quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Contraponto 15.952 - "A histeria de gritar golpe pra tudo não ajuda em nada"

 

04/02/2015 

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A histeria de gritar golpe pra tudo não ajuda em nada

 
Por Revista Forum - fevereiro 3, 2015 08:42 
 
 
Renato Rovai  

Lá na Baixada Santista dos anos 70, Dona Conceição dizia para o neto mais velho:

- Para de ficar brincando com coisa séria, porque na hora quer for verdade ninguém acredita.

A história de ficar gritando golpe para tudo corre o risco de se tornar algo assim. A oposição brasileira não é exatamente um doce de coco e nem tão republicana e democrática como se autointitula, mas também está longe de ser um bloco golpista homogêneo.

A mídia tem interesses diferentes do setor financeiro, que tem diferentes posições da turma liderada pelo Paulinho da Força ou pelo PSDB e o eterno FHC e que não tem nada a ver com as críticas ao PT e a Dilma dirigidas por Marta Suplicy.

A eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara tem mais a ver com a inépcia de Dilma e de alguns dos seus principais articuladores em fazer política mais miúda do que com qualquer outra coisa.

A história revelada pelo ex-senador Eduardo Suplicy de que buscou uma audiência com a presidenta Dilma durante um ano é bastante reveladora disso. A descortesia a Suplicy é daquelas atitudes que só podem ser atribuídas ao inexplicável e à falta de tato político e consideração humana mínima. Dilma, infelizmente, é boa nisso.

Numa entrevista que este blogueiro realizou com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que apoiou Marina no primeiro turno e Aécio no segundo, ele se revelou também magoado por durante os quatro anos de mandato nunca ter sido recebido a sós numa audiência com a presidenta.

Esse tipo de coisa conta muito numa votação como a que levou Eduardo Cunha a meter um 7 a 1 no PT e em Chinaglia.

Por isso, engana-se quem considera que foi Arlindo Chinaglia ou o PT que tiveram apenas 136 votos na Câmara. Foi Dilma e alguns dos seus ministros que não têm, digamos assim, o queridismo do plenário que levaram a goleada.

Há quem registre que houve uma melhora na relação com o Congresso, mas os parlamentares entenderam como algo de última hora. E decidiram mostrar que exigem mais respeito pela posição que ocupam.

Ao mesmo tempo, a presidência de Eduardo Cunha não é uma carta branca pra ele fazer o que quiser na Casa. Por isso esse discurso de golpismo é açodado e pouco eficiente. O governo precisa fazer a lição de casa e conversar muito. E Dilma precisa se convencer de que terá de colocar as sandálias da humildade e ouvir muito.

Ouvir cada vez mais deputados e senadores de todos os cantos e não ficar achando que colocando um líder daqui e outro dali no seu ministério resolve o problema.

Na política, os detalhes importam muito mais do que parecem. Deputado federal é alguém que já foi vereador, prefeito, deputado estadual e às vezes até senador e governador. Ou ainda é um grande empresário ou um líder social importante. Ele quer falar, dar ideias, ouvir o presidente lhe dizer que aquilo é de fato muito interessante.

Quer tirar foto e mostrar pra sua base que estava com a presidenta da República defendendo seu segmento ou sua região. E Dilma não parece disposta a lhes dar nem esse carinho.
Isso é o mínimo.

Claro que ele quer cargos e poder, quanto mais ele se sentir menos prestigiado, mais cargos ele vai exigir.

Se a pequena política for bem feita e o governo souber administrar o país com seriedade e dialogando também com os movimentos sociais, mesmo com esse Congresso conversador e com essa mídia (aí sim) golpista, o tal golpe não ganha pernas.

Por isso, a bola ainda está com o governo. Eduardo Cunha na presidência da Câmara deixa as coisas mais difíceis, mas ele é apenas um detalhe.

Isso não quer dizer que um risco de impeachment esteja completamente descartado. A questão é que ele deve ser acusado na hora certa. E não a qualquer momento e como um grito de guerra de torcida organizada. Até porque quando a coisa for séria,  corre-se o risco de ter tornado o assunto algo corriqueiro.
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