segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Contraponto 13.195 - "A cidadania e a pluralidade na informação"

 .
03/02/2014

A cidadania e a pluralidade na informação

 

Do Direto da Redação - Publicado em 31/01/2014

 


Rodolpho Motta Lima


Li, aqui no DR, um comentário formulado a propósito de artigo de um dos meus colegas colunistas, em que um leitor se diz totalmente refratário a levar em consideração tudo o que vem, sob a forma de notícia, das Organizações Globo.    Com palavras candentes, ele afirma que não lê, não vê e não compartilha com ninguém as informações produzidas na “Vênus Platinada”, comportamento que estende, nesse caso , ao que provém do  Estadão, da Folha e da Veja.

Entendo perfeitamente essa postura, diante de um tipo de jornalismo que também me parece pautado e direcionado para interesses políticos e/ou econômicos bem definidos.
Contudo, não deixo de ler o Globo, ouvir a CBN e os noticiários da Globo News e da Globo aberta. Faço-o porque acho importante ouvir/ler os argumentos dos arautos de uma visão econômica oposta à minha, calcada no privilégio do mercado e na conveniente (para eles) defesa de um Estado mínimo, ou seja, um Estado que deixe livre as raposas no galinheiro do lucro, da exploração e da despreocupação com programas sociais.

É claro que busco também – e com a mesma frequência – leituras e notícias que não trafegam nesses veículos, a não ser superficialmente. Sei que nenhum brasileiro pode se considerar legitimamente informado se não procurar, neste país de mídias hegemônicas, informações e análises alternativas.

Com o fortalecimento da internet como meio de circulação da informação, temos, felizmente, se quisermos, todas as possibilidades de não engolirmos gato por lebre. E, no meu caso, quanto mais leio, vejo ou ouço esse tipo de mídia criticado pelo leitor, mais percebo o nível seletivo de suas “informações”, o aspecto manipulador que cerca o seu “jeito” de abordar os fatos noticiados ou passar por cima do que não consulte os seus interesses. E, cá para nós, cada vez fortaleço as minhas convicções...  

Estamos entrando em um ano de turbulência previsível no campo político, por causa das eleições. Um cidadão  consciente tem obrigação de buscar as notícias e as análise dos  fatos, estejam onde estiverem. Os que não fazem assim acabam assumindo a “tática do avestruz” e ficam na confortável (?) situação de, dogmaticamente, acreditarem em tudo que lhes é informado por esse jornalismo a que, na maioria das vezes,  falta a indispensável pluralidade, inflado de profissionais que, fiéis à ideologia patronal, parecem esquecer a sua verdadeira missão.

Isso tudo vem a propósito da verdadeira blindagem que essa imprensa  pratica em torno de certos fatos que, se tivessem como atores principais o pessoal ligado ao Governo Federal, mereceriam horas e horas de “jornalismo investigativo”, do tipo que até hoje alimenta avidamente o assunto “mensalão”.

Desculpem-me, aqui, os indignados leitores que desfilam seus comentários recheados de “petralhas corruptos”, “políticos canalhas”, “ladrões do dinheiro público”, membros de “uma grande e fétida esquerdona” quando se referem a um segmento da política nacional, mas que se calam diante de episódios que são, muitos deles, mais vergonhosos do que os que eles dizem combater.

Circulam no Brasil, para quem quiser ler, pelo menos dois livros  que apontam, com riqueza de detalhes documentados, diversos fatos (e valore$) pretensamente fraudulentos vinculados aos governos que precederam os do PT.  Constituem material que, no mínimo, mereceriam uma boa pesquisa dos bravos “repórteres investigativos” hoje preocupados com a lisura de um  jantar  da Presidenta... Esses fatos teriam a ver com escândalos e negócios que, se confirmados,  transformariam o mensalão apregoado em uma brincadeira de crianças, tal a dimensão das agressões que teriam sido cometidas contra os cofres públicos. Raciocinemos: se o que está dito ali é mentiroso, não seria uma excelente oportunidade para o pessoal do jornalismo patronal fazer um brilhareco com os seus patrões e trazer a público a verdade que redimiria os acusados? E isso não seria ótimo para os projetos políticos tucanos, sabidamente atrelados aos globais?

O mensalão mineiro não só antecedeu o petista, mas criou o know-how “valeriano” que o ensejou. O do PSDB é anterior ao do PT, mas não foi julgado. Os indignados leitores das cartas do “Globo” e de outras manifestações não têm nada a dizer a respeito?

E o problema do já apelidado “tremsalão”, que trafega pelas  vias tucanas de São Paulo há quase 20 anos, cheio de indícios de fraude? Nenhum dos intrépidos profissionais da mídia corporativa vai fundo nessa história, em nome da moralidade?

Um helicóptero de um senador ligado a um candidato que a mídia quer eleger é flagrado com um carregamento de maconha e a notícia vai minguando, minguando, passando por um piloto responsável, até cair no esquecimento. Ninguém quer comentar nem investigar?

Há notícias veiculadas na internet sobre fraudes fiscais que, corrigidas, chegam a um bilhão de reais, e que teriam sido cometidas por gente dessa mídia tão moralista. Podem até não ser verdadeiras, mas a mídia “nanica” apresenta farta documentação a respeito e cobra uma resposta. E o pessoal paladino da ética, das caras e bocas dos grandes jornais nacionais, ninguém se habilita a apurar?

Denuncia-se agora na internet que o então  Presidente do Supremo teria engavetado documentos que poderiam ter mudado o desfecho do mensalão. Alguém na mídia tradicional quer apurar isso?

Aqui não estou inventando fatos, nem mesmo afirmando que sejam verdadeiros. Considero, isso sim, o pouco ou nenhum desejo de apurá-los por parte de um pessoal que, ao contrário, vive farejando possíveis maus passos do Governo.

Ao ler/ouvir/ver diariamente a opinião publicada da grande mídia desse país e, também, a perseverante mídia menor da internet – que faz o possível para trazer à tona fatos que ficam escondidos da opinião pública - , apenas me convenço de que há muita hipocrisia grassando por aí, disfarçada de indignação moralista. Cenário que, aliás, já serviu a outros filmes de final  perverso na história deste país. 


Rodolpho Motta Lima. Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.

.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista