segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Contraponto 4354 - "Manipulação jornalística criminosa"

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03/01/2011

Manipulação jornalística criminosa

Do Direto da Redação - Publicado em 02/01/2011

Mário Augusto Jakobskind
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E chegamos à segunda década do Terceiro Milênio com muitos fatos novos que foram relegados a segundo plano em função não apenas das festas de fim de ano, como também por um certo desinteresse jornalístico dos jornalões e telejornalões. As redações preferem enfatizar o que fazem todos os anos neste período a correr atrás de notícias relevantes.

O Globo, por exemplo, manipula até documentos liberados pelo site WikiLeaks, como aconteceu nestes dias com a “informação”, entre aspas mesmo, segundo a qual o MST tem “espiões no Incra” e que haveria uma suposta prática dos assentados de “alugar a terra de novo ao agronegócio”.

Pois bem, o próprio professor Clifford Andrew Welch, do curso de história da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), citado como fonte das informações de telegramas remetidos por diplomatas estadunidenses no Brasil aos Estados Unidos, desmentiu que tenha dito algo do gênero. Ou seja, segundo Welch, O Globo mentiu descaradamente, como tem feito rotineiramente quando trata de questões da terra e ao se referir ao MST.

“Nunca falei e jamais falaria algo assim. No primeiro lugar, a palavra ‘espião’ é invenção do Globo, porque não aparece nos relatos diplomáticos disponibilizados pelos jornais”, denuncia Welch.

Sobre o aluguel de áreas de assentados ao agronegócio, Welch destaca que a coordenação nacional do MST é declaradamente contra essa prática e que a declaração aparece sem contextualização. Welch também era coordenador adjunto do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2009, quando recebeu a visita do Vice Consul Benjamin A. LeRoy do Consulado Geral dos EUA, em São Paulo.

E para o professor, o despacho diplomático que apareceu em O Globo sobre aluguel de lotes foi apresentado totalmente fora de contexto e parece de fato “cínico e irônico. Entende o professor de História que “o relatório não contempla a pressão das usinas nos assentados, com oferta de dinheiro fácil para o plantio da cana de açúcar, que tem causado muitos problemas aos assentados, como demonstram várias pesquisas realizadas pela Unesp".

A denúncia de Welch é extremamente grave e demonstra concretamente o comportamento de uma empresa jornalística que tem altos interesses no agronegócio e pauta suas matérias de acordo com o que melhor lhe convier. Isso, portanto, não é jornalismo, está muito mais para mercantilismo, leia-se grana mesmo, do que outra coisa.

Ainda em relação aos segredos revelados pelo Wikileaks, a diplomacia estadunidense por aqui considerou num primeiro momento que o governo Lula adotou uma prática passiva em relação ao Presidente Evo Morales na questão do acordo sobre o gás.

Curiosamente, o mesmo tipo de posição dos diplomatas-espiões estadunidenses foi adotado pela direita brasileira. Na ocasião, editoriais da mídia de mercado, políticos do gênero pilantra só faltavam pedir a intervenção das Forças Armadas na fronteira do Brasil com a Bolívia. Teria sido mera coincidência esse tipo de posicionamento?

É claro que toda a informação do WikiLeaks que está sendo divulgado por O Globo, Folha de S. Paulo e de quebra os demais, devem ser vistos com um pé atrás, porque podem estar sendo objeto de manipulação grosseira, como aconteceu nas informações sobre o MST.

Nestes dias de aparente calmaria o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso voltou às primeiras páginas dos jornais para dizer que foi com ele, e não com Lula, que o Brasil deu o pulo de gato, ou seja, mudou para melhor etc e tal.

Cardoso é um cínico falastrão, sem dúvida. Se ele tivesse sido governante em país com maior rigor de leis para os de colarinho branco, o ex-Presidente teria, isto sim, que estar respondendo na Justiça por uma série de denúncias que caem sobre o seu governo, sobretudo em relação às privatizações a preço de banana de estatais.

Já que o príncipe-sociólogo se julga tão bam-bam-bam e rei cocada preta, porque será que até os seus próprios correligionários do PSDB o esconderam durante a campanha presidencial? É que o temor de que Cardoso tirasse votos era tão grande que foi preferível para a direita o manter no ostracismo.

Na antevéspera do fim do mandato de Lula, Cardoso volta de forma ainda mais ridícula a ocupar as páginas dos jornais. Seria o caso de perguntar: porque se reuniu com representantes de multinacionais do petróleo prometendo mundos e fundos caso Serra fosse eleito? Ele garantia, isso na calada da noite*, que se Serra fosse eleito, o petróleo voltaria a “ser vosso”, como já tinha dito o ex-genro, o entregusita David Zilbestayn.

Felizmente, os eleitores brasileiros deram a resposta.

Ah, sim: Lula, segundo a última pesquisa CNT-Sensus deixa a Presidência com 87% de popularidade, recorde mundial do gênero, superando até a figura histórica de Nelson Mandela. E se fizessem uma pesquisa sobre FHC certamente se confirmaria que o povo brasileiro tem repulsa a ele. Ou será que ainda há dúvidas a esse respeito?

A decisão de Lula em não conceder a extradição de Cesare Battisti para a Itália vai render. O premier Silvio Berlusconi, um aprendiz de Mussolini, usou linguagem de latrina, como é de seu feitio, com ameaças ao Brasil, imaginando que aqui fosse uma colônia ocupada. Está enganado. O país é soberano e o governo toma decisões baseado em fatos. No caso Battisti, a volta dele à Itália, segundo a Advocacia Geral da União, na palavra do Ministro Luís Inácio Lucena Adams, acarretaria risco de vida ao acusado que foi julgado à revelia e sem comprovação das denúncias formuladas por outro acusado que se valeu do artifício de ajudar a Promotoria para ser solto (delação premiada).

Dá-lhe Dilma, Presidente na segunda década do Milênio.

(*) O fato só veio à tona porque foi testemunhado por um jornalista que botou a boca no trombone deixando FHC e os seus de sais justa.

*Mário Augusto Jakobskind. É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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