Do Blog do Miro - 27/6/2012
Por Renato Rabelo, em seu blog:
“Grande imprensa” e “formadores de opinião”, além de eventuais “acadêmicos de aluguel”, assacam contra a democracia de forma uníssona e se apoiam no conceito de “democracia representativa” para legitimar a ação golpista no Paraguai. Mas o movimento é de maior alcance e se encontra diretamente com os interesses do imperialismo na região, notadamente na utilização deste episódio para desgastar tanto as experiências progressistas como o da Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina, como a política externa do governo brasileiro.
Merval Pereira, colunista de O Globo, sintetiza esta estratégia em artigo publicado em seu jornal sob o título “Governo brasileiro está a reboque de Chávez”. Em suma, o pensamento que ele apresenta nada mais é do que a reafirmação de sua posição ideológica contra as experiências avançadas de democracia na América Latina, em que presidentes foram eleitos pelo povo de seus respectivos países.
A democracia representativa deve mesmo ser alvo de defesa, conforme sublinarmente atesta o jornalista. Mas o papel desta democracia, com todos os limites possíveis, está essencialmente na salvaguarda dos elementares direitos de defesa de qualquer cidadão. Este é o ponto, pois em menos de dez horas iniciou-se e encerrou-se um processo contra um presidente legitimamente eleito, sem o menor direito de defesa. E o direito de defesa é um direito humano básico.
Fazer uma defesa conservadora da democracia representativa só é possível com a completa abstração de elementos essenciais à análise da realidade. É desta forma que procede esse verdadeiro monopólio da comunicação num país como o Brasil. Existe toda uma dinâmica das classes sociais no Paraguai expressa no fim deste processo. Existem interesses anexos que vão desde o imenso monopólio da terra exercido por 2% da população, o monopólio da informação e os próprios interesses estratégicos do imperialismo que não são poucos. Exemplo disto está numa ideia central difundida pelos golpistas da necessidade de "dolarizar" a economia paraguaia, o que em outras palavras, significa "recolonizar" o país, fazendo-o retroceder 200 anos em sua história.
Tudo isso forma um caldo de caráter fascista e antinacional nada desprezível e com uma força política capaz de dobrar mais de 90% de um parlamento, em uma democracia frágil e onde a capacidade de organização popular ainda dá seus primeiros passos.
Para nós não existe espaço para defensiva no debate de ideias que deve se prolongar por conta deste triste episódio. O governo brasileiro vai tomando suas medidas e outros países membros do Mercosul também colocam-se em alerta máximo para que esta iniciativa golpista não se imponha contra os tratados assinados nesta importante instância de articulação política, comercial e econômica do Cone Sul. O momento é de claro enfrentamento político.
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