04/03/2016
Delação inexistente vira fato consumado na mídia
Brasil 247 - 4 de Março de 2016 às 05:34
O golpe dos meios de comunicação engajados na derrubada da
presidente Dilma Rousseff está dado; ele consiste em transformar em fato
consumado uma "delação premiada" que não aconteceu; mesmo tendo sido
negada ontem pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) e destacada nas
manchetes do Uol (portal do grupo do Folha) e do Estadão Online na noite
de ontem; hoje ela ganha ares de delação real nas edições impressas do
Globo, da Folha e do Estado; ou seja: mesmo que seja apenas um pedaço de
papel apócrifo, não reconhecido nem pelo "delator" nem por seus
advogados, a "delação" será usada pelos jornais na tentativa de, assim
como em 1964, mudar a história política do País; nesse quadro sombrio, o
que irá prevalecer: o jogo bruto da mídia e de seus interesses
econômicos ou a ordem jurídica?
247 – Os jornais
brasileiros, que em 1964 se uniram para apoiar uma ditadura militar no
País e hoje estão engajados na derrubada do governo da presidente Dilma
Rousseff, abriram suas cartas nesta sexta-feira. O jogo – ou melhor, o
golpe – consiste em transformar em fato consumado uma delação
inexistente.No entanto, a ordem unida dos três principais jornais do País, Globo, Folha e Estado (repita-se, três apoiadores do regime militar de 1964) é tratar como verdadeira a delação que não houve.
Eis as manchetes:
Globo – Delação de Delcídio põe Dilma no centro da Lava-Jato.
Folha – Ex-líder do governo liga Dilma e Lula à Lava Jato, e oposição pede renúncia.
Estado – Delcídio acusa Dilma e Lula na Lava Jato e agrava crise política.
Uma delação premiada é um documento jurídico claro. Trata-se de um acordo, assinado pelo delator, por seus advogados e pelo Ministério Público na presença de um juiz.
Sem isso, trata-se apenas de um pedaço de papel apócrifo, como foi definido pela presidente Dilma Rousseff (leia aqui).
A suposta delação de Delcídio, como demonstrou o colunista Paulo Moreira Leite (leia aqui), pode ser um documento forjado ou até uma eventual proposta de colaboração que não foi concretizada. É possível que, quando esteve preso, e sob intensa coerção psicológica, Delcídio tenha cogitado delatar. No entanto, ele não o fez, porque foi solto pelo ministro Teori Zavascki, que avaliou que sua prisão preventiva, após a apresentação da denúncia, havia se tornado desnecessária. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também tratou a "delação" de Delcídio como um fato jornalístico – e não jurídico.
Torturando a realidade
O jogo dos meios de comunicação, que representam poderosos interesses econômicos, será agora forçar de qualquer maneira o senador Delcídio a transformar um pedaço de papel apócrifo numa delação real.
Essa estratégia, no entanto, encontra dificuldades. Na defesa verdadeira apresentada por Delcídio, ele próprio se assumiu como um bravateiro. Disse que no famoso diálogo que o levou à prisão, gravado por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, ele dizia bravatas em relação ao banqueiro André Esteves, que foi preso, e também em relação aos ministros do Supremo Tribunal Federal, sobre os quais dizia ter grande influência.
Ora, se Delcídio admitia dizer bravatas em relação a um banqueiro e a todos os ministros do STF, porque não faria o mesmo em relação à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula, numa eventual situação de desespero?
O fato concreto é um só: não existe delação premiada alguma. Mas o jogo bruto da mídia, engajada em mais um golpe contra a democracia brasileira, é transformar uma ficção, que até pode ter algum lastro na realidade, em verdade absoluta e incontestável.
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