sexta-feira, 4 de março de 2016

Nº 18.890 - "Glória para Moro, vergonha para o Brasil. Temos um delegado da roça dos anos 50 no poder"

É o dia de glória de Sérgio Moro.

Por
 

Com toda a cobertura legal que se autoconcede, conseguiu, numa simples vara judicial, mais do que conseguiria se dispusesse, como na frase célebre, “dos seus capangas lá do Mato Grosso”.

Meter um ex-presidente da República num camburão da política.

“Manda buscar aquele sem-vergonha e traz para a delegacia”.

E com requintes de máximo constrangimento: sexta-feira, bem cedo, bem na hora para as edições da Veja e da Época fazerem suas capas.

Porque é preciso quebrar a alma do cidadão, pretendendo humilhá-lo diante de todos.

Sérgio Moro, apontado como paladino da Justiça, é seu pior violador, porque usa a toga para tirar-lhe das mãos a balança, o equilíbrio, a ponderação.

Não fosse o fato de termos uma imprensa que age como um aparelho golpista e antidemocrático, Moro nem sequer estaria respondendo por seus atos, porque jamais teria coragem de praticá-los.

Por que conduzir aparatosamente alguém para depor  jamais foi chamado por seu tribunal a isso?

Por que, sobretudo, quando o ex-presidente acabara de ter uma ordem judicial que o protegia deste abuso mas que, como dizem os jornais “só valia para São Paulo”?

É simples.

Por que não é a prudência quem lhe guia os atos, como compete a um magistrado, mas a obsessão de poder.

Não este poder corrupto, desprezível, fisiológico que se obtém junto à malta, pelo voto.

O poder obtido pelo uso ilegítimo da autoridade judicial, em flagrante simbiose com o que há de mais autoritário e corrupto no Brasil: o seu sistema de comunicação.

Durante mais de dois anos, dedicou-se com afinco a isso, desde que conseguiu, usando o ladrão que mandara soltar – Alberto Youssef – inflitrar-se nas podridões havidas na Petrobras, claro que a partir de certa data, apenas.

E, reconheça-se, não o fez às escondidas, chegando a publicar todos os passos do projeto de demolição das estruturas que esperava alcançar em seus ensaios sobre a operação Manu Politi italiana, embora já nos falte aqui um Berlusconi.

Teve ajuda, é claro.

A mais importante delas, depois dos meios de comunicação, a ilusão do “Brasil de Todos”, que julgou que o controle remoto, as “instituições republicanas” e o equilíbrio dos homens e mulheres aos quais conduziu ao comando do Judiciário zelariam pelo equilíbrio do país.

Os versos, que não sendo dele, atribuem-se a Brecht – “um dia, vieram buscar os judeus, como eu não era judeu, não protestei…” – casam à perfeição com o que se passa no Brasil.

Curitiba imita a Baviera e, graças a esta inação, encontra a nação perplexa e a esquerda exangue.

Os tribunais, ah, os tribunais…Cunha, com todas as provas e documentos de favorecimento pessoal que existe não foi levado a depor à força, com ou sem “japonês”.

Há mil razões para uma democracia transformar-se numa ditadura, onde impera o arbítrio.

E nenhuma razão para que valentes se transformem em covardes e o aceitem.

É o dia de glória para Moro e o dia da vergonha para a Justiça brasileira.

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