sábado, 7 de fevereiro de 2015

Contraponto 15.982 - "Dupla de ouro do BB poderá resgatar a Petrobras?"

O mercado, no entanto, não pensou como Mendonção, e reagiu com uma derrubada de 7% nas ações da companhia, que nas vésperas haviam subido mais de 15%. É claro que desequilibraram o jogo limpo, nessa gangorra, os pesos pesados da mais grossa especulação, mas boa parte do mergulho se deu porque muitos sonhavam com a indicação dos ultra-ortodoxos-privatistas Roger Agneli ou Paulo Leme – ou talvez com Henrique Meirelles. Diante dessas hipóteses, de fato, a nomeação de Bendine está vai na contramão. O que não significa que ele não tenha chances de cumprir sua missão de sanear a maior estatal brasileira.

Ao lado do vice-presidente de Finanças Ivan Monteiro, o novo presidente da maior companhia brasileira recuperou, no comando do Banco do Brasil, a liderança do ranking brasileiro para o BB, cresceu em ativos, clientes e concessão de crédito e não inchou em número de funcionários. Nas mais diferentes frentes do mercado, o BB vem jogando de igual para igual com as instituições privadas, mantendo-se sempre nas primeiras posições de desempenho.

Alinhados com os principais pontos da política econômica dos anos Lula-Dilma, Bendine e Monteiro têm o reconhecimento do mercado por terem deixado o BB longe de crises e em crescimento num momento de dificuldades dos mais variados tipos.

Agora, na Petrobras, os desafios são incomparavelmente maiores. A dupla assume sem a companhia de outros diretores, que terão de ser escolhidos para áreas altamente especializadas como prospecção, tecnologia e distribuição. Haverá, é certo, forte impacto entre funcionários da companhia, cujo espírito de corpo é um dos mais fortes do setor público brasileiro. As resistências, por isso, já são esperadas, mas nunca se sabe até onde podem chegar seus efeitos.

Como vantagem para Bendine e Monteiro está o estilo discreto de administrar. Ambos não são dados aos holofotes e podem, neste momento, suavizar, com sua discrição, o peso do noticiário negativo sobre a empresa.

O maior nó da estatal, e também o mais imediato, é o da publicação de um balanço crível, que registre perdas com o escândalo de corrupção investigado pela operação Lava Jato. Fala-se num buraco de até R$ 4 bilhões entre contratos superfaturados e pagamentos ilícitos a um longo rol de beneficiados. O presidente e o vice de Finanças que deixam o Banco do Brasil têm assinado balanços trimestrais da instituição, nos últimos anos, sem levantar qualquer dúvida do mercado. 

Demonstrações, de resto, que vêm apresentados resultados seguidamente melhores. Enfrentada essa missão, as demais, passando a ser a primeira a recuperação do caixa da companhia, poderão começar a ser resolvidas.

Abaixo, notícias da agência Reuters sobre a escolha de Bendine e Monteiro para a Petrobras:


CEO da Petrobras do setor bancário demanda diretoria técnica

Por Marta Nogueira e Gustavo Bonato

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A indicação de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras, um executivo com perfil do setor bancário, vai demandar a nomeação de diretores qualificados, com experiência no setor de petróleo, para comandar importantes diretorias da petroleira ainda sem definição.

Além de estar entranhada em um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil, a Petrobras vive um cenário de preços de petróleo em queda, com as maiores petroleiras do mundo cortando custos, renegociando contratos e reduzindo investimentos.

A empresa tem um ambicioso plano bilionário para elevar a produção nos próximos anos, principalmente em áreas desafiadoras, como a camada pré-sal.

"Quem cuidaria das questões técnicas seriam os diretores, que nós não sabemos quem são. Se os diretores tiverem o mesmo perfil (de fora do setor de petróleo), vai ser um desastre", disse o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e consultor John Forman.

Bendine, atual presidente do Banco do Brasil, substituirá Maria das Graças Foster, que renunciou ao cargo nesta semana, segundo três fontes do governo disseram à Reuters nesta manhã.

O Conselho de Administração da Petrobras está reunido nesta sexta para eleger um nome indicado pela Presidência da República para ocupar a cadeira de presidente-executivo da petroleira.

Além de Bendine, o Conselho apontará o atual vice-presidente financeiro do BB, Ivan Monteiro, para a diretoria de Finanças da Petrobras.

Investidor da Petrobras deveria prestar atenção em Ivan Monteiro

Por Aluísio Alves

SÃO PAULO (Reuters) - A primeira reação negativa de investidores à migração de Aldemir Bendine da presidência do Banco do Brasil para a da atribulada Petrobras pode ser equivocada. Não por sua reputação com investidores, mas pela de seu vice-presidente de Finanças no BB e agora na Petrobras, Ivan Monteiro.

Se o BB chegou ao final do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff alheio à crise de confiança que se abate sobre outras estatais federais como Eletrobras, Correios, Caixa Econômica Federal, BNDES e a própria petroleira, muito se deve à habilidade de Monteiro de ser um interlocutor confiável e respeitado pela comunidade financeira, inclusive por rivais.

Quando Antonio Francisco de Lima Neto foi removido da presidência do BB no fim de 2009 por desobedecer a ordem do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar a oferta de crédito no meio de uma crise global, o mercado temeu que o sucessor Bendine atenderia o controlador às custas da rentabilidade do banco.

Essa percepção cresceu quando o BB foi instado a salvar o fragilizado Banco Votorantim, logo em seguida. E voltou à tona quando Dilma mandou os bancos estatais de novo para o ataque para tentar tirar a economia doméstica do caminho da recessão.

O BB recuperou o topo do ranking bancário, brevemente perdido após a fusão que criou o Itaú Unibanco, no fim de 2008, e ganhou largas fatias de mercado no crédito, com estrago controlado sobre a lucratividade.

Se o BB conseguiu resolver a complicada equação de obedecer o governo sem desafiar os investidores, isso se deveu em grande parte à autonomia que Monteiro recebeu de Bendine para fazer o que tinha que ser feito, mas com custo mínimo e retorno máximo.

Assim, quando o BB anunciou em 2012 o conjunto de medidas para promover o crédito "Bompratodos", atendendo a ordem do governo de ofertar taxas menores de juros, a iniciativa veio acompanhada de tarifas de serviços que, na prática, eram maiores do que as dos rivais.

Algumas das habilidades de Monteiro, no entanto, trilharam caminhos menos glamourosos. Para sanear o Banco Votorantim, o BB cortou 40 por cento dos funcionários do grupo, de quem tem metade das ações. O antigo estatal paulista Nossa Caixa, de quem o BB comprou o controle, também passou por ajustes leoninos.

Para não perder o passo dos rivais privados, mergulhados numa campanha feroz de ganho de produtividade, o BB passou a ser mais assertivo no estabelecimento de metas internas. Mesmo crescendo rápido nos ativos, o total de funcionários caiu de 114,2 mi para 111,9 mil do fim de 2012 até setembro passado. No mesmo período, o quadro da Caixa passou de 89,7 mil para 100 mil.

"É um técnico muito competente e muito sério", diz um alto executivo de um dos maiores bancos privados do país. "Não fosse ele, o Banco do Brasil teria virado a Caixa."

Naturalmente, o caminho adotado pelo BB desagradou outros públicos, como os sindicatos de trabalhadores. Se a lógica se repetir, cortes profundos de custos virão para a Petrobras nos próximos anos.

Pode ser nessa habilidade de equilibrar demandas políticas e de mercado que Dilma agora aposta para tentar tirar da lama a petroleira, cujos males de hoje resultam em parte no fato de ter tido um engajamento maior com os interesses do governo federal.

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