16/06/2012
Ilustração do ContrapontoPIG
Enviado por luisnassif, sab, 16/06/2012 - 11:01
Autor:
Luis Nassif
A grande dificuldade dos Catões é que precisam ter uma vida pública irrepreensível, caso contrário tornam-se vítimas das fogueiras que acendem.
Historicamente, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) é um grande Catão. Foi o primeiro a trazer à baila a suspeita do encontro, na Alemanha, do Ministro Gilmar Mendes com o senador Demóstenes Torres e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Depois, lançou a sombra da suspeição sobre todos os membros da CPI, ao insinuar que estava dominada por uma "tropa do cheque". Toda essa insinuação se baseou em um encontro, em Paris, de dois parlamentares com o presidente da Delta Construções - até então, uma das maiores empreiteiras do país. Pode ser que o encontro tenha sido fortuito, pode ser que para acertos. Mas o deputado, fiel às suas raízes jornalísticas, atirou primeiro e não perguntou.
Agora, revela-se que o advogado Miro Teixeira tem 200 cotas do escritório de advocacia Eduardo Ferrão (clique aqui, do Blog Amigos do Presidente Lula).
Como é de praxe, com os os Catões, a revelação sobre as atividades do advogado Miro Teixeira certamente despertaria no deputado Miro Teixeira suspeitas muito mais profundas do que um mero jantar em Paris entre figuras públicas.
Vamos às dúvidas suscitadas pela informação.
1. O fato de ter apenas 200 cotas do escritório não o absolve, pelo contrário: mostra-o como um colaborador eventual. No modelo dos escritórios de advocacia, o pagamento aos sócios independe de sua participação no capital total do escritório. As poucas cotas revelam que Miro era um colaborador para trabalhos específicos.
2. O escritório é um dos mais ativos participantes em dois dos maiores mercados advocatícios do país: demandas empresariais e escândalos federais. Disputa as maiores contas com Márcio Thomaz Bastos, Luiz Antonio Oliveira Lima e Kakai, entre poucos outros.
3. Miro não tem notável saber jurídico. Mas detem influência sobre os dois principais vetores de escandalização: as CPIs e a imprensa. Nas CPIs, participando praticamente de todas dos anos 90 para cá. Na imprensa, defendendo ideias caras à velha mídia: como a de que o direito de resposta compromete a liberdade de imprensa e a publicação de documentos secretos ou obtidos de forma criminosa é um direito do jornalista e um problema da fonte. Foi autor da iniciativa que acabou com a Lei de Imprensa e o principal guerreiro da Abril para evitar a CPI da TV A. Se houvesse um leilão para avaliar o político que todo escritório de advocacia especializado em escândalos brasilienses gostaria de ter, Miro seria o campeão.
Teoricamente (enfatizo: teoricamente) um deputado com esse poder de fogo poderia atuar das seguintes maneiras na área advocatícia:
1. Atacando grandes contas de suspeitos que não aceitassem contratar o escritório de advocacia ao qual o Catão é ligado. Como o implacável Miro poderia se voltar contra clientes do escritório do qual é sócio?
2. Sendo contratado pelo escritório depois de ter prejudicado alguns casos com suas catilinárias. O famoso cala-boca.
3. Atuando junto à mídia para desviar o foco do cliente do escritório ou para abrandar o fogo das acusações; e junto às CPIs para trazer informações relevantes ou desviar o foco.
Se o deputado Miro Teixeira fosse incumbido de analisar o papel do advogado Miro Teixeira, quais seriam as suspeitas? Enfatizo: apenas suspeitas que precisam ser investigadas, não sentenças definitivas. Mas, repito, se o episódio fosse submetido à leveza com que o deputado Miro ataca reputações alheias (independentemente de serem ou não virtuosas), haveria as seguintes suspeitas:
1. Está claro que o alvo de suas ações é a Delta Engenharia. É uma boa batalha política: todos estamos curiosos em saber a extensão da atuação da Delta. Mas, por outro lado é o bolo mais disputado pelos grandes escritórios de advocacia, o maior pacote advocatício da República dos escândalos desde o caso Opportunity. Pergunta: o escritório Ferrão atua em alguma ponta? Tentou se aproximar da Delta e foi rechaçado? Qual o quinhão do bolo com que o escritório foi contemplado, se é que foi?
2. O escritório Ferrão foi defensor de Fernando Sarney em um episódio que começou em 2008. O deputado Miro Teixeira foi um dos mais férreos denunciadores de Fernando Sarney. Na época, Miro já era sócio do escritório ou a sociedade foi celebrada depois apenas?
3. Quais os pagamentos efetuados até agora pelo escritório a Miro Teixeira, e referentes a quais trabalhos? São questões mais cabulosas do que meros encontros em Paris, convenhamos, na certeza de que o deputado Miro Teixeira terá elementos concretos para absolver o advogado Miro de todas as suspeitas.
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