23/05/015
Enviado por luisnassif, qua, 23/05/2012 - 18:56
Por Weden
Há uma aposta um tanto quanto ingênua, por parte da grande imprensa, nos efeitos políticos do julgamento dos crimes eleitorais (caixa 2) e tráfico de influência, reunidos sob o nome midiático de "mensalão".
Primeiramente, um esclarecimento sobre a insistência em se designar esses crimes bastante comuns em nossa vida pública - e que precisam ser apurados - com um nome fantasia. Não é tanto pelo suposto "pagamento mensal a parlamentares da base de apoio", o que nunca foi provado.
Até porque seria estúpido acreditar que um governo com tão ampla aprovação tivesse que recorer à compra da própria base que o apóia. E pior: tivesse que comprar parlamentares do seu próprio partido.
O partilhamento de minsitérios, de cargos, a liberação de verbas de emendas do orçamento, tudo isso deposita sobre o governo da hora um enorme poder de barganha material em relação à base, e são os meios tradicionais e mais eficazes para manter a base unida.
Portanto, o "pagamento mensal" não existiu porque simplesmente não era necessário.
Não podemos dizer, no entanto, que não houve tráfico de influência e não houve caixa 2 de campanha (com pagamento por fora a posteriori). Houve e isso deve ser julgado.
Mas porque a imprensa não designa, portanto, estes crimes pelos nomes já tradicionalmente conhecidos? Simplesmente, pelo fato de que se assim o fizesse, o "mensalão" perderia sua aura de ineditismo, de prática diferenciada, de escândalo maior.
É como se, com o "mensalão", o governo Lula inaugurasse uma nova prática, no entanto, velha de guerra.
Dilma é Dilma
Daí que chegamos à escolha política do nome. È "mensalão" porque não pode ser confundido com práticas também encontradas nos governos anteriores. Se assim o fosse, perderia o efeito de mídia.
Mas, mesmo mantendo a designação, o efeito de mídia não pode ser confundido com o "efeito político" do julgamento.
Isso porque, para desalento daqueles que torcem pela "agenda do mensalão", nenhum resultado prático o julgamento terá sobre as próximas eleições ou sobre o governo Dilma.
Comecemos pelo governo atual.
A presidenta é uma personagem pós-mensalão. Ela assume a pasta da Casa Civil, justamente, depois do degredo de José Dirceu. Portanto, o governo atual, com Dilma à frente, está imune a qualquer insinuação de que tenha usufruído dos mal feitos da época.
É mais fácil Dilma perder popularidade pela alta do dólar do que por qualquer ilação que se faça sobre alguma coparticipação no escândalo de 2005.
Da mesma forma, o PT-governo pouco será atingido, justamente porque Dilma mantém uma boa autonomia em relação ao partido. Na percepção pública, Dilma é Dilma, PT é PT.
Lula no tempo mítico
Um outro efeito político do julgamento do mensalão seria colar em Lula a imagem de que foi o "presidente do mensalão". Nada mais inócuo na medida em que vai convencer os já convencidos. Para aferir: façam uma pesquisa de opinião dois meses após o julgamento e verão que a popularidade sedimentada de Lula continuará a mesma.
O ex-presidente entrou numa espécie de panteão político. Sua alta aprovação está cristalizada de tal forma, que mais parece ter pertencido a um tempo mítico, do que propriamente a um tempo histórico.
No auge das denúncias do "mensalão" (que se seguiram entre maio e dezembro de 2005), Lula chegou a descer a ladeira da aprovação até pouco menos de "40% de ótimo e bom". Mas, apesar de todos os ataques, ainda manteve mais de 30% de avaliação para "regular".
Isso foi em outubro.
Em janeiro, Lula tinha voltado às mesmas raias de aprovação de antes das denúncias. Como se nada tivesse acontecido.
Não é agora que ele vai sofrer efeitos do tal "mensalão".
Eleição de São Paulo
A última e mais imediata das esperanças dos que torcem por algum efeito político do julgamento do mensalão está concentrada sobre as eleições de São Paulo.
Desgastando Lula e o PT, desgastar-se-ia Haddad.
Pouco provável.
Isso porque o crescimento de Haddad está vinculado à capacidade de Lula e Dilma puxarem votos para o candidato petista. E, pelos motivos acima apresentados, nada sugere que esses dois personagens perderão suas forças até agora demonstradas.
O que pode derrubar Haddad é sua relação de empatia ou não empatia com o eleitorado; a eficácia ou não eficácia da campanha; ou o modo como as pessoas lembrarão dele no MEC.
O resto é espetáculo midiático. Para orgulho e dor da própria grande imprensa.
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