domingo, 3 de julho de 2011

Contraponto 5679 - "Silêncio sobre a Líbia"

.
04/07/2011
Silêncio sobre a Líbia

Do Direto da Redação - Publicado em 03/07/201104/07/2011

Mário Augusto Jakobskind *

E na Líbia permanece o impasse. Os bombardeios diários da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não alcançaram o objetivo de terminar com o governo de Muammar Khadafi. Com a divulgação pelos meios de comunicação de todo o mundo, Khadafi está sendo responsabilizado por uma série de violações dos direitos humanos. O Tribunal Penal Internacional decidiu decretar a prisão do dirigente líbio acusando-o de assassinatos e outras violências, como, por exemplo, ter ordenado que seus soldados praticassem estupros em mulheres.

Enquanto tais informações circulavam pelo mundo, o jornal britânico The Independent publicava relatório da Anistia Internacional inocentando regime de Muammar Khadafi e incriminando os rebeldes que têm o apoio da Otan. Quer dizer, todas as denúncias de violências contra as forças do governo Khadafi caíram por terra. Podem ser consideradas do mesmo rol do esquema que antecedeu a invasão do Iraque, como as tais armas de destruição em massa, que nunca existiram. Tudo por causa do petróleo.

A Anistia encontrou indícios de que em várias ocasiões os rebeldes em Benghazi fizeram deliberadamente declarações falsas e distribuíram versões mentirosas sobre crimes cometidos pelo governo líbio.

No mesmo embalo das denúncias feitas pela Anistia, vale lembrar a série de advertências formuladas pela Secretária de Estado, Hillary Clinton, que visivelmente faz o jogo do complexo militar. Ela baseou todas as acusações a Khadafi em “informes” inventados pelos rebeldes, Mas como as denúncias da Anistia Internacional foram pouco divulgadas, Hillary continua em vantagem na mídia de mercado, que ajudou, como de outras vezes, a dourar a pílula dos estadunidenses. Quer dizer, a farsa do Iraque se repete na Líbia. Os bombardeios diários da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que alguns canais de televisão denominam erradamente, por ignorância ou opção ideológica, de Aliança Ocidental, inventaram pretextos para intervir no país norte africano.

É inconcebível que esta prática se repita em todas as áreas do planeta onde há riquezas cobiçadas pelos Estados Unidos e demais países industrializados. E ainda pior: bombardeios inteligentes atingem alvos civis e provocam mortes em nome de “intervenção humanitária”.

Depois do relatório da Anistia Internacional espera-se que organismos internacionais como a ONU, ao menos investigue de forma isenta, e mesmo reveja a posição adotada contra a Líbia. Ou pelo menos decretem um cessar fogo, como sugeriu o ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva em uma reunião com representantes de países africanos.

Se não fizer uma dessas três sugestões e seguir dando pretexto para os bombardeios, a credibilidade da entidade vai a menos zero. Agora está em zero, mas se entrar em novo patamar poderá recuperar a credibilidade.

O que teriam a dizer sobre tudo isso a Presidenta Dilma Rousseff e seu Ministro do Exterior, Antonio Patriota? Afinal de contas, a Otan, com a chancela da ONU comete sérias violações dos direitos humanos. Ficar calado ou apoiar é na prática aprovar. Até porque, a própria Presidenta brasileira já deixou claro inúmeras vezes que se posicionaria onde se cometam violações dos direitos humanos.

Mas é preciso tomar cuidado para não cair na armadilha estadunidense que bota a boca no trombone apenas contra países que não fazem o jogo da Casa Branca. A Arábia Saudita, governada por uma família real aliada de Washington, que viola diuturnamente os direitos humanos, não é condenada ou sequer citada pelos Estados Unidos, da mesma forma que a entrada de tropas sauditas no Bahrein para reprimir manifestantes foi aceita como um fato normal.

E no episódio Dominique Strauss-Kahn, como denunciavam alguns analistas, uma parte da verdade começou a aparecer. Os meios de comunicação de mercado já tinham condenado de antemão o francês, em mais uma demonstração de irresponsabilidade jornalística. Como agora apareceu a versão segunda a qual a camareira queria mesmo arrancar grana de Strauss-Khan, começa a surgir à ponta do iceberg de uma história que pode ter ainda maiores implicações políticas do que se imaginava.

Apesar de Strauss-Khan ser um representante do mundo das finanças, tinha desagradado, segundo especialistas, o mercado em declarações sobre questões relacionadas com as finanças internacionais, não será de se estranhar se em pouco tempo vier à tona algum tipo de ingerência de serviços secretos. E no lugar de Strauss-Khan foi nomeada ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, de linha absolutamente conservadora. Missão cumprida para os radicais defensores do deus mercado.

O caso merece ser profundamente investigado, porque o fato da camareira ter ligações com mafiosos, segundo a polícia de Nova York, não elimina a participação de algum serviço secreto, como a CIA, por exemplo, que muitas vezes utiliza artifícios dessa e outras naturezas para não aparecer. E, como informou o jornal The New York Times, o surgimento de 100 mil dólares na conta bancária da camareira pode ter vindo sabe-se lá de onde.

A mídia de mercado que corre irresponsavelmente atrás da audiência para angariar mais anunciantes e que se fartou de explorar o caso, tem que fazer uma autocrítica imediata. E nesse sentido, valeria agora colocar em prática um tipo de jornalismo investigativo para esclarecer em definitivo o que se esconde atrás do caso. Resta saber se haverá vontade política para isso. Ou se a polícia de Nova York terá interesse em revelar mais fatos de bastidores.

Mário Augusto Jakobskind. É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOP.

.

Um comentário :

  1. Líbia - Resumo do roteiro

    Com alguns ajustes para cada caso, este roteiro pode ser adaptado e aplicado para qualquer outro país que pretenda controlar os seus recursos naturais sejam petróleo, biodiversidade, água e mimérios em geral. Vejamos a seguir em dez passos:

    01 - Na Líbia, Kadafi liderou uma revolução, colocou pra fora um rei entreguista, em seguida, nacionalizou o petróleo e outros setores da economia da Líbia. Inicia-se o desenvolvimento do país que atinge bom nível e qualidade de vida.

    02 - Os grupos derrotados fogem para os Estados Unidos e Europa, onde se escondem, e depois com ajuda estrangeira tramam voltar para retomar ao poder. A mídia imperialista inicia a propaganda contra a Líbia.

    03 - Por conta da sabotagem externa o regime revolucionário se fecha. Passa-se o tempo, uma oposição normal se forma dentro do país. Uma parte da oposição é envolvida politicamente pelos sabotadoderes externos.

    04 - Com a invasão do Iraque, Bush (pai e filho) acusam de terrorismo e ameaça invadir a Líbia. Kadafi, com medo de ser invadido flexibiliza o regime para muitos opositores.

    05 - Durante anos a oposição fica misturada, depois agentes externos infiltrados trabalham e fazem a sabotagem. O movimeno que era pacífico fica radicalizado, com a presença de mercenários, aparecem mortes, explosões, etc, etc.

    06 - O Governo líbio reprime para estancar o radicalismo, e passa a ser acusado. Os Estados Unidos entram na ONU para pedir proteção para a população civil na Líbia. A ONU autoriza criar uma zona de exclusão para defesa do pessoal civil. Mas, logo os Estados Unidos e Europa (OTAN) extrapolam o que fora prvisto legalmente pela ONU.

    07 - Assim, disfarçada em ajuda legal e de paz, reforçam os rebeldes que estavam perdendo e se instala uma guerra de agressão. As forças da OTAN apoiam os rebeldes mercenários para derrubar e matar Kadafi.

    08 - A OTAN bombardeia alvos civís, entre eles a casa da família Kadafi, e mata o filho mais novo (estudante) e dois netos de Kadafi, crianças. Mas, Kadafi resiste com apoio da população.

    09 - Agora, conforme o planejado, entram com processo contra Kadafi, junto ao Tibunal de Haia, com o obetivo de legalizar a morte de Kadafi. O motivo principal, morto não fala. A mídia internacional se encarrega de divulgar a versão dos invasores para o mundo.

    10 - O Tribunal de Haia, cuja balança de Têmis já desequilibrou outras vezes aceita o pedido. Agora, se tudo caminhar como o planejado, todos as mortes na Líbia serão debitadas na conta de Kadafi e seus aliados.

    Pronto, fica assim "justificada" a invasão, a tomada do dinheiro, do petróleo e das riquezas da Líbia. E no lugar de Kadafi colocarão qualquer fantoche, pode ser um príncipe da família do antigo rei deposto. Em seguida, com a mídia dominada, gritarão para o mundo que fizeram a defesa da população civil e que foi instalada uma democracia na Líbia. E ponto final.

    Francisco Solano de Lima
    JP/PB, 03-07-2011.

    ResponderExcluir

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista