27/09/2011
Um título contra as castas
Do Tijolaço - 27/09/2011
Amanhã, Lula recebe o 16º título de Doutor Honoris Causa do prestigiado Instituto de Estudos Políticos de Paris, conhecido como Sciences-po. Não é toda hora que se dá ali um título destes, tanto que a instituição, fundada em 1872, leva quase dez anos, em média, para conceder um deles.
E a pergunta que todo mundo quer fazer foi feita pela correspondente de O Globo, Deborah Berlink:
Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?
O presidente da instituição, Richard Descoings, com a necessária diplomacia, dá a resposta:
“O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico. Sciences-po é uma universidade de elite, porque nós formamos uma parte da classe politica e das grandes empresas francesas. O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences-po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente de um diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade. Ele foi eleito por unanimidade pelo nosso conselho de administração. A França, como toda a Europa, passa por um momento difícil.(…)
O professor Descoings talvez não saiba, mas somos ainda mais uma sociedade de castas. E foi preciso que se rompesse essa tradição de castas para que o Brasil mudasse. Mesmo aqueles que vieram da esquerda, como Fernando Henrique, ao serem aceitos nos salões, passaram a portar-se e a pensarem como essa subnobreza colonial que não pensa o Brasil como um país.
A entrega do título será transmitida ao vivo no site da Sciences Po às 12h30 daqui, amanhã. Vai ser um momento de afirmação, muito mais que de Lula, do Brasil. Porque, quando não somos um país de castas, somos um país imenso.
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