23/11/2010
Reunião na Unasul traz indicações a DilmaBlog do Favre - 22/11/2010 - 08:46h
Sergio Leo* | VALOR
Após a estreia internacional na reunião do G-20, em Seul, a presidente eleita Dilma Rousseff tem a oportunidade de mergulhar no ambiente regional na sexta-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará da reunião de presidentes da Unasul, a União das Nações Sul-Americanas. Grupo heterogêneo, em que cabem economias alinhadas com o manual de bom comportamento dos mercados e nações bolivarianas decididas a reinventar o socialismo, a agenda do encontro da Unasul tem como item principal a política.
Os presidentes deverão firmar uma Carta Democrática da Unasul, nos moldes da cláusula democrática do Mercosul, também conhecida como Protocolo de Ushuaya, pela qual os governos da região se comprometem a aceitar consultas dos outros países em caso de ameaça à ordem democrática e decidem expulsar do grupo o país que comprovadamente atentar contra a democracia. O governo brasileiro espera aprovar um documento semelhante ao já existente no Mercosul, mas só as discussões dos ministros, na quinta-feira, mostrarão se não há objeções entre os governos sul-americanos.
O compromisso democrático do Mercosul foi assinado por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Chile e Venezuela. O Protocolo de Ushuaya chegou a ser usado como argumento pela oposição, no Brasil, para tentar vetar a entrada dos venezuelanos no bloco. O governo brasileiro argumentou que a existência do protocolo seria, pelo contrário, um motivo a mais para justificar o ingresso do país comandado por Hugo Chávez, que se comprometeria, dessa forma, a manter as liberdades democráticas no país.
Celso Amorim é cotado para Secretaria-Geral
À força de algumas concessões e, principalmente, do esforço em evitar confrontos diretos, Lula aproveitou sua boa imagem internacional e sua reputação como líder moderado de esquerda para atrair governantes de visões conflitantes à Unasul. O grupo mostrou-se útil para lidar com crises políticas na região, como a recente tentativa de golpe no Equador e o conflito entre Colômbia e Venezuela, na transição do governo colombiano, de Álvaro Uribe para Juan Manuel Santos. Nos dois casos, o secretário-geral da Unasul, Néstor Kirchner, mostrou-se surpreendentemente engajado, e eficiente, demonstrando também que outros países, além do Brasil, têm o compromisso de evitar que a Unasul seja apenas mais uma das siglas fantasmagóricas que pairam, espectrais e impotentes, na comunidade internacional.
Na Venezuela, o lento esforço de saída da recessão, marcado por acusações do setor privado contra as medidas estatizantes do governo, é acompanhado por radicalização política, com a recente manifestação de um dos principais generais do país de compromisso total com o “bolivarianismo”. Na Colômbia, a luta contra a guerrilha das Farc ainda ameaça desdobrar-se além das fronteiras. Na Argentina, a perda de competitividade das empresas locais ressuscita ameaças veladas de protecionismo. Não é um continente que prometa tranquilidade para o novo governo brasileiro.
Não há, no cenário sul-americano, um líder com o trânsito internacional e o prestígio de Lula – ainda que a aproximação com o Irã tenha empanado a imagem do presidente brasileiro em algumas esferas. Dilma não parece tentada a disputar esse papel protagônico desempenhado com desembaraço pelo presidente agora em fim de mandato. O Brasil não pode dispensar, porém, uma atuação enérgica na região, por seus crescentes interesses no continente, com a expansão de migrantes brasileiros em países vizinhos e de empresas e bancos brasileiros (inclusive o Banco do Brasil).
O bom funcionamento da Unasul, por seu caráter multilateral, pode facilitar a política externa de Dilma para a região, onde são recorrentes os conflitos entre governos, especialmente na região andina. Na reunião desta semana, o grupo deve ganhar existência formal com a ratificação do tratado de constituição da Unasul pela Colômbia e, talvez, outros países, completando o mínimo exigido de nações com o acordo ratificado (o Brasil ainda espera a decisão do Congresso sobre o acordo). O grupo terá, ainda, de discutir a escolha de um substituto para Kirchner, morto em outubro.
Sondada, a ex-presidente do Chile, Michele Bachelet, disse estar comprometida com um posto nas Nações Unidas. O mais forte candidato é o ex-presidente uruguaio Tabaré Vasquez, que depende, porém, de um forte gesto político da viúva e presidente argentina, Cristina Kirchner – já que foi Vasquez o principal opositor à candidatura de Néstor Kirchner à Unasul, já que, na época, os dois se desentendiam devido a pressões argentinas contra a instalação d e uma fábrica de celulose no rio que faz fronteira entre os dois países.
Caso haja veto argentino a Tabaré Vasquez, a Unasul pode decidir por um nome menos político e mais técnico, o que, nesse caso, acenderia especulações até sobre a possível nomeação do ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, prestes a deixar o cargo. Essas discussões políticas devem agitar a reunião da Unasul e darão indicações do cenário de cooperação ou conflito a ser herdado pela nova presidente brasileira.
*Sergio Leo é repórter especial em Brasília e escreve às segundas-feiras
E-mail sergio.leo@valor.com.br
Postado por Luis Favre
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