15/01/2012
Do Com Texto Livre - domingo, 15 de janeiro de 2012
A situação no Oriente Médio aproxima-se rapidamente do ponto crítico e o início do conflito já aparece nas cartas. Isso, em resumo, foi o que disse Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança Nacional da Rússia (e ex-diretor do FSB, a organização que sucedeu a KGB) em entrevista à imprensa russa.
Patrushev é, sem dúvida, figura chave do establishment político e das relações internacionais russas. Ninguém duvida de que falou bem refletidamente, com o objetivo de enunciar a profunda ansiedade do Kremlin, ante a evidência de que o mundo está a poucos passos de uma conflagração no Oriente Médio, de consequências imprevisíveis no plano da segurança regional e internacional e da política mundial.
Patrushev, claro, tem acesso a inteligência de alto nível e falou baseado em dados que estão jorrando dos satélites e dos espiões e diplomatas russos. O Kremlin disparou um sinal de alerta.
As entrevistas foram dadas em idioma russo. Posso, portanto, reproduzir passagens. Patrushev disse:
“Há informações de que membros da OTAN e de alguns estados árabes do Golfo Persa, agindo pelo cenário que se viu na Líbia, trabalham para transformar a atual interferência nas questões internas da Síria em intervenção militar direta”.
Foi específico.
“As principais forças de ataque não serão francesas, nem britânicas nem italianas, mas, provavelmente, turcas”.
Disse que o primeiro passo será criar uma zona aérea de exclusão sobre a Síria, para criar um santuário em território sírio próximo da fronteira turca, para entrada de mercenários que possam ser apresentados como rebeldes sírios. Em resumo, é intervenção ocidental ao estilo “líbio”; e conduzida pela Turquia.
Patrushev disse que a escalada militar alcançará provavelmente também o Irã e há “real perigo” de ataque pelos EUA, destacando que tensões sobre a Síria, hoje, são, de fato, tensões relacionadas à questão iraniana. “Querem castigar Damasco, menos pela repressão à oposição e, mais, por a Síria ter-se recusado a romper relações com Teerã”.
Sobre a situação iraniana, Patrushev disse:
“Já se veem sinais de escalada militar no conflito, e Israel está empurrando os americanos para a guerra. Há perigo real de um ataque militar norte-americano contra o Irã. Nesse momento, os EUA veem o Irã como seu principal problema. Querem converter o Irã, de inimigo, em parceiro apoiador; e, para conseguir isso, o plano é mudar o atual regime, pelos meios necessários”.
E qual será a provável resposta dos iranianos? Patrushev avalia:
“Não se pode descartar que os iranianos sejam capazes de cumprir suas ameaças de suspender exportações do óleo saudita pelo Estreito de Ormuz [1], se sofrerem ataque militar direto”.
Patrushev também falou sobre as políticas dos EUA para Rússia, China e Índia.
Disse que os EUA estão “persistentemente buscando manter sua dominação econômica, política e militar no mundo”. Põe sob essa luz a instalação dos sistemas de mísseis antibalísticos dos EUA na Europa.
”Hoje, [a instalação dos mísseis antibalísticos] talvez não seja grave ameaça à Rússia, mas o objetivo daquela ação, no longo prazo, é reduzir nosso potencial estratégico. Pelo que sei, os planos para uma barreira global de mísseis de defesa norte-americanos também estão sendo negativamente avaliados em Pequim.”
“Apesar das mudanças radicais no alinhamento global de forças, como resultado da modernização, os EUA insistem em manter sua dominação econômica, política e militar em todo o mundo. No presente, é importante para os EUA eliminar o que veem como ameaças a essa dominação – e ameaças que vêm da China, como creem os EUA”. (...)
Como “amigo de muito tempo” da Índia, Patrushev, evidentemente, não falaria contra a abordagem dos indianos e as atitudes de “sedução” de Tio Sam. Em vez disso, falou da “vizinhança estendida” da Índia:
“Simultaneamente, os EUA buscam acesso direto aos recursos e às facilidades de transporte na vasta área do Cáucaso, do Cáspio e da Ásia Central. Há inúmeras declarações de políticos norte-americanos sobre a necessidade de pôr sob controle dos EUA a energia, a água e outros recursos da Rússia”.
Mas, apesar de tudo, Patrushev não ignorou a importância que Moscou dá às relações Rússia-EUA, porque “os EUA são líderes do mundo ocidental e, faça a OTAN o que fizer, as estratégias da OTAN são sempre modeladas em Washington”.
Além disso, “Nossos países [Rússia e EUA] têm vários e importantes interesses coincidentes em matéria de segurança. Por exemplo, estamos combatendo juntos contra o terrorismo, dentre outras coisas, ao tornar acessível a rota do norte, para atender as necessidades das forças dos EUA no Afeganistão; estamos enfrentando juntos o crime organizado e o comércio ilegal de armas, narcóticos e substâncias psicotrópicas, e cooperamos também na luta para manter a segurança das informações” – concluiu Patrushev, com boa dose do humor russo, ao acentuar o caráter profundíssimo da atual “parceria” entre Rússia e EUA.
Nota dos tradutores
[1] Sobre isso, ver 8/1/2012, “Geopolítica do Estreito de Ormuz: Marinha dos EUA pode ser derrotada pelo Irã no Golfo Persa?”, Mahdi Darius Nazemroaya, Global Research.
MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
Indian Punchline
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
No Redecastorphoto
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Pois é, se China, Rússia e Índia se encolherem, chegaremos mais cedo ao fim do poço, visto que as constantes ameaças veladas e explícitas por parte dos yanques, farão mais cedo ou mais tarde em partir para um enfrentamento em escala mundial! Aos senhores dirigentes dos demais países, repelindo a agressão covarde do imperialismo yanque pelo mundo afora!
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