04/04/2016
Glória para Moro, vergonha para o Brasil. Temos um delegado da roça dos anos 50 no poder
É o dia de glória de Sérgio Moro.
Por Fernando Brito
Com toda a cobertura legal que se autoconcede, conseguiu, numa simples vara judicial, mais do que conseguiria se dispusesse, como na frase célebre, “dos seus capangas lá do Mato Grosso”.
Meter um ex-presidente da República num camburão da política.
“Manda buscar aquele sem-vergonha e traz para a delegacia”.
E com requintes de máximo constrangimento: sexta-feira, bem cedo, bem na hora para as edições da Veja e da Época fazerem suas capas.
Porque é preciso quebrar a alma do cidadão, pretendendo humilhá-lo diante de todos.
Sérgio Moro, apontado como paladino da Justiça, é seu pior violador, porque usa a toga para tirar-lhe das mãos a balança, o equilíbrio, a ponderação.
Não fosse o fato de termos uma imprensa que age como um aparelho golpista e antidemocrático, Moro nem sequer estaria respondendo por seus atos, porque jamais teria coragem de praticá-los.
Por que conduzir aparatosamente alguém para depor jamais foi chamado por seu tribunal a isso?
Por que, sobretudo, quando o ex-presidente acabara de ter uma ordem judicial que o protegia deste abuso mas que, como dizem os jornais “só valia para São Paulo”?
É simples.
Por que não é a prudência quem lhe guia os atos, como compete a um magistrado, mas a obsessão de poder.
Não este poder corrupto, desprezível, fisiológico que se obtém junto à malta, pelo voto.
O poder obtido pelo uso ilegítimo da autoridade judicial, em flagrante simbiose com o que há de mais autoritário e corrupto no Brasil: o seu sistema de comunicação.
Durante mais de dois anos, dedicou-se com afinco a isso, desde que conseguiu, usando o ladrão que mandara soltar – Alberto Youssef – inflitrar-se nas podridões havidas na Petrobras, claro que a partir de certa data, apenas.
E, reconheça-se, não o fez às escondidas, chegando a publicar todos os passos do projeto de demolição das estruturas que esperava alcançar em seus ensaios sobre a operação Manu Politi italiana, embora já nos falte aqui um Berlusconi.
Teve ajuda, é claro.
A mais importante delas, depois dos meios de comunicação, a ilusão do “Brasil de Todos”, que julgou que o controle remoto, as “instituições republicanas” e o equilíbrio dos homens e mulheres aos quais conduziu ao comando do Judiciário zelariam pelo equilíbrio do país.
Os versos, que não sendo dele, atribuem-se a Brecht – “um dia, vieram buscar os judeus, como eu não era judeu, não protestei…” – casam à perfeição com o que se passa no Brasil.
Curitiba imita a Baviera e, graças a esta inação, encontra a nação perplexa e a esquerda exangue.
Os tribunais, ah, os tribunais…Cunha, com todas as provas e documentos de favorecimento pessoal que existe não foi levado a depor à força, com ou sem “japonês”.
Há mil razões para uma democracia transformar-se numa ditadura, onde impera o arbítrio.
E nenhuma razão para que valentes se transformem em covardes e o aceitem.
É o dia de glória para Moro e o dia da vergonha para a Justiça brasileira.
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