22/04/2012
Enviado por luisnassif, dom, 22/04/2012 - 08:00
Coluna Econômica - 22/04/2012
O delegado Paulo Lacerda tinha tudo para ser um ícone do funcionalismo público. Funcionário exemplar, foi responsável pela transformação da Polícia Federal em uma organização eficiente e peça chave na luta contra a corrupção e o crime organizado.
A virada da PF foi o primeiro alento, para o cidadão comum, de que o crime organizado poderia ser combatido de forma eficiente pelo Estado.
Nomeado para a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), estava pronto a repetir o trabalho na PF e a dotar o Sistema Brasileiro de Inteligência (o SISBIN, a coordenação das diversas agências públicas no combate ao crime organizado) em uma organização exemplar.
Em 2007, junto com o general Félix, Ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) visitou os Estados Unidos atrás de modelos de atuação contra o terrorismo e o crime organizado, remodelado após os atentados de 11 de setembro.
Visitaram o Departamento de Defesa, a CIA, o Tesouro, o FBI e um novo órgão, o Departamento Nacional de Inteligência, criado justamente para supervisionar a ação dos demais e integrar as investigações.
Havia a necessidade de um supervisor similar no Brasil, capaz de coordenar as informações provindas da PF, da Receita, Banco Central, COAF, INSS etc. Como a ABIN é um órgão de inteligência,
Decidiram criar um Departamento de Integração do SISBIN dentro da Agência. Reformou-se um anexo da ABIN, instituíram-se concursos que trouxeram novos funcionários, de alto nível, definiu-se uma política de cargos e salários.
O DI ficou em um andar inteiro. Havia um imenso corredor, com um conjunto de salas, cada qual destinada a um órgão da SISBIN. Não havia ingerência da ABIN. Cada órgão indicava um funcionário para trabalhar seu banco de dados, sem obrigação de passar os dados para o grupo.
No fim do corredor, uma sala onde haveria reuniões diárias de todos para analisar as demandas e definir as estratégias de combate ao crime organizado.
Estava tudo pronto para começar, quando estourou a Satiagraha. E aí, uma ação conjunta de Daniel Dantas, da revista Veja, do então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e do Ministro da Defesa Nelson Jobim, destruiu o trabalho e atrasou em anos o avanço da luta contra o crime organizado.
Primeiro, foi a história do “grampo sem áudio” – o telefonema supostamente gravado entre Gilmar Mendes e o lugar-tenente do bicheiro Carlinhos Cachoeira, senador Demóstenes Torres -, repercutido com exclusividade pela Veja.
Depois – mais grave ainda – o falso alarme do STF de que teria havido escuta no órgão. Com base em um relatório que tecnicamente não comprovava escuta, homens de confiança de Gilmar abasteceram a revista – sempre a Veja - com falsas denúncias.
O terceiro tiro foi dado por Jobim que, com base em uma lista falsa, acusou a ABIN de dispor de equipamentos de escuta. A denúncia, mais uma vez, arquitetada com a Veja.
A soma de pressões obrigou ao afastamento de Paulo Lacerda e sua aposentadoria do serviço público.
Nesse período, a revista se aliou a dois esquemas barra-pesadas, o do Banco Opportunity e o de Carlinhos Cachoeira.
A CPI será uma boa oportunidade de passar essas histórias a limpo.
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