22/03/2012
Álvaro Santos: Governar é administrar chantagens
Do Viomundo -22 de março de 2012 às 17:58
por Álvaro Rodrigues dos Santos
Houve o tempo em que governar significou abrir estradas ou eleger prioridades. Hoje é outro o desafio: “governar é administrar chantagens”.
Dentro da onipresente cultura da chantagem, chantageadores não faltam: partidos da base, partidos de oposição, governadores, prefeitos, vereadores, deputados, senadores, minorias várias, órgãos rais sindicais de trabalhadores, associações empresariais e patronais, bancada ruralista, bancada ambientalista, bancada das empreiteiras, bancada dos banqueiros, mídias de todos os quilates, legislativos vários, Judiciário, Forças Armadas das Três Armas, bancada nordestina, bancada do centro-oeste, bancada do sul, bancada do sudeste, bancada do norte, Esquerda, Direita, Centro, igrejas, pessoal do álcool, pessoal dos grãos, pessoal da pecuária, pessoal da mineração, dos sem isso e sem aquilo, professores e estudantes, aliados eleitorais eventuais, Universidades e mundo acadêmico, mundo das artes, aposentados, etc., etc.
As exigências sobre os poderes executivos envolvem vantagens de todos os tipos: cobiçados postos de governo, cargos e funções remuneradas, regalias corporativas, regalias legais, regalias fiscais, desobrigações e desonerações camaradas, empregos para correligionários, liberação de verbas, liberação de emendas ao orçamento, aumentos de dotações orçamentárias para isso ou aquilo, atendimento de reivindicações de lobbies setoriais, suporte eleitoral, direcionamento de verbas públicas de investimento ou publicidade, sancionar ou reprovar projetos, e por aí vamos.
As ameaças em caso de não atendimento dos pleitos somente não são passadas em cartório, mas são escancaradas, e pesadas: retirada de apoio eleitoral e/ou de apoio político parlamentar por parte de partidos, igrejas ou categorias, detratação da imagem pública, não aprovação de projetos de interesse do executivo, desestabilização de administradores, imposição de derrotas jurídicas, insatisfação nos quartéis, desestabilização política, rompimento de alianças políticas locais, regionais ou nacionais, etc., etc., etc.
E os poderes executivos, ao menos aqueles que gostariam de resistir, não encontram saída. Em nome de uma buscada governabilidade obrigam-se a ceder anéis e dedos, além de sua diuturna atenção aos chantageadores. Que energia, que tempo, que recursos e que humor sobram para serem dedicados ao plano de governo, às estratégias de desenvolvimento, àquela velha intenção de revolucionar a educação e a saúde, à decisão de profissionalizar a gestão pública, ao enfrentamento de nossas carências crônicas?
Haverá alguma possibilidade de se resistir à ditadura das chantagens dentro das regras democráticas?
Haverá alguma possibilidade do interesse coletivo impor-se aos interesses particulares de indivíduos e grupos?
Que caminhos para tanto podem ser apontados para a sociedade brasileira?
Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br) é geólogo. Foi diretor de Planejamento e Gestão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo.
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