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03/02/2014
A cidadania e a pluralidade na informação
Rodolpho Motta Lima
Li, aqui no DR, um comentário formulado a propósito de artigo de um
dos meus colegas colunistas, em que um leitor se diz totalmente
refratário a levar em consideração tudo o que vem, sob a forma de
notícia, das Organizações Globo. Com palavras candentes, ele afirma
que não lê, não vê e não compartilha com ninguém as informações
produzidas na “Vênus Platinada”, comportamento que estende, nesse caso ,
ao que provém do Estadão, da Folha e da Veja.
Entendo perfeitamente essa postura, diante de um tipo de jornalismo
que também me parece pautado e direcionado para interesses políticos
e/ou econômicos bem definidos.
Contudo, não deixo de ler o Globo, ouvir a CBN e os noticiários da
Globo News e da Globo aberta. Faço-o porque acho importante ouvir/ler os
argumentos dos arautos de uma visão econômica oposta à minha, calcada
no privilégio do mercado e na conveniente (para eles) defesa de um
Estado mínimo, ou seja, um Estado que deixe livre as raposas no
galinheiro do lucro, da exploração e da despreocupação com programas
sociais.
É claro que busco também – e com a mesma frequência – leituras e
notícias que não trafegam nesses veículos, a não ser superficialmente.
Sei que nenhum brasileiro pode se considerar legitimamente informado se
não procurar, neste país de mídias hegemônicas, informações e análises
alternativas.
Com o fortalecimento da internet como meio de circulação da
informação, temos, felizmente, se quisermos, todas as possibilidades de
não engolirmos gato por lebre. E, no meu caso, quanto mais leio, vejo ou
ouço esse tipo de mídia criticado pelo leitor, mais percebo o nível
seletivo de suas “informações”, o aspecto manipulador que cerca o seu
“jeito” de abordar os fatos noticiados ou passar por cima do que não
consulte os seus interesses. E, cá para nós, cada vez fortaleço as
minhas convicções...
Estamos entrando em um ano de turbulência previsível no campo
político, por causa das eleições. Um cidadão consciente tem obrigação
de buscar as notícias e as análise dos fatos, estejam onde estiverem.
Os que não fazem assim acabam assumindo a “tática do avestruz” e ficam
na confortável (?) situação de, dogmaticamente, acreditarem em tudo que
lhes é informado por esse jornalismo a que, na maioria das vezes, falta
a indispensável pluralidade, inflado de profissionais que, fiéis à
ideologia patronal, parecem esquecer a sua verdadeira missão.
Isso tudo vem a propósito da verdadeira blindagem que essa imprensa
pratica em torno de certos fatos que, se tivessem como atores principais
o pessoal ligado ao Governo Federal, mereceriam horas e horas de
“jornalismo investigativo”, do tipo que até hoje alimenta avidamente o
assunto “mensalão”.
Desculpem-me, aqui, os indignados leitores que desfilam seus
comentários recheados de “petralhas corruptos”, “políticos canalhas”,
“ladrões do dinheiro público”, membros de “uma grande e fétida
esquerdona” quando se referem a um segmento da política nacional, mas
que se calam diante de episódios que são, muitos deles, mais vergonhosos
do que os que eles dizem combater.
Circulam no Brasil, para quem quiser ler, pelo menos dois livros que
apontam, com riqueza de detalhes documentados, diversos fatos (e
valore$) pretensamente fraudulentos vinculados aos governos que
precederam os do PT. Constituem material que, no mínimo, mereceriam uma
boa pesquisa dos bravos “repórteres investigativos” hoje preocupados
com a lisura de um jantar da Presidenta... Esses fatos teriam a ver
com escândalos e negócios que, se confirmados, transformariam o
mensalão apregoado em uma brincadeira de crianças, tal a dimensão das
agressões que teriam sido cometidas contra os cofres públicos.
Raciocinemos: se o que está dito ali é mentiroso, não seria uma
excelente oportunidade para o pessoal do jornalismo patronal fazer um
brilhareco com os seus patrões e trazer a público a verdade que
redimiria os acusados? E isso não seria ótimo para os projetos políticos
tucanos, sabidamente atrelados aos globais?
O mensalão mineiro não só antecedeu o petista, mas criou o know-how
“valeriano” que o ensejou. O do PSDB é anterior ao do PT, mas não foi
julgado. Os indignados leitores das cartas do “Globo” e de outras
manifestações não têm nada a dizer a respeito?
E o problema do já apelidado “tremsalão”, que trafega pelas vias
tucanas de São Paulo há quase 20 anos, cheio de indícios de fraude?
Nenhum dos intrépidos profissionais da mídia corporativa vai fundo nessa
história, em nome da moralidade?
Um helicóptero de um senador ligado a um candidato que a mídia quer
eleger é flagrado com um carregamento de maconha e a notícia vai
minguando, minguando, passando por um piloto responsável, até cair no
esquecimento. Ninguém quer comentar nem investigar?
Há notícias veiculadas na internet sobre fraudes fiscais que,
corrigidas, chegam a um bilhão de reais, e que teriam sido cometidas por
gente dessa mídia tão moralista. Podem até não ser verdadeiras, mas a
mídia “nanica” apresenta farta documentação a respeito e cobra uma
resposta. E o pessoal paladino da ética, das caras e bocas dos grandes
jornais nacionais, ninguém se habilita a apurar?
Denuncia-se agora na internet que o então Presidente do Supremo
teria engavetado documentos que poderiam ter mudado o desfecho do
mensalão. Alguém na mídia tradicional quer apurar isso?
Aqui não estou inventando fatos, nem mesmo afirmando que sejam
verdadeiros. Considero, isso sim, o pouco ou nenhum desejo de apurá-los
por parte de um pessoal que, ao contrário, vive farejando possíveis maus
passos do Governo.
Ao ler/ouvir/ver diariamente a opinião publicada da grande mídia
desse país e, também, a perseverante mídia menor da internet – que faz o
possível para trazer à tona fatos que ficam escondidos da opinião
pública - , apenas me convenço de que há muita hipocrisia grassando por
aí, disfarçada de indignação moralista. Cenário que, aliás, já serviu a
outros filmes de final perverso na história deste país.
Rodolpho Motta Lima. Advogado
formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil)
e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado
pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de
Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente
no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
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