e crescimento mais rápido do que oferece o combalido Consenso de Washington, de mercados abertos, moedas flutuantes e eleições livres.” Nessa medida, “fala-se cada vez mais de um Consenso de Pequim”.
O Consenso de Pequim é um híbrido de “Confúcio, comunismo, capitalismo” sob a tutela de um Estado de um partido, diz Bennhold, com muita orientação do governo, mercados de capital estritamente controlados e um processo de tomada de decisão capaz de fazer duras escolhas e investimentos de longo prazo sem ter que ouvir pesquisas de opinião pública.
Pessoalmente eu não desistiria do Consenso de Washington com tanta facilidade. Se está combalido não é por causa dos princípios que promovem a abertura econômica e comercial, muitos dos quais a China está praticando melhor do que nós ultimamente. Está fracassando porque, bem, por causa de Washington.
Foi difícil ler o eloquente discurso do Estado da União do presidente Barack Obama e não se sentir dividido entre sua visão para os próximos anos e a consciência de que as forças da inércia e dos interesses especiais que o bloqueiam -sem mencionar o Partido Republicano- tornam a chance de ele implementar essa visão altamente improvável. Essa é a definição de “empacado”. E neste instante estamos empacados.
O que é duro e frustrante é que estamos tão perto de desempacar. Se houvesse apenas seis ou oito senadores republicanos -um pouco mais de Judd Greggs e Lindsey Grahams- prontos em concordar com Obama em algum território comum nas questões da redução do déficit, energia, saúde e reforma bancária, acredito que, depois do susto em Massachusetts, o presidente de fato faria concessões de forma a forjar não apenas pequenos acordos graduais, mas avanços substanciais em questões importantes. Contudo, até agora, os republicanos estão tendo um bom ano em termos políticos sendo simplesmente o partido do “não”.
Isso é uma vergonha porque, aqui estamos, um país lutando para obter alguns bilhões a mais de estímulo para ajudar nossos desempregados e pequenas empresas, quando o maior estímulo de todos está se escondendo à plena vista. Este seria o fim da paralisia política e a remoção da mortalha de incerteza que estão afetando tudo, desde o custo do meu plano de saúde até o custo da minha luz ou até a forma que nossos grandes bancos podem fazer negócios.
Se os dois partidos pudessem se unir e remover as nuvens de incerteza sobre essas questões, remover a impressão crescente de que nosso país está politicamente paralisado, não seria necessário mais nenhum centavo de dinheiro de estímulo. O investimento e o empréstimo decolariam sozinhos. Contudo, se os dois partidos continuarem com seu duelo até a morte, nenhum estímulo nos dará o crescimento sustentado e o emprego que precisamos.
Fonte: NYT
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