quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Contraponto 15.951 - "A boa escolha de Mangabeira Unger"

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04/02/2015

A boa escolha de Mangabeira Unger

 





Luis Nassif

A indicação de Roberto Mangabeira Unger para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República é a primeira boa novidade do governo Dilma Rousseff.

A Secretaria é para desenhar o futuro, para criar sonhos, até utopias que tirem o governante das limitações do dia a dia e o façam olhar o futuro.

No governo Lula, a recém criada Secretaria foi dirigida por dois peso pesados, o próprio Mangabeira e o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. O primeiro ato de Dilma foi reduzir a Secretaria a pó, com a indicação de Moreira Franco. Em 2013 corrigiu parcialmente o erro e resolveu colocar um Secretário que olhava o presente, Marcelo Néri, que se notabilizou por ser a única voz da Fundação Getulio Vargas a avalizar as políticas sociais.

Sob sua direção, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) saiu das mãos de Márcio Pochmann, perdendo a vitalidade para pensar o novo.

A SAE se meteu em estudos recorrentes sobre a miséria e a nova classe média, relevantes mas apenas um exercício de prospecção do presente, além de servir de vitrine para enriquecer o currículo de Neri.

A primeira página de hoje do site www.sae.gov.br, aliás, traz como manchete principal relevante encontro de Neri com a rainha Máxima, da Holanda. Depois, as sub-manchetes "Neri debate crescimento inclusivo com líderes mundiais", "Em Davos, Neri participa de debates sobre prioridades dos Brics", "Neri fala sobre os principais desafios estratégicos brasileiros em Davos", e dois vídeos de Neri falando alguma coisa.

Mangabeira tem currículo de sobra: é um dos intelectuais brasileiros mais reputados no mundo, além de professor da mais afamada escola de direito do planeta, a de Harvard.

Na sua primeira passagem pelo cargo, Mangabeira substituiu o coronel Oliva, o primeiro a tentar implementar um projeto estratégico, através do Brasil em Três Tempos. Oliva recorreu a uma metodologia extraordinariamente sofisticada, convocou acadêmicos de todo país para alimentar o plano com trabalhos setoriais. Mas acabou criando mais um trabalho acadêmico, sem vínculo com o dia a dia.

Ao assumir, Mangabeira mudou o estilo. Passou a atuar como propagandista (na melhor definição do termo) das boas ideias que ia captando em cada Ministério. Com elas, montava uma espécie de puzzle de um padrão tropical de potência. Ou seja, a ideia da nação ia surgindo a partir da explicitação de projetos.

Se ficar debaixo dele o IPEA e a CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) - que, aliás, fez um levantamento precioso de estudos sobre os diversos temas do desenvolvimento -, pode ser que tire o governo Dilma da aridez desértica de ideias em que se encontra.
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