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06/06/2017
Temer nas cordas com seus estrategistas trôpegos, por Fernando Limongi
Foto: Beto Barata/PR
Jornal GGN - No Valor Econômico, o professor da USP e pesquisador do Cebrap, Fernando Limongi, analisa as estratégias adotadas por Michel Temer para tentar esticar seu mandato no Palácio do Planalto.
O presidente tentou traçar um círculo para salvar os sobreviventes, mas acabou privilegiando alguns amigos e esquecendo de outros, como no caso de Osmar Serraglio, que recusou o cargo no Ministério da Transparência.
Limongi pontua que os estrategistas trôpegos de Temer resolveram que ainda não é hora de largar o osso, e o espetáculo que se anuncia é triste, principalmente com a prisão de Rocha Loures.
Além disso, a cruzada moralizadora da Lava Jato entra em declínio, já que seus efeitos não são animadores. A relação entre políticos e empresários não foi afetada, como ficou claro no caso da JBS, inclusive com preso que continuaram a receber propinas.
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Do Valor
por Fernando Limongi
O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) teve o prazer de tomar a decisão que confirmou seu juízo. Ao recusar o ministério transparente que lhe impingiam, retirou o mandato e o foro de Rodrigo Rocha Loures cuja prisão fez com que o mandato do presidente passasse a depender inteiramente da sua boa índole. No caso, as boas relações e influência do ministro da Justiça, Torquato Jardim, não serão de grande serventia. De fato, os estrategistas do presidente não sabem pensar duas casas à frente.
O ambiente, portanto, é marcado pela mais pura manifestação de comportamentos irracionais. Difícil dar conta de um mundo habitado por lideranças com este grau de inconsistência em seus atos.
Os exemplos se multiplicam. O prêmio estrategista trôpego do ano, sem dúvida alguma, cabe ao senador afastado Aécio Neves (PMDB-MG), pela ação contra a chapa Dilma-Temer cujo objetivo era só "encher o saco". Neste caso, contudo, vale lembrar que Aécio não agiu sozinho, que mais gente participou e sustentou o plano. Na realidade, a ação original fora arquivada e coube a outro grande estratego recuperá-la e lhe dar vida nova, incluindo na denúncia os financiadores do próprio Aécio. Um gênio, pois não?
Os trôpegos decidiram que é cedo para largar o osso. Vão resistir. Convenceram o presidente Michel Temer a não jogar a toalha. O espetáculo que se anuncia é triste. Loures está preso e pode explicar para que e quem recebeu propina. Amanhã, Temer enfrenta o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral. Escapando destas ameaças, outras virão. Sem acordo sobre quem possa sucedê-lo, o presidente resiste encurralado nas cordas.
A sobrevida de Temer evidencia os limites da Operação Lava-Jato. A cruzada moralizadora entra em sua curva descendente. Seus efeitos, para além das prisões que realiza, não são assim muito animadores. Senão vejamos.
Primeiro porque não afetou a relação entre empresários e políticos. No auge da operação, a JBS continuou financiando políticos como financiava antes da primeira prisão decretada pelo juiz Sergio Moro. A simbiose foi mantida. As prisões e punições não se mostraram suficientes para alterar comportamentos e práticas arraigadas. Tudo como antes do Quartel de Abrantes. Aliás, o que se viu é que mesmo presos continuaram a receber propinas. Por que mudariam de comportamento? Como se diz, a oportunidade faz o ladrão e os promotores nada sabem sobre as oportunidades e, como mostra a lei pela qual tanto se batem, nem querem saber. Para eles, o remédio é aumentar seu poder para prender e punir.
Em segundo lugar, a Lava-Jato mostrou-se incapaz de gerar um movimento politico em prol de seus ideais, quaisquer sejam eles. Os movimentos de apoio à cruzada moralizante, como o "Vem pra Rua" e o "MBL", resolveram abandonar a cena pública. Ensaiaram indignação ao ouvir as gravações entre Temer e Joesley Batista, somente para, nos dias seguintes, desmobilizar seus seguidores com desculpas esfarrapadas. Nas duas últimas semanas, nem isto. Nem se deram ao trabalho de se justificar. Sumiram do mapa.
Pelo jeito, a indignação moralizadora tem cores partidárias e escolhe os inimigos. Ou pelo menos quem os impulsionava, com recursos e facilidades de toda ordem, preferiu ver seu eleito apanhando nas cordas ao risco das incertezas que se abririam com sua queda.
Moro, que em sua estratégia sempre soube necessário mobilizar a opinião em seu apoio, com certeza deve ter notado a mudança de ares. Quando Dilma Rousseff estava nas cordas e o movimento das ruas perdia força, jogou suas cartas decisivas (a condução coercitiva de Luiz Inácio Lula da Silva e a liberação da gravação das conversas entre a presidente e o ex-presidente) para obter o apoio que selou o destino de Dilma e salvou sua operação caça-corruptos. Convocou seus apoiadores a ir à rua e eles compareceram em número recorde. À época, está claro, Moro contou com o apoio dos que hoje se voltam contra ele e sua operação.
O destino de Moro e de sua operação, tudo indica, é o mesmo das Mãos Limpas. A coalizão pró-moralização desfez-se e, como sua inspiradora, para além do rastro de prisões e punições, pouco deixará de construtivo.
O governo Temer, como seu antecessor, foi reduzido a frangalhos. As denúncias de que é alvo são contundentes, muito mais que qualquer acusação feita a Dilma enquanto esta governava. Como não há quem o suceda e possa oferecer a segurança que o círculo de Jucá exige, Temer vai ficando. Os que se apresentaram ao cargo acabaram descartados, seja porque igualmente tóxicos ou porque demasiadamente despreparados para a missão. Se não tem tu, vai com tu mesmo.
As perspectivas não são nada animadoras. O PT, de sua parte, também não se esforça por derrubar Temer e, ao clamar por eleições diretas que sabe ser inexequíveis, faz a marola ao gosto da militância, enquanto participa do jogo armado pela turma de Jucá. Ganha tempo e aposta na costura do acordão redentor.
Temer, na melhor das hipóteses, como seu conselheiro José Sarney, perde por pontos, arrastando-se até o último round. Assistiremos uma luta inglória e inútil. Como diz o vulgo: quem pariu Mateus que o embale.
A Lava-Jato e a luta pela moralização da política perderam força e apoio entre os dispostos a ir para a rua. O ímpeto se foi. Para a maioria, o que havia por fazer já foi feito e é hora de tocar a vida. Se livraram do PT, mas sobraram com Temer, trôpego, surrado, apoiado nas cordas, desferindo golpes a esmo para evitar a queda. A derrota é inevitável. Na melhor das hipóteses, por pontos, ao final do mandato.
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Fernando Limongi é professor do DCP/USP e pesquisador do Cebrap.
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