20/04/2012
por Luiz Carlos Azenha
O deputado e delegado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) pretende pedir ao Conselho de Ética da Câmara a cassação dos deputados Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Rogério Marinho (PSDB-RN) por quebra de decoro parlamentar. Segundo imagens que obteve recentemente, gravadas pelo circuito interno da Câmara, Guerra indicou e Marinho destruiu um cartaz pedindo a CPI da Privataria Tucana que estava na porta do gabinete de Protógenes.
Será chumbo trocado, já que Guerra pediu a cassação de Protógenes ao Conselho de Ética por causa das gravações telefônicas obtidas durante a operação Monte Carlo, que flagraram o deputado comunista conversando com Dadá (ou Chico), o sargento da Aeronáutica Idalberto Matias Araújo. A denúncia contra Protógenes foi primeiro divulgada pelo Estadão. O deputado sustenta que herdou um relacionamento profissional com Dadá de quando o sargento atuou na Operação Satiagraha, como agente lotado na Agência Brasileira de Informações (ABIN). As gravações foram usadas numa tentativa de evitar que Protógenes fosse indicado para atuar na CPMI do Cachoeira, recém-instalada no Congresso, o que acabou acontecendo por decisão do PCdoB.
Em entrevista gravada esta noite, logo depois de desembarcar em São Paulo, Protógenes não descartou que por trás de Guerra esteja agindo um dos alvos da Operação Satiagraha, o banqueiro Daniel Dantas.
Pela lógica, um relacionamento comprometedor com Dadá seria motivo para Protógenes tentar evitar a CPMI, quando foi ele quem apresentou o requerimento inicial de convocação.
Protógenes diz que um de seus objetivos na CPMI do Cachoeira será investigar o financiamento de campanhas feito pela empreiteira Delta.
Para ele, a Operação Satiagraha, a CPMI do Cachoeira e a CPI da Privataria são ações “estruturantes” do Brasil. Protógenes está convicto de que a comissão de inquérito para apurar as privatizações da era tucana, baseada no livro do repórter Amaury Ribeiro Jr., será eventualmente instalada.
Protógenes diz que quando Dadá — que ele chama sempre de Idalberto — participou da Satiagraha, não sabia do envolvimento dele com o esquema de arapongagem de Cachoeira. Mas é óbvio que implicar Protógenes com malfeitos do sargento serve tanto a tucanos quanto a Daniel Dantas.
Sobre sua atuação na CPMI, o deputado diz que pretende demonstrar como os esquemas de Daniel Dantas e Carlinhos Cachoeira usavam métodos parecidos: arapongagem, corrupção de autoridades e um braço midiático.
O blog Cachoeira de Dados, um dos que fazem varredura na íntegra da Operação Monte Carlo — vazada na internet pelo deputado Miro Teixeira, no blog Lei dos Homens — vem relacionando os jornalistas e órgãos envolvidos com a quadrilha.
O post mais recente é sobre uma ligação telefônica com indícios de pagamento de 10 mil reais ao jornal goiano Diário da Manhã. Este é o jornal que chamou a atenção do Viomundo quando deu uma manchete que contradizia o conteúdo publicado. A manchete, em letras garrafais, se baseava em declaração segundo a qual não havia relação de políticos com o esquema do bicheiro Cachoeira. Texto assinado por procuradores, que o jornal publicou na mesma edição, dizia o contrário.
O jornal O Estado de Goiás, de Anápolis, também prestaria serviços a Cachoeira, assim como João Unes, do jornal digital A Redação, ex-repórter de O Estado de S. Paulo, ex-editor do jornal O Popular e da TV Anhanguera, da Organização Jaime Câmara, afiliada da Globo em Goiás e Tocantins.
O blog também registra a amizade de Cachoeira com o repórter Renato Alves, do Correio Braziliense. Há indícios de que a quadrilha do bicheiro teria usado uma pessoa identificada apenas como “rapaz do G” para plantar uma reportagem no Fantástico sobre bingos ilegais de concorrentes de Cachoeira (detalhes no Doladodelá e no Escrevinhador).
Os jornalistas esportivos Jorge Kajuru, da TV Esporte Interativo, e o narrador Alípio Nogueira, da Rádio Jornal, também foram citados. Kajuru teve um conversa dele com o contador de Cachoeira, Giovani Pereira da Silva — que está foragido — grampeada e Alípio tem o nome e a conta bancária citados numa conversa entre o contador Giovani e Carlinhos Cachoeira (o Nassif publicou uma relação de casos relativos a jornalistas de Goiás).
Mas Protógenes está mesmo interessado é nos peixes grandes, de projeção nacional, que teriam prestado serviço tanto a Daniel Dantas quanto a Carlinhos Cachoeira.
Na entrevista, o delegado explica como Dantas continua atuando na mídia e fala sobre indícios de pagamentos a jornalistas (clique abaixo para ouvir):
Curiosamente, por e-mail, recebi a dica de que o blog Quid Novi, do jornalista Mino Pedrosa — que já trabalhou para Cachoeira — publicou grampo clandestino entre o jornalista Leonardo Attuch e o investidor Naji Nahas no qual são citados os nomes de vários jornalistas. Na gravação Attuch sugere a Naji Nahas que processe, por exemplo, Paulo Henrique Amorim.
Pedrosa acusa Attuch de ser “pena comprada”, a serviço de Daniel Dantas e de Naji Nahas.
O blog de Mino Pedrosa é o mesmo que foi parar no Jornal Nacional, depois que vazou uma gravação clandestina em que o dono da Construtora Delta, Fernando Cavendish, fala sobre a compra de políticos. Nem a Folha de S. Paulo — que também tratou do assunto — nem o Jornal Nacional se deram ao trabalho de tentar investigar como a gravação — cuja transcrição já tinha sido divulgada anteriormente pela revista Veja – foi parar no blog de Pedrosa. Pedrosa não esclarece quem o abastece de grampos.
Fonte bem informada havia contado ao Viomundo que grampos surgiriam através do contador de Cachoeira, que está foragido e teria as gravações da usina de arapongagem do bicheiro guardadas em um cofre.
Talvez seja o caso do delegado Protógenes exigir uma CPI paralela.
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