segunda-feira, 30 de abril de 2012

Contraponto 8016 - Reconstrução do Estádio Castelão em Fortaleza


30/04/2012


Do Diario do Nordeste - 30/04/2012




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Contraponto 8015 - Olha o Serra e a Mônica aí, gente!

30/04/2012

O que Ernani de Paulo tem a contar na CPI

Do Brasil247 - 30/4/2012

O que Ernani de Paula tem a contar na CPI Foto: Montagem/247

Testemunha chave do modo de agir da quadrilha goiana, o ex-prefeito de Anápolis, que apontou as digitais de Cachoeira na denúncia que deu origem ao mensalão, pretende revelar a conexão entre Marconi Perillo e José Serra na área da educação; segundo ele, a caixa-preta da política brasileira

30 de Abril de 2012 às 20:04

247 – Ernani de Paula, empresário, dono da Faculdade São Marcos e ex-prefeito da cidade de Anápolis (GO), concedeu, um mês atrás, ao 247, uma entrevista bombástica. Disse, com todas as letras, que a denúncia que deu origem ao processo do mensalão, sobre o pagamento de propina dentro dos Correios, foi produzida pela quadrilha liderada pelo bicheiro Carlos Cachoeira (leia mais aqui). Assim como em várias produções dos estúdios Cachoeira, o filme foi feito pelo araponga Jairo Martins, publicado por Policarpo Júnior, em Veja, e reverberado pelo senador Demóstenes Torres, na tribuna do Senado. O objetivo, segundo Ernani de Paula, era constranger o governo Lula a nomear Demóstenes como secretário Nacional de Justiça. Ernani sabia do plano porque sua ex-mulher, Sandra Melon, era suplente do senador Demóstenes e ocuparia sua cadeira caso a iniciativa vingasse.

Observador atento da realidade goiana, Ernani de Paula conviveu de perto com vários personagens da crise atual. Entre eles, Carlos Cachoeira, que é de Anápolis, Demóstenes, que se elegeu com os votos da cidade, Marconi Perillo, que, como governador, decretou intervenção no município, e Marcelo Limírio, dono de laboratório e sócio de Demóstenes numa faculdade.

Limírio, que é dono da Neoquímica e já contratou diversos assessores de imprensa, temendo ser o próximo alvo da Operação Monte Carlo, comprou uma fazenda que pertencia a Ernani de Paula, na cidade de Anápolis. “A minha antiga fazenda, chamada Barreiro, se tornou um ponto de encontro entre Cachoeira, Demóstenes e Limírio”, diz Ernani de Paula ao 247. “E isso apareceu até no inquérito da Polícia Federal”.

Dos remédios à educação

Anápolis, que já foi governada por Ernani de Paula, se tornou a capital nacional dos remédios genéricos, quando o ministro José Serra, na Saúde, aprovou a lei que permitiu a produção desses medicamentos. “Foi assim que o Carlinhos Cachoeira começou a migrar para o ramo das atividades legais”, diz Ernani de Paula.

Em Anápolis, o bicheiro se tornou dono do laboratório Vitapan, que hoje é controlado por sua ex-mulher Adriana Aprígio. E foi na condição de empresário do ramo farmacêutico – e não mais como “empresário de jogos” – que Cachoeira passou a se apresentar às autoridades.

Antes de ser prefeito, como fazendeiro e morador de Anápolis, Ernani de Paulo fundou o Instituto Melon, que foi o terceiro do Brasil a fazer a certificação de remédios genéricos. Depois de sua entrada na prefeitura, em 2001, o Instituto Melon foi repassado para o Instituto de Certificação Farmacêutica, controlado por Walterci de Melo, do Laboratório Teuto, Marcelo Limírio, da Neoquímica, e Carlos Cachoeira, da Vitapan.

Neste momento, teve início a aproximação empresarial – e depois familiar – entre Cachoeira e Limírio. Um filho de Limírio, por exemplo, é casado com uma sobrinha de Cachoeira. Depois dos negócios farmacêuticos, os dois começam a olhar com carinho para um setor que começava a explodir em Goiás e no Brasil inteiro: a educação superior.

As Faculdades Padrão e Nova Capital

No auge da crise deflagrada pela Operação Monte Carlo, o Brasil se surpreendeu com a influência exercida pelo senador Demóstenes Torres no Conselho Nacional da Educação, um órgão do MEC. Em apenas 14 dias, ele obteve, do conselheiro Paulo Spiller, autorização para abrir a Faculdade Nova Capital, em Contagem (MG). No papel, Demóstenes é sócio de Marcelo Limírio. Mas, na sociedade goiana, especula-se que Cachoeira seja sócio oculto da faculdade.

O interesse de Cachoeira pela educação também se revelou num outro episódio: o da Faculdade Padrão, do empresário Walter de Paula. Oficialmente, Walter de Paula foi o comprador da casa onde o governador Marconi Perillo residia e também onde foi preso o bicheiro Carlos Cachoeira. Num grampo divulgado neste domingo pela Folha de S. Paulo, Cachoeira determina a um de seus assessores que entregue o dinheiro do imóvel ao governador – Perillo se defendeu afirmando que vendeu a casa, no condomínio de Alphaville, a Walter de Paula, e não a Cachoeira.

Da mesma maneira em que pode ser sócio oculto da Faculdade Nova Capital, Cachoeira também tem grandes interesses na Faculdade Padrão. Num grampo da Polícia Federal, ele ordena ao senador Demóstenes Torres que interceda junto ao Conselho Nacional de Educação para que reverta o parecer contrário à instalação de uma escola de medicina na Faculdade Padrão – o conselheiro, no caso, também era Paulo Spiller.

A educação se tornou um grande negócio em Goiás porque Marconi Perillo criou, em 1999, um programa chamado Bolsa Universitária, dirigido pela primeira-dama Valéria Perillo. O programa bancava, com recursos do Estado, bolsas de estudo de ensino superior a jovens carentes. “Este programa é uma caixa-preta, de difícil fiscalização sobre a real concessão de bolsas e a boa aplicação dos recursos”, diz Ernani de Paula. “A Faculdade Padrão, por exemplo, foi uma das mais beneficiadas”.

De Goiás para São Paulo

Quando José Serra assumiu o governo de São Paulo, em 2007, uma de suas primeiras medidas foi ampliar um projeto semelhante no Estado de São Paulo. No mesmo ano, Ernani de Paula passou a trabalhar com o pai na Universidade São Marcos, que existe há 41 anos. E começou a monitorar, com lupa, os recursos que eram transferidos pelo governo paulista às instituições de ensino – mais de R$ 700 milhões, desde 2004.(Grifo do ContrapontoPIG)

“Grupos educacionais que eram irrelevantes, mas que construíram boas conexões políticas com o PSDB, receberam verdadeiras fortunas”, diz Ernani de Paula. O caso que mais chama a atenção, segundo ele, é o da Faculdade Sumaré, que já soma quase R$ 70 milhões em repasses. Em seguida, há o do grupo Uniesp, que recebeu pouco mais de R$ 60 milhões.

A São Marcos, ao contrário da Sumaré e da Uniesp, não recebeu repasses do governo estadual e, recentemente, foi colocada sob intervenção pelo mesmo conselheiro Paulo Spiller. “Quem recebia recursos do estado era o Instituto Cidadania Global, criado por minha irmã, Luciane de Paula, e que tinha como conselheiros algumas figuras próximas ao alto tucanato como Andrea Matarazzo, Mônica Serra e Gilda Portugal Gouvêa”. (Grifo do ContrapontoPIG)

Ernani encaminhou todos os documentos à 6ª Vara do Patrimônio Público, em São Paulo. Sua suspeita: a educação superior se transformou na maior caixa-preta da política brasileira. Que nasceu em Goiás e chegou a São Paulo. “E enquanto Demóstenes e Limírio prosperavam, a São Marcos era esmagada”, diz ele.

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Contraponto 8014 - "Senzala começa a entrar na casa Grande"


30/4/2012

Senzala começa a entrar na Casa Grande

o Blog do Miro - 30/4/2012

Por Dennis de Oliveira, na revista Fórum:

Depois da votação unânime do Supremo Tribunal Federal a favor das cotas raciais nas universidades, fiquei pensando em como o racismo está impregnado fundo na sociedade brasileira. E este racismo se combina com um elitismo que parece até atávico em certas pessoas.

Os argumentos dos que são contrários as cotas raciais nas universidades lembram falas de vários tempos passados em momentos que se discutiam – e aprovavam – normas que beneficiavam grupos sociais excluídos. Algumas delas foram bem lembradas pelo jornalista Elio Gaspari, em coluna publicada na FSP de 25/04 e republicadas no portal Viomundo:

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Em 1871, quando o Parlamento discutia a Lei do Ventre Livre, argumentou-se que libertando-se os filhos de escravos condenava-se as crianças ao desamparo e à mendicância. “Lei de Herodes”, segundo o romancista José de Alencar.
Quatorze anos depois, tratava-se de libertar os sexagenários. Outro absurdo, pois significaria abandonar os idosos. Em 1888, veio a Abolição (a última de país americano independente), mas o medo a essa altura era menor, temendo-se apenas que os libertos caíssem na capoeira e na cachaça.

Como dizia o Visconde de Sinimbu: “A escravidão é conveniente, mesmo em bem ao escravo”. A votação do projeto foi acelerada pelo clamor provocado pelo linchamento de um promotor que protegia negros fugidos no interior de São Paulo. Entre os assassinos, estava James Warne, vulgo “Boi”, um fazendeiro americano que emigrara depois da derrota do Sul na Guerra da Secessão.

As cotas seriam coisa para inglês ver, “lumpenescas propostas de reserva de mercado”. Estimulariam o ódio racial e baixariam a qualidade dos currículos da universidades. Como dissera o barão de Cotegipe, “brincam com fogo os tais negrófilos”. Os cotistas seriam incapazes de acompanhar as aulas.

Passaram-se dez anos, pelo menos 40 universidades instituíram cotas para afrodescendentes e hoje há milhares de negros exercendo suas profissões graças à iniciativa.


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Acrescento ainda, de minha parte: quando foram legalizadas as férias trabalhistas, houve quem dissesse que os trabalhadores iriam se perder na bebida e na vadiagem; que a aprovação do salário família iria estimular os pobres a terem filhos em demasia e ainda sobre as cotas raciais, que alunos negros tendo um desempenho inferior nos exames vestibulares por conta da sua formação deficiente no ensino médio não conseguiriam acompanhar o nível superior.

Infelizmente para quem pensa assim, a realidade foi para o outro lado. Principalmente porque tais argumentos estão muito mais fundados em sentimentos de racismo, de preconceito contra as classes subalternizadas, de elitismo do que em fatos.

Não conheço nenhum estudo que tenha comprovado uma correspondência direta entre desempenhos no vestibular e na vida acadêmica (por exemplo, se os que passaram em primeiro lugar nos vestibulares são, de fato, os melhores alunos na universidade). E nem tampouco se estes desempenhos – no vestibular e na vida acadêmica – se reverberam em qualidade profissional (será que os primeiros colocados na Fuvest viraram os melhores alunos dos cursos da USP e, daí, os profissionais mais gabaritados nas suas áreas?).

O que tem incomodado nas cotas é que elas se transformaram na primeira política pública efetiva de garantia de oportunidades para afrodescendentes e demonstram o reconhecimento oficial e prático (e não apenas retórico) da existência do racismo no Brasil. Por isto que, de repente, apareceu um monte de gente dizendo que “não existem raças”, “somos todos seres humanos”, “negro e branco é igual, são filhos de Deus” (sic); uma retórica vazia que tenta encobrir a realidade com um desejo moral (se é que, de fato, este desejo existe na cabeça de várias pessoas que afirmam isto).

Finalmente, há aqueles que, de repente, viraram os grandes defensores da “melhoria do ensino público” como forma de reduzir as desigualdades. Estranho este argumento crescer de repente pois lembro-me da polêmica que parcela significativa da sociedade, com apoio da mídia, realizou quando a ex-prefeita Marta Suplicy construiu os CEUs (Centros de Educação Unificados) nas periferias argumentando que eram “muito caros”, “exagerados” e vai por aí afora.

No fundo, o que incomoda é a democratização do acesso às ilhas de privilégios construídos pelas elites – entre as quais as universidades públicas. O racismo e o preconceito são os principais mecanismos ideológicos que legitimam na sociedade brasileira este pensamento elitista.
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Contraponto 8013 - "Dilma ignora campanha do Globo e convida Brizola Neto para o Ministério do Trabalho e Emprego"

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30/04/2012

Dilma ignora campanha do Globo e convida Brizola Neto para o
Ministério do Trabalho e Emprego

Do Blog do Mello - 30/4/2012



Em nota divulgada pela Secretaria de Comunicação, o Planalto confirmou convite da presidenta Dilma Rousseff para que o deputado federal e companheiro da blogosfera Brizola Neto seja o próximo ministro do Trabalho e Emprego:


"Nota à Imprensa

A presidenta da República, Dilma Rousseff, convidou hoje o deputado Brizola Neto para assumir o Ministério do Trabalho e Emprego. A presidenta manifestou confiança de que Brizola Neto, ex-Secretário de Trabalho e Renda do Rio de Janeiro, ex-vereador e deputado federal pelo PDT, prestará grande contribuição ao país.

A presidenta agradeceu a importante colaboração do ex-ministro Carlos Lupi, que esteve à frente do Ministério no primeiro ano de seu governo, e do ministro interino Paulo Roberto dos Santos Pinto na consolidação das conquistas obtidas pelos trabalhadores brasileiros nos últimos anos.

Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República"


Escrevi hoje pela manhã, antes do anúncio do nome de Brizola, que Globo continua campanha contra Brizola Neto no Ministério do Trabalho. Logo, ele é o melhor nome. A presidenta viu o lado da Globo e escolheu o outro.

Como se vê na imagem acima, que é reprodução de trecho da página do Portal de Notícias das Organizações Globo, G1, eles tiveram - como diria o Zagalo - que engolir a escolha da presidenta. Mas o veneno ainda escorre nas entrelinhas, como sublinho no detalhe.
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Contraponto 8012 - "A aliança do Pacífico e a nova estratégia neocolonial"

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30/04/2012

A aliança do Pacífico e a nova estratégia neocolonial


Do Blog do Mauro Santayana - 28/04/2012

Mauro Santayana

(blog) - Com a queda do muro de Berlim, vicejou a teoria, em meio a certos “pensadores” ocidentais – festejada e divulgada por diferentes grupos de comunicação - de que chegáramos ao “fim da história”, com a imposição definitiva do ideário neoliberal em um novo mundo, de permanente “Pax Americana”. Nesse período, que durou até a chegada do novo milênio, o Ocidente achou que poderia redividir o planeta e a Espanha alimentou, baseada em sua súbita e artificial prosperidade, o sonho neocolonial de promover nova reconquista no espaço geopolítico latino-americano.

Para isso, a diplomacia e os ”think-tanks” espanhóis resgataram até mesmo um velho termo, a “Íbero-américa”, um continente mítico que, começando nos Pirineus, chegaria até a Terra do Fogo, englobando a Espanha, Portugal, México, a América Central, e todos os países da América do Sul, até os limites do Estreito de Magalhães.

Transformados, de repente, em novos-ricos – esquecendo-se de que sua qualidade de vida assim como o relativo poder de suas empresas advinha de bilhões de euros em ajuda da União Européia para o desenvolvimento, repassada pela França e a Alemanha; e de dinheiro barato, a juros baixíssimos, emprestado a seus bancos pelo Banco Central Europeu - a Corte, os banqueiros, os políticos neo-liberais espanhóis e os aventureiros de ocasião se lançaram, com o ânimo de um Cortez, ao saqueio da América Latina.

O estrangulamento da maioria dos nossos países pela inflação – e por dívidas questionáveis -, e a ausência de iguais condições de acesso a crédito farto e barato por parte do nosso empresariado levou ao maior processo de desnacionalização da história.

Um processo que foi trágico para a iniciativa privada, com a entrega de empresas centenárias e de sua tecnologia para estrangeiros como aconteceu com a Metal Leve, do saudoso José Mindlin, por exemplo. Mas que foi muito pior, e particularmente nefasto, no setor público, no qual novos cruzados ibéricos como Emilio Botin, do Santander, Antonio Brufau, da Repsol, Cesar Alierta, da Telefónica e oportunistas como Gregorio Marin Preciado – alguns deles hoje investigados por sonegação de impostos e lavagem de dinheiro - contaram com a abjeta e interessada cumplicidade dos colaboracionistas de sempre para o desmonte, esquartejamento e desnacionalização do patrimônio nacional e dos nossos ativos estratégicos.

No Brasil, está provado, hoje, que os excitados seguidores do Consenso de Washington gastaram mais dinheiro (engordando as galinhas para a entrega às raposas durante a “preparação” das estatais para a privatização) do que arrecadaram, para o Tesouro, com os leilões dessas privatizações.

Alegou-se à época, que seria abatida a dívida pública, mas a relação dívida/PIB praticamente dobrou em oito anos. Foi dito que o preço das tarifas ia diminuir para o consumidor, mas em telefonia ou banda larga, por exemplo, pagamos, segundo instituições internacionais, as mais altas faturas do mundo. Isso sem falar, em primeiro lugar, da péssima qualidade dos serviços - que já levou à proibição da venda do Speedy da Telefónica em São Paulo durante algum tempo.

Quem quiser confirmar o extravagante e nocivo conteúdo da Lei Geral de Telecomunicações - aprovada no governo FHC e voltada para penalizar o tempo todo o consumidor - que se informe na ANATEL, ou tente resolver algum problema – por telefone -com a sua operadora. A Lei prevê até mesmo orelhões que não “precisam” completar chamadas interurbanas. E nem é necessário falar da propalada universalidade de acesso à telefonia e à internet. Quem mora no interior, que se habilite.

Outro argumento da época era o da existência de “cabides de emprego” nas estatais. Neste quesito, basta lembrar que Antonio Carlos Valente, Presidente da Vivo no Brasil, foi um dos homens que comandou, desde o início, a privatização da telefonia em nosso país, e um dos primeiros conselheiros da ANATEL - criada justamente para fiscalizar seus futuros patrões. E que o genro do Rei da Espanha - que, como entendido em telecomunicações é um excelente jogador de polo - encontra-se “pendurado no cabide” no Conselho da Telefónica do Brasil, ganhando, há muito tempo, dezenas de milhares de euros por ano.

A farra privada com as estatais foi tão grande, e os ganhos tão fartos, que Francisco Luzón, o “executivo” do Santander que comandou o processo de aquisição do BANESPA, aposentou-se há poucos meses, levando para casa, como recompensa por seu trabalho na América Latina, uma gratificação de 70 milhões de euros, ou a módica quantia de 175 milhões de reais.

Na telefonia, no petróleo, no sistema financeiro, a tática espanhola é investir o mínimo e levar o máximo de lucro para a Europa. Se for preciso colocar dinheiro, que outros o façam, como ocorreu com Santander Brasil, que quando precisou levantou dinheiro no nosso próprio mercado com uma OPA : e com a Repsol do Brasil que vendeu parte do capital para a SINOPEC chinesa.

Precisou de recursos para cumprir sua obrigação: investir em expansão da infraestrutura, por exemplo? Pegue-se com o BNDES, a juros subsidiados, como aconteceu como a Vivo no ano passado que recebeu do nosso principal banco de fomento três bilhões de reais emprestados. Sem deixar, nem por um momento, de enviar, para a matriz, suas remessas de lucro de bilhões de euros por ano.

Pois é, como dizem os italianos, tanto trovejou, que chove. A Argentina se cansou do descaramento das empresas espanholas. Transformada - graças às privatizações - de nação produtora em país importador de petróleo, resolveu retomar o controle da YPF, Yacimientos Petroliferos Fiscales, desnacionalizada no governo neoliberal de Carlos Saul Menem.

O governo de Cristina Kirchner interveio na empresa na semana passada, destituindo os “executivos” espanhóis da Repsol e trocou a segurança do prédio. Os bons moços, como abutres, “secaram” os poços que encontraram funcionando quando compraram a empresa, mandando os lucros para o exterior, sem arriscar um centavo de peso para explorar novas reservas.

Com um risco-país de quase 500 pontos, o povo espanhol se encontra acossado pela desastrada situação em que o meteu a incompetência de sua elite dirigente. Mesmo assim, a direita conseguiu se eleger, usando a xenofobia para colocar a culpa não nos banqueiros, mas na imigração. E trata de ir, agora, ainda mais fundo contra os cidadãos, retirando e ”flexibilizando” os direitos dos trabalhadores, na saúde, na educação e no trabalho.

O Governo do Primeiro-Ministro Mariano Rajoy - como o rato que ruge – ameaçou agir com “contundência” e afirmou que a decisão da Presidente Cristina Kirchner acarretará para a Argentina, “duras consequências”.

Como a Itália, no caso Battisti, a Espanha pediu ajuda da Comunidade Econômica Européia, que - com exceção de algumas declarações protocolares – lavou as mãos e disse que não existem tratados que lhe permitam interferir no assunto, que deve ser visto como uma questão bilateral. A mídia ocidental exerceu - com alguns de seus representantes locais - seu direito de espernear. Em visita ao Brasil, Hillary Clinton afirmou que a Argentina deve "justificar e assumir sua decisão" e, coerente com a cantilena - tão desfiada e tão praticada pelos EUA - de defesa do "livre mercado, lembrou que em energia e commodities a liberdade é o melhor modelo de concorrência e de acesso aos mercado.

A Espanha, no entanto, ficou decepcionada. Seu Ministro de Relações Exteriores disse que esperava mais de seu "aliado" norte-americano, ao qual seu país tem sido tão subserviente nos últimos anos, participando, entre outras coisas, de operações militares na Líbia e da guerra do Afeganistão. E acabou reconhecendo o fato de que os Estados Unidos, atualmente, "têm seus próprios interesses na Argentina."

Com 23% de desemprego, um alto déficit em suas contas públicas, que a UE já reconheceu que o país não conseguirá diminuir antes de 2017; uma dívida externa de 165% do PIB (ado Brasil, por exemplo, é de 13%); 80% de dívida interna líquida (a do Brasil é de 39%) e cerca de 35 bilhões de dólares em reservas internacionais (as do Brasil são de mais de 10 vezes mais, ou 372 bilhões de dólares); o governo espanhol está aproveitando o episódio da Repsol para tentar desviar a atenção da opinião pública da crua realidade desses números.

Os jornais tem apresentado, em seus editoriais, e na cobertura do fato, a expropriação da empresa petrolífera como um insulto, uma traição à Espanha. Assim como aconteceu no caso da adoção de medidas de reciprocidade - para a entrada de cidadãos espanhóis no Brasil - por parte das autoridades brasileiras, agora, na rede, grande número de internautas espanhóis prega que as empresas espanholas demitam os seus empregados argentinos na Espanha. Alguns, também a exemplo do conflito diplomático com o Brasil, exigem que se promova a expulsão pura e simples de todos os imigrantes argentinos que vivem naquele país, esquecendo-se da solidariedade argentina no século XX, e do fato de que mais espanhóis vivem hoje na Argentina, do que argentinos na terra de Cervantes. Em compensação, uma minoria se pergunta, ironicamente, quantos acionistas da Repsol há entre os que estão defendendo a empresa nos fórums dos jornais e nas redes sociais. Lembram que a Repsol, há muito, já não pertence ao povo ou a capitais majoritariamente espanhóis; que no seu capital há participação chinesa; de fundos de investimento dos Estados Unidos; e de "investidores" que enriqueceram, de forma suspeita, nos "anos dourados" da entrada da Espanha na UE - e que também são responsáveis pela crise em que se encontra mergulhado o país.

A aparente indignação do governo espanhol, portanto, está dirigida não à defesa dos interesses de sua nação ou do seu povo, mas de "investidores" privados. Moral para questionar a decisão argentina, o Reino da Espanha não tem. Sua constituição, no artigo 128, reza: "Toda a riqueza do país em suas distintas formas e seja qual seja sua titularidade está subordinada ao interesse geral. Se reconhece a iniciativa pública na atividade econômica. Mediante a lei se poderá reservar ao setor público recursos ou serviços essenciais, especialmente em caso de monopólio e, assim mesmo, acertar a intervenção em empresas quando assim o exigir o interesse geral."

Com decrescente influência na América Latina, se é que teve alguma influência genuína nas últimas décadas, a Espanha busca aliados aonde pode. O Presidente Felipe Calderón - por isso censurado por deputados da oposição - manifestou-se em Cartagena, na Cúpula das Américas, e no "Fórum Mundial na América Latona, em Puerto Vallarta, onde recebeu o Primeiro-Ministro espanhol, contra o "protecionismo e as nacionalizações". No caso do "protecionismo" mandou um recado ao Brasil, que exigiu a imposição de quotas para veículos "mexicanos", depois da valorização do real com relação ao peso em 88% em dez anos, e também depois que terceiros países passaram a mandar autopeças para juntá-las no México para burlar as leis brasileiras e entrar em nosso mercado automobilístico, que já é o quarto maior do mundo, sem pagar tarifas de importação. O alerta quanto à "nacionalizações estava dirigido à Argentina. A Pemex mexicana possui quase dez por cento da Repsol, e, com figuras como Carlos Slim, dono da America Móvil e homem mais rico do mundo - o México foi o único país da América Latina, além do Chile, que se aproveitou das privatizações na América do Sul, nos anos 90.

México e Espanha precisam muito mais do exterior do que o Brasil, cuja corrente de comércio não chega a 13% do PIB. O fato de depender em mais de 90% do mercado norte-americano para suas exportações, e de ser um país que, basicamente, "maquila" - devido aos seus baixos salários - produtos destinados aos Estados Unidos, limita a possibilidade do México de adotar, uma política de comércio exterior verdadeiramente independente. E o mesmo acontece com a Espanha - que teve suas "notas" novamente rebaixadas pelas agências classificadoras de risco esta semana - que se submete, na economia e no comércio, às decisões e regras da União Européia.

Fracassada a tese da “ibero” América - a última cúpula “iberoamericana” realizada no final do ano passado em Assunção, no Paraguay, brilhou pela ausência de 16 dos 22 presidentes convidados, que deixaram plantados a ver navios o rei Juan Carlos e Zapatero - a Espanha, junto com os Estados Unidos, aposta, agora, na “Aliança do Pacífico”.

A intenção é usar o México para cooptar governos de corte mais neoliberal, como a Colômbia e o Chile, para se contrapor, junto com o Peru, e observadores como Panamá e Costa Rica, ao processo de integração continental capitaneado pelo Brasil, em organismos como o Mercosul, a UNASUL e o Conselho de Defesa Sul-americano.

Este último movimento da estratégia neocolonial parece, no entanto, também estar condenado ao fracasso. O presidente peruano Omanta Humalla não demonstra entusiasmo pela iniciativa, lançada pelo seu antecessor, Alan Garcia, e já disse que não vai participar da primeira cúpula presidencial do grupo, marcada para junho deste ano, em Santiago do Chile.
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Contraponto 8011 - "Brizola Neto é o novo ministro do Trabalho"

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30/04/2012
Brizola Neto é o novo ministro do Trabalho

O deputado federal Brizola Neto vai assumir o Ministério do Trabalho

Da Carta Capital - 30/04/2012

O Palácio do Planalto confirmou nesta segunda-feira 30 a nomeação de Carlos Daudt Brizola, o Brizola Neto, como novo ministro do Trabalho. Ele chega à Esplanada para substituir Paulo Roberto Santos Pinto, que estava ocupando o cargo de forma interina há cinco meses, desde a saída de Carlos Lupi, em meio a uma onda de denúncias contra sua gestão.

A escolha, aparentemente, não teve o aval do PDT, o partido de Brizola Neto, que comanda a pasta desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Lideranças do PDT, como o líder na Câmara André Figueiredo (CE) e o secretário-geral Manoel Dias, afirmaram que seu nome foi “escolha pessoal” da presidenta Dilma Rousseff. Ao confirmar o nome de Brizola Neto, Dilma disse, em nota, ter confiança de que ele “prestará grande contribuição ao país”. Segundo informações do Palácio do Planalto, a posse do novo ministro deverá ocorrer na quinta-feira (3), às 11h. Segundo o texto, a presidenta agradece a colaboração do ex-ministro Carlos Lupi e do ministro interino Paulo Roberto Pinto “na consolidação das conquistas obtidas pelos trabalhadores brasileiros nos últimos anos”.
A decisão foi tomada depois de uma reunião durante a manhã entre o presidente do PDT, Carlos Lupi, a presidenta da República, Dilma Rousseff, e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

Aos 33 anos, Brizola Neto é o mais jovem ministro do governo. Neto do ex-governador Leonel Brizola (morto em 2004), ele nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e está no seu segundo mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro. “O nome que carrego é uma bandeira. É um símbolo para milhões de pessoas que sonham com um Brasil diferente, com um Brasil com justiça, com trabalho, com progresso para nosso povo. Defender este país é ser nacionalista; defender este povo é ser trabalhista. E lutar por isso a vida inteira, sem jamais esmorecer, é ser Brizola”, define-se o parlamentar em uma autobiografia publicada em seu blog na internet.

Mesmo sem conseguir uma vaga na Câmara nas últimas eleições parlamentares, em 2010, Brizola Neto voltou ao Congresso como suplente do deputado Sergio Zveiter (PSD). Ligado ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), Zveiter deixou a Câmara para assumir a Secretaria de Trabalho e Renda do Rio, cargo que anteriormente era ocupado por Brizola Neto.

Em 2009, Brizola Neto foi líder do PDT na Câmara. Na sua trajetória política, exerceu ainda o cargo de vereador pelo município do Rio de Janeiro, em 2004. No seu blog, ele diz que começou sua vida política, aos 16 anos, ao lado do avô.

Brizola Neto dedica boa parte dos textos publicados na internet para defender as investigações de irregularidades envolvendo o empresário de jogos ilegais Carlos Augusto Cachoeira, o Carlinhos Cachoeira. Além disso, ele apoia a candidatura do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, à reeleição e critica parte da imprensa, a qual considera tendenciosa.


*Com informações da Agência Brasil

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Contraponto 8010 - "Darcy Ribeiro: Introdução de “O Povo Brasileiro”"

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30/04/2012

Darcy Ribeiro: Introdução de “O Povo Brasileiro”


Do Vermelho - 29 de Abril de 2012 - 8h44

A aprovação pelo STF da constitucionalidade das cotas raciais nas universidades suscita acaloradas discussões. O texto de Darcy Ribeiro oferece subsídios teóricos para uma justa compreensão sobre a etnia nacional. Apontando a “estratificação classista de nítido colorido racial e do tipo mais cruamente desigualitário que se possa conceber”, como um traço da nossa civilização, o mestre da antropologia demonstra como o Brasil é a um só tempo uni-étnico e desigual.


O Brasil e os brasileiros, sua gestação como povo, é o que trataremos de reconstituir e compreender nos capítulos seguintes. Surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos.

Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses, matrizes
raciais díspares, tradições culturais distintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo (Ribeiro 1970), num novo modelo de estruturação societária. Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos.

Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano diferente de quantos existam. Povo novo, ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma singular de organização sócio‐econômica, fundada num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a todos os brasileiros.

Velho, porém, porque se viabiliza como um proletariado externo. Quer dizer, como um implante ultramarino da expansão europeia que não existe para si mesmo, mas para gerar lucros exportáveis pelo exercício da função de provedor colonial de bens para o mercado mundial, através do desgaste da população que recruta no país ou importa.

A sociedade e a cultura brasileiras são conformadas como variantes da versão lusitana da tradição civilizatória europeia ocidental, diferenciadas por coloridos herdados dos índios americanos e dos negros africanos.

O Brasil emerge, assim, como um renovo mutante, remarcado de características próprias, mas atado genesicamente à matriz portuguesa, cujas potencialidades insuspeitadas de ser e de crescer só aqui se realizariam plenamente.

A confluência de tantas e tão variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multiétnica, dilacerada pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis. Ocorreu justamente o contrário, uma vez que, apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à nação.

As únicas exceções são algumas microetnias tribais que sobreviveram como ilhas, cercadas pela população brasileira. Ou que, vivendo para além das fronteiras da civilização, conservam sua identidade étnica. São tão pequenas, porém, que qualquer que seja seu destino, já não podem afetar à macroetnia em que estão contidas.

O que tenham os brasileiros de singular em relação aos portugueses decorre das qualidades diferenciadoras oriundas de suas matrizes indígenas e africanas; da proporção particular em que elas se congregaram no Brasil; das condições ambientais que enfrentaram aqui e, ainda, da natureza dos objetivos de produção que as engajou e reuniu.

Essa unidade étnica básica não significa, porém, nenhuma uniformidade, mesmo porque atuaram sobre ela três forças diversificadoras. A ecológica, fazendo surgir paisagens humanas distintas onde as condições de meio ambiente obrigaram a adaptações regionais. A econômica, criando formas diferenciadas de produção, que conduziram a especializações funcionais e aos seus correspondentes gêneros de vida. E, por último, a imigração, que introduziu, nesse magma, novos contingentes humanos, principalmente europeus, árabes e japoneses. Mas já o encontrando formado e capaz de absorvê‐los e abrasileirá‐los, apenas estrangeirou alguns brasileiros ao gerar diferenciações nas áreas ou nos estratos sociais onde os imigrantes mais se concentraram.

Por essas vias se plasmaram historicamente diversos modos rústicos de ser dos brasileiros, que permitem distinguí‐los, hoje, como sertanejos do Nordeste, caboclos da Amazônia, crioulos do litoral, caipiras do Sudeste e Centro do país, gaúchos das campanhas sulinas, além de ítalo‐brasileiros, teuto‐brasileiros, nipo‐brasileiros etc. Todos eles muito mais marcados pelo que têm de comum como brasileiros, do que pelas diferenças devidas a adaptações regionais ou funcionais, ou de miscigenação e aculturação que emprestam fisionomia própria a uma ou outra parcela da população.

A urbanização, apesar de criar muitos modos citadinos de ser, contribuiu para ainda mais uniformizar os brasileiros no plano cultural, sem, contudo, borrar suas diferenças. A industrialização, enquanto gênero de vida que cria suas próprias paisagens humanas, plasmou ilhas fabris em suas regiões. As novas formas de comunicação de massa estão funcionando ativamente como difusoras e uniformizadoras de novas formas e estilos culturais.

Conquanto diferenciados em suas matrizes raciais e culturais e em suas funções ecológico‐regionais, bem como nos perfis de descendentes de velhos povoadores ou de imigrantes recentes, os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia. Vale dizer, uma entidade nacional distinta de quantas haja, que fala uma mesma língua, só diferenciada por sotaques regionais, menos remarcados que os dialetos de Portugal. Participando de um corpo de tradições comuns mais significativo para todos que cada uma das variantes subculturais que diferenciaram os habitantes de uma região, os membros de uma classe ou descendentes de uma das matrizes formativas.

Mais que uma simples etnia, porém, o Brasil é uma etnia nacional, um
povo‐nação, assentado num território próprio e enquadrado dentro de um mesmo Estado para nele viver seu destino. Ao contrário da Espanha, na Europa, ou da Guatemala, na América, por exemplo, que são sociedades multiétnicas regidas por Estados unitários e, por isso mesmo, dilaceradas por conflitos interétnicos, os brasileiros se integram em uma única etnia nacional, constituindo assim um só povo incorporado em uma nação unificada, num Estado uni‐étnico. A única exceção são as múltiplas microetnias tribais, tão imponderáveis que sua existência não afeta o destino nacional.

Aquela uniformidade cultural e esta unidade nacional ‐ que são, sem dúvida, a grande resultante do processo de formação do povo brasileiro ‐ não devem cegar‐nos, entretanto, para disparidades, contradições e antagonismos que subsistem debaixo delas como fatores dinâmicos da maior importância. A unidade nacional, viabilizada pela integração econômica sucessiva dos diversos implantes coloniais, foi consolidada, de fato, depois da independência, como um objetivo expresso, alcançado através de lutas cruentas e da sabedoria política de muitas gerações. Esse é, sem dúvida, o único mérito indiscutível das velhas classes dirigentes brasileiras. Comparando o bloco unitário resultante da América portuguesa com o mosaico de quadros nacionais diversos a que deu lugar a América hispânica, pode se avaliar a extraordinária importância desse feito.

Essa unidade resultou de um processo continuado e violento de unificação política, logrado mediante um esforço deliberado de supressão de toda identidade étnica discrepante e de repressão e opressão de toda tendência virtualmente separatista. Inclusive de movimentos sociais que aspiravam fundamentalmente edificar uma sociedade mais aberta e solidária. A luta pela unificação potencializa e reforça, nessas condições, a repressão social e classista, castigando como separatistas movimentos que eram meramente republicanos ou anti-oligárquicos.

Subjacente à uniformidade cultural brasileira, esconde‐se uma profunda distância social, gerada pelo tipo de estratificação que o próprio processo de formação nacional produziu. O antagonismo classista que corresponde a toda estratificação social aqui se exacerba, para opor uma estreitíssima camada privilegiada ao grosso da população, fazendo as distâncias sociais mais intransponíveis que as diferenças raciais.

O povo‐nação não surge no Brasil da evolução de formas anteriores de sociabilidade, em que grupos humanos se estruturam em classes opostas,mas se conjugam para atender às suas necessidades de sobrevivência e progresso. Surge, isto sim, da concentração de uma força de trabalho escrava, recrutada para servir a propósitos mercantis alheios a ela, através de processos tão violentos de ordenação e repressão que constituíram, de fato, um continuado genocídio e um etnocídio implacável.

Nessas condições, exacerba‐se o distanciamento social entre as classes dominantes e as subordinadas, e entre estas e as oprimidas, agravando as oposições para acumular, debaixo da uniformidade étnico‐cultural e da unidade nacional, tensões dissociativas de caráter traumático. Em conseqüência, as elites dirigentes, primeiro lusitanas, depois luso-brasileiras e, afinal, brasileiras, viveram sempre e vivem ainda sob o pavor pânico do alçamento das classes oprimidas. Boa expressão desse pavor pânico é a brutalidade repressiva contra qualquer insurgência e a predisposição autoritária do poder central, que não admite qualquer alteração da ordem vigente. A estratificação social separa e opõe, assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do que corresponde habitualmente a esses antagonismos. Nesse plano, as relações de classes chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se esta fosse uma conduta natural. A façanha que representou o processo de fusão racial e cultural é negada, desse modo, no nível aparentemente mais fluido das relações sociais, opondo à unidade de um denominador cultural comum, com que se identifica um povo de 160 milhões de habitantes, a dilaceração desse mesmo povo por uma estratificação classista de nítido colorido racial e do tipo mais cruamente desigualitário que se possa conceber.

O espantoso é que os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada, como falsa, "democracia racial", raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais.

O mais grave é que esse abismo não conduz a conflitos tendentes a transpô‐lo, porque se cristalizam num modus vivendi que aparta os ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alternidade. O povo‐massa, sofrido e perplexo, vê a ordem social como um sistema sagrado que privilegia uma minoria contemplada por Deus, à qual tudo é consentido e concedido. Inclusive o dom de serem, às vezes, dadivosos, mas sempre frios e perversos e, invariavelmente, imprevisíveis. Essa alternidade só se potencializou dinamicamente nas lutas seculares dos índios e dos negros contra a escravidão.

Depois, somente nas raras instâncias em que o povo‐massa de uma região se organiza na luta por um projeto próprio e alternativo de estruturação social, como ocorreu com os Cabanos, em Canudos, no Contestado e entre os Mucker.

Nessas condições de distanciamento social, a amargura provocada pela exacerbação do preconceito classista e pela consciência emergente da injustiça bem pode eclodir, amanhã, em convulsões anárquicas que conflagrem toda a sociedade. Esse risco sempre presente é que explica a preocupação obsessiva que tiveram as classes dominantes pela manutenção da ordem. Sintoma peremptório de que elas sabem muito bem que isso pode suceder, caso se abram as válvulas de contenção. Daí suas "revoluções preventivas", conducentes a ditaduras vistas como um mal menor que qualquer remendo na ordem vigente.

É de assinalar que essa preocupação se assentava, primeiro, no medo da rebeldia dos escravos. Dada a coloração escura das camadas mais pobres, esse medo racial persiste, quando são os antagonismos sociais que ameaçam eclodir com violência assustadora. Efetivamente, poderá assumir a forma de convulsão social terrível, porque, com uma explosão emocional, acabaria provavelmente vencida e esmagada por forças repressoras, que restaurariam, sobre os escombros, a velha ordem desigualitária.

O grande desafio que o Brasil enfrenta é alcançar a necessária lucidez para concatenar essas energias e orientá‐las politicamente, com clara consciência dos riscos de retrocessos e das possibilidades de liberação que elas ensejam. O povo brasileiro pagou, historicamente, um preço terrivelmente alto em lutas das mais cruentas de que se tem registro na história, sem conseguir sair, através delas, da situação de dependência e opressão em que vive e peleja. Nessas lutas, índios foram dizimados e negros foram chacinados aos milhões, sempre vencidos e integrados nos plantéis de escravos. O povo inteiro, de vastas regiões, às centenas de milhares, foi também sangrado em contrarrevoluções sem conseguir jamais, senão episodicamente, conquistar o comando de seu destino para reorientar o curso da história. Ao contrário do que alega a historiografia oficial, nunca faltou aqui, até excedeu, o apelo à violência pela classe dominante como arma fundamental da construção da história. O que faltou, sempre, foi espaço para movimentos sociais capazes de promover sua reversão. Faltou sempre, e falta ainda, clamorosamente, uma clara compreensão da história vivida, como necessária nas circunstâncias em que ocorreu, e um claro projeto alternativo de ordenação social, lucidamente formulado, que seja apoiado e adotado como seu pelas grandes maiorias.

Não é impensável que a reordenação social se faça sem convulsão social, por via de um reformismo democrático. Mas ela é muitíssimo improvável neste país em que uns poucos milhares de grandes proprietários podem açambarcar a maior parte de seu território, compelindo milhões de trabalhadores a se urbanizarem para viver a vida famélica das favelas, por força da manutenção de umas velhas leis.

Cada vez que um político nacionalista ou populista se encaminha para a revisão da institucionalidade, as classes dominantes apelam para a repressão e a força.

Este livro é um esforço para contribuir ao atendimento desse reclamo de lucidez. Isso é o que tentei fazer a seguir. Primeiro, pela análise do processo de gestação étnica que deu nascimento aos núcleos originais que, multiplicados, vieram a formar o povo brasileiro. Depois, pelo estudo das linhas de diversificação que plasmaram os nossos modos regionais de ser.

E, finalmente, por via da crítica do sistema institucional, notadamente a propriedade fundiária e o regime de trabalho ‐ no âmbito do qual o povo brasileiro surgiu e cresceu, constrangido e deformado.

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PITACO DO ContrapontoPIG

"O Povo Brasileiro" e "As Américas e a Civilização" são duas obras de grande Darcy Ribeiro que deveriam ser leituras obrigatórias nas escolas.

Através delas é possível compreender melhor o nosso país e o nosso povo no contexto nas nações.


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Contraponto 8009 - "O 'abafa' para salvar o Robert(o) e os Marinho"

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30/04/2012

O 'abafa' para salvar o Robert(o) e os Marinho



O Conversa Afiada considera que, se não interrogar e indiciar o Roberto(o) Civita e os filhos do Roberto Marinho – eles não tem nome próprio –, a CPI será uma fraude.

Essa é a CPI da Veja e da Globo (os dois juntos, porque elas são a corda e a caçamba).

A Veja se acumpliciou ao crime organizado com o Demóstenes e o Cachoeira, recolhia o detrito sólido de maré baixa e a Globo, segundo o catecismo do Cardeal Ratzinger, o Ali Kamel, transformava esse detrito sólido em Chanel # 5.

Assim começou o mensalão – clique aqui para ler “TV Record melou o mensalão” -, assim o Daniel Dantas tirou o pescoço da forca com o grampo sem áudio – que o Luiz Fernando Correa não achou até hoje – e, mais recentemente, invadiram o Hotel Naoum em Brasília, para plantar cocaína no apartamento do José Dirceu.

(Mais tarde, dois dos personagens envolvidos nas ações em tela – Demóstenes e a imagem do suborno nos Correios; e Gilmar Dantas, com Demóstenes, no grampo sem áudio – os dois, juntos, aparecem num outro grampo edificante – clique aqui para ler “Gilmar não explica Demóstenes – o Gilmar mandou buscar”.)

Demóstenes, Cachoeira e a Delta estão mortos.

Essa CPI é a do PiG (*).

É para apurar como se trama o Golpe no Brasil: com o crime organizado.

Ou seja, como os conservadores querem revogar a decisão do eleitor e derrubar qualquer presidente trabalhista.

Nas páginas do PiG (*).

Com material do crime organizado.

Clique aqui para ver o video: “O Globo é a vanguarda do Golpe, em 1964 e hoje”.

No momento, desenrola-se uma operação “abafa” no PiG (*).

Tirar a Veja e os filhos do Roberto Marinho da CPI da forca.

É o que fazem a Folha (**) na pág. A6 desta segunda-feira, e o Estadão, na A4 (o Estadão partiu dessa para melhor: eliminou as fontes de informação – é ele próprio a fonte de si mesmo, e dane-se a verdade factual.)

Eles traçam o roteiro e o foco da CPI.

E nem falam do Robert(o) Civita ou dos filhos do Roberto Marinho.

É o pacto do silêncio: a Folha e o Estadão “desvendam” o foco da CPI e ignoram a Veja, o Policarpo e os filhos do Roberto Marinho.

Logo os PiGs (*) de São Paulo, que estão à beira da morte, exatamente por causa do poder predatório da Rede Globo.

(A Veja não conta: ela odeia o Brasil porque o dono é um perdedor.)

A Judith Brito, presidia a ANJ quando pronunciou a historica frase: o PiG (*) é a oposição.

Por isso, mereceu o prêmio O Corvo, distribuido no primeiro encontro de blogueiros sujos, em São Paulo, dois anos atrás.

E, deselegante, ela nunca foi buscar.

(O próximo encontro será no dia 25 de maio em Salvador – clique aqui para ler “Barão de Itararé convida Ayres Britto para encontro de bogueiros sujissimos”. E aqui para ler sobre a entrevista que Ayres Britto deu à Carta Capital sobre o julgamento do mensalao: “não haverá linchamento”. )

Aí, pergunta-se: a Associação Nacional dos Jornais vai defender o Robert(o) Civita e sua liberdade de imprensa ?

Clique aqui para ver o que aconteceu com o Rupert Civita na Inglaterra.

A ANJ e a OAB do Ophir vão defender o Policarpo, os filhos do Roberto Marinho, o Ali Kamel, aqueles que perderam e 10 a 0 na decisão sobre as cotas raciais ?

Pode transformar delito sólido de maré baixa, recolhido no crime organizado em Chanel # 5, Dr Ophir, D Judith ?

Pode ?

Cade a liberdade de imprensa do Policarpo ?

Os mervais acham que meter a mão no detrito sólido e operar em sintonia com os interesses empresariais do crime organizado é uma boa: desde que seja para derrubar um presidente trabalhista.

Para derrubar o Lula vale escrever uma “reportagem” de capa a quatro mãos com o Daniel Dantas, e plantar matéria de intresse do Carlinhos Cachoeira – isso está garantido pelo preceito da “liberdade de imprensa”.

Os fins justificam os meios.

O Conversa Afiada e o Tijolaço têm outra opinião, amigo navegante: jornalista bandido bandido é.



Paulo Henrique Amorim



(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Contraponto 8008 - "Governo fará investimento histórico no transporte público das grandes cidades, diz presidenta Dilma"

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30/04/2012

Governo fará investimento histórico no transporte público das grandes cidades, diz presidenta Dilma

Do Blog do Planalto - Segunda-feira, 30 de abril de 2012 às 9:19 (Última atualização: 30/04/2012 às 09:24:31)

Café com a presidenta

No programa de rádio Café com a Presidenta, transmitido hoje (30), a presidenta Dilma Rousseff destacou os investimentos do governo federal, em parceria com Estados e municípios, na melhoria do transporte público das grandes cidades brasileiras. Serão R$ 32,4 bilhões investidos em metrôs, VLTs (veículos leves sobre trilhos), monotrilhos e corredores exclusivos de ônibus. De acordo com a presidenta, esse investimento histórico é o primeiro passo para enfrentar o problema da quantidade de horas que as pessoas levam para se deslocarem dentro das grandes cidades brasileiras.

“É um investimento histórico! Porque, pela primeira vez, o governo federal vai investir fortemente no transporte público rápido, seguro e moderno nas grandes cidades brasileiras. Serão R$ 32,7 bilhões que nós vamos gastar na construção e ampliação de metrôs, na implantação de veículos leves sobre trilhos, os chamados VLTs. Nós vamos também construir corredores exclusivos de ônibus e estações e terminais de integração. O governo federal vai entrar com mais de R$22 bilhões, e os estados e municípios vão também dar sua contribuição, colocando mais R$ 10 bilhões. Esse é um primeiro passo, é uma primeira grande iniciativa para a gente enfrentar o problema da quantidade de horas que as pessoas permanecem dentro de um transporte para ir para o trabalho, para ir para casa ou para ir para a escola”, disse a presidenta.

A presidenta acrescentou que 53 milhões de brasileiros serão beneficiados com as novas obras. Reduzir o tempo dessas pessoas no trânsito, ressaltou Dilma, significa proporcionar qualidade de vida.

“Nesses projetos que nós selecionamos nós vamos beneficiar 53 milhões de brasileiros e de brasileiras, e isso nas grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio deJaneiro, Salvador, Manaus, Porto Alegre, Belo Horizonte e também naqueles municípios que fazem parte da região metropolitana dessas capitais, onde o problema do trânsito e da mobilidade urbana é o mais grave do Brasil. Muita gente, nessas cidades, chega a passar até quatro horas por dia dentro de um ônibus ou de um trem. Reduzir o tempo no trânsito significa dar condições para essas pessoas aproveitar as horas que não estão dentro do transporte para estudar, descansar, ficar com a família. E isso é que se chama qualidade de vida”, enfatizou.

Dilma disse que a maior parte do investimento será feito, estrategicamente, em metrôs e VLTs, por não obstruírem ruas e avenidas, transportarem grande número de passageiros de uma só vez, além de serem pouco poluentes.

“Foi uma opção que nós chamamos de estratégica. Nós escolhemos colocar a maior partedo investimento em metrôs e VLTs, sabe por quê? Porque esses metrôs e VLTs não vão obstruir as ruas e as avenidas. O transporte sobre trilhos, o que é que ele faz? Ele vai mais rápido e leva mais passageiros de uma só vez, e é muito pouco poluente. Essa é uma preocupação que devemos ter em cada projeto para tornar nossas cidades cada vez mais sustentáveis”, destacou.

Ao cumprimentar as trabalhadoras e os trabalhadores brasileiros pelo seu dia, 1º de maio, a presidenta destacou que os investimentos em transporte coletivo beneficiam, de forma dupla, os trabalhadores.

“Eu quero aproveitar que é véspera do Dia do Trabalhador para cumprimentar todas as trabalhadoras e todos os trabalhadores brasileiros. Mais uma vez vamos comemorar esse 1º de Maio com o Brasil gerando mais emprego e renda. É até interessante que a gente tenha falado hoje sobre o transporte coletivo, porque esse é um tipo de investimento que beneficia os trabalhadores duplamente, seja pela melhora nas condições de deslocamento no dia a dia, seja pelos empregos que o investimento na mobilidade urbana vai conseguir produzir. Esse é o caminho do desenvolvimento justo: investir para gerar melhores condições de vida e de transporte para todos os brasileiros, construir um país com maior qualidade de vida e, também, um país capaz de gerar mais renda e, portanto, ser mais justo e sem miséria. Meus parabéns a você querido trabalhador e trabalhadora brasileira, que está ajudando a construir esse Brasil que nós sonhamos”.

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domingo, 29 de abril de 2012

Contraponto 8007 - "A caminho da verdadeira abolição"

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29/04/2012
A caminho da verdadeira abolição


Do Direto da Redação - Publicado em 29/04/2012

Rodolpho Motta Lima*

Algumas vezes me manifestei aqui a respeito do Supremo Tribunal Federal, para mencionar procedimentos no mínimo discutíveis, nem sempre ajustados com os interesses da sociedade, no seu clamor por justiça. Em alguns momentos, coloquei mesmo em dúvida – como ainda coloco – não só a forma de escolha de seus membros como a natureza vitalícia dos cargos. Muito recentemente, um dos seus ministros, referindo-se ao presidente do STF que acabara de deixar o cargo máximo da Corte, acusou-o de tentativas de manipulação das decisões lá prolatadas, algo tão inadmissível como o bate-boca que então se instaurou a respeito do assunto...

Felizmente, porém, nem tudo são espinhos nessa área. Trago agora novamente o STF aqui para o meu texto, mas com outro objetivo, que é de enaltecimento de uma das suas mais dignas e justas decisões. Refiro-me àquela que considerou válido o sistema de reserva de vagas (conhecidas como “cotas”) para o ingresso dos afrodescendentes em nossas universidades, em julgamento provocado por ação impetrada pelo DEM – e não por acaso... – que arguia a ilegalidade da medida, por uma série de “inconstitucionalidades” invocadas, com argumentos vários, como a desvalorização da meritocracia, o risco da/ afirmação de uma visão racista, o desrespeito à autonomia universitária, e diversos outros que, no fundo, escondem a hipocrisia ancestral de confundir letras mortas da lei com a realidade, “presumindo” igualdades cuja negação a prática do nosso cotidiano denuncia a cada instante.

A causa em questão não é apenas a causa de um grupo étnico historicamente penalizado e discriminado em nosso país. É uma luta de profundo sentido ideológico, um embate de cidadania, que envolve princípios de afirmação da diversidade e de respeito humano à alteridade. É mais um capítulo dessa saga que, partindo da ignomínia da escravidão, ainda espalha cicatrizes odiosas nos direitos mais fundamentais devidos aos componentes da sociedade humana.

Foi em nosso país que, nas Américas, a escravatura experimentou o maior período de duração. Fomos o último dos países americanos que a extinguiu. E como as razões utilitárias de sua extinção não passaram por preocupações que buscassem então, paralelamente, as indispensáveis possibilidades de integração dos alforriados à sociedade, o que se vê, de lá para cá, é a disfarçada perpetuação de um desnível social degradante, que – alguém já o disse – transformou os “escravos do senhor” em “escravos do sistema”.

Argumentar com algo que nos remete à discutível tese do “homem cordial brasileiro” para afirmar que inexiste o preconceito racial no país, ou que as oportunidades são iguais para todos, ou que a etnia branca não deve responder pelo problema dos negros, que já teriam vindo da África como escravos (tese defendida, por exemplo, pelo Senador Demóstenes Torres), parece ser discurso de quem ou não quer ver a realidade circundante com os olhos da verdade (os ingênuos, os alienados, os desinformados), ou, pior, de quem gostaria de que ela permanecesse como é (visão etnocêntrica, elitista, opressora, racista – pode-se escolher o adjetivo).

O sistema de cotas faz parte do que se deve reconhecer como ações afirmativas, políticas de Estado eficazes que se destinam a corrigir ou remediar desvantagens sociais provocadas por estigmas preconceituosos. Tem como belíssimo fundamento a constatação de que, para corrigir - sem verborragias paliativas, mas com atitudes concretas - distorções que só podem envergonhar a nossa sociedade – e que saltam aos olhos- é preciso dar tratamento desigual para os desiguais. E de forma até radical (para quem quiser entender assim), porque essa é uma situação que nos lembra, analogicamente, a frase de Betinho, cunhada nos anos 90: “Quem tem fome tem pressa”.

As cotas não são as melhores opções, não são soluções mágicas e são conjunturais . Bem melhor seria que já dispuséssemos de todos os mecanismo de igualdade e de inclusão que as tornassem desnecessárias . Elas são, porém, um auspicioso episódio no longo percurso ainda a trilhar, em que não se devem esquecer, além dos afrodescendentes, todos os outros segmentos desvalidos na sociedade, que estão a exigir outras medidas de implantação da democracia plena. Não se pode deixar de considerar, porém, para que se perceba o que está em jogo em ações como essa, que, no segmento dos 10% dos brasileiros mais pobres, 75% deles são negros ou pardos.

Para terminar, um argumento trazido ao pleito pelos estudantes do Diretório Acadêmico da UERJ (primeira universidade que instituiu as cotas entre nós), e confirmado por autoridades educacionais que se debruçam sobre a matéria: já decorridos 10 anos da aplicação do critério, a percepção é de que, além de possibilitar um ambiente universitário mais democrático (a Universidade pública é do povo), a presença dos cotistas revela, objetivamente, que esses estudantes têm sabido aproveitar as oportunidades que lhe foram concedidas, com desempenhos de superação que os colocam no mesmo nível dos não cotistas, quando não em patamar superior a estes. ( Grifo do ContrapontoPIG)

A decisão do STF é para ficar nos anais da história desse país, que, mesmo às vezes a passos vagarosos, vai buscando caminhos para a superação de suas gritantes injustiças sociais.


Rodolpho Motta Lima
. Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
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Contraponto 8006 - Fogão campeão da Taça Rio

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29/04/2012



Botafogo campeão da Taça Rio 2012






BOTAFOGO 3 x 1 VASCO DA GAMA
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Contraponto 8005 - "Precipitado, Merval inocenta Policarpo e Veja"

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29/04/2012

Precipitado, Merval inocenta Policarpo e Veja

Do Brasil247 - 29/04/2012

Precipitado, Merval inocenta Policarpo e VejaFoto: DIVULGAÇÃO

Em artigo publicado neste domingo, colunista do Globo diz que não há nada de anormal no relacionamento entre Policarpo Júnior e Carlos Cachoeira. Das duas uma: ou ele não leu o relatório vazado pelo 247 ou sua defesa faz parte do pacto de não agressão firmado entre Abril, Globo e Folha

29 de Abril de 2012 às 10:51

247 – Vazamentos. Este é o título da coluna do jornalista Merval Pereira, publicada neste domingo no jornal O Globo. Claramente, o objetivo é limpar a barra da revista Veja e do seu diretor Policarpo Júnior, que se relacionava frequentemente com o bicheiro Carlos Cachoeira.

Merval diz que o inquérito completo da Operação Monte Carlo, vazado pelo 247, comprovaria a lisura das relações entre Veja e Cachoeira. Várias hipóteses podem ser levantadas: (1) Merval não leu o inquérito; (2) Merval leu e não compreendeu; (3) a defesa faz parte do pacto de não agressão firmado por Globo, Abril e Folha (leia mais aqui).

Até agora, o inquérito já revelou vários pontos que merecem ser discutidos pela imprensa séria:

1) Cachoeira produziu os filmes ilícitos do Hotel Naoum, publicados na revista Veja, com o objetivo de “incendiar a República”.

2) Cachoeira produziu a denúncia contra o ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot, publicada na revista Veja, para favorecer a construtora Delta – aliás, foi a revista Época, da Globo, quem fez a denúncia de que Cachoeira se vangloriava de ter “colocado no r...” do Pagot.

3) Cachoeira e Demóstenes Torres tentaram provocar o impeachment do governador Agnelo Queiroz, com denúncias publicadas na revista Veja, por meio do “PJ” (Policarpo Júnior). Sobre isso, leia mais aqui.

4) “Poli”, outro apelido de Policarpo Júnior, também aparece no inquérito numa tentativa de “f...” um secretário de segurança pública.

No mínimo, Merval Pereira foi precipitado. No relatório, Policarpo Júnior aparece também com codinomes. Em alguns momentos, além de “Poli” e “PJ”, ele é chamado de “caneta”.

Mas, para o colunista da Globo, não há nada de anormal neste relacionamento entre um jornalista e um dos maiores contraventores que o Brasil já produziu. Eis o que diz o jornalista do Globo:

“Eles (os vazamentos) demonstram mais uma vez que o relacionamento de jornalistas da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e seus asseclas nada tem de ilícito, ficando preservada, por tudo que se conhece até o momento, a tênue linha que separa a ética jornalística de atos que podem comprometê-la. O caso do jornal popular “News of the World”, que colocou seus diretores e proprietários no banco dos réus, é exemplar dessa diferença: lá os jornalistas contratavam arapongas para espionar celebridades e políticos. Aqui, até o momento está demonstrado que a revista se utiliza de gravações realizadas para revelar os escândalos da República.”

Ora, Merval. Aqui é muito pior: o bandido contratava os arapongas. As gravações – que Merval não define como legais ou ilegais - não eram realizadas para revelar escândalos da República. Mas, sim, para defender interesses comerciais privados, como os da construtora Delta ou do próprio Cachoeira.

Merdal "Abutre" Pereira

Segundo Merval, o máximo que o inquérito revela é o tratamento “íntimo” do bicheiro com o jornalista e o pedido de uma notinha.

Na posição que ocupa, de principal articulista da Globo, Merval, membro da Academia Brasileira de Letras, acaba de chancelar a associação entre o crime e a imprensa.

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Contraponto 8004 - "Vladimir Safatle: Esquerda sem medo de dizer seu nome"


29/04/2012

Vladimir Safatle: Esquerda sem medo de dizer seu nome

Do Viomundo - 29 de abril de 2012 às 16:24

por Vladimir Safatle, na Folha de S. Paulo, recomendado por Igor Felippe

Há alguns anos, o cientista político André Singer cunhou o termo “lulismo” para dar conta do modelo político-econômico implementado no Brasil desde o início do século 21.

Baseado em uma dinâmica de aumento do poder aquisitivo das camadas mais baixas da população por meio do aumento real do salário mínimo, de programas de transferência de renda e de facilidades de crédito para consumo, o lulismo conseguiu criar o fenômeno da “nova classe média”.

No plano político, esse aumento do poder aquisitivo da base da pirâmide social foi realizado apoiando-se na constituição de grandes alianças ideologicamente heteróclitas, sob a promessa de que todos ganhariam com os dividendos eleitorais da ascensão social de parcelas expressivas da população.

O resultado foi uma política de baixa capacidade de reforma estrutural e de perpetuação dos impasses políticos do presidencialismo de coalizão brasileiro.

No entanto é bem possível que estejamos no momento de compreensão dos limites do modelo gestado no governo anterior. O aumento exponencial do endividamento das famílias demonstra como elas, atualmente, não têm renda suficiente para dar conta das novas exigências que a ascensão social coloca na mesa.

É fato que o país precisa de uma nova repactuação salarial. As remunerações são, em média, radicalmente baixas e corroídas por gastos que poderiam ser bancados pelo Estado. Por isso, é possível dizer que a próxima etapa do desenvolvimento nacional passe pela recuperação dos salários.

A melhor maneira de fazer isso é por meio de uma certa ação do Estado. Uma família que recebe R$ 3.500 mensais gasta praticamente um terço de sua renda só com educação privada e planos de saúde. Normalmente, tais serviços são de baixa qualidade. Caso fossem fornecidos pelo Estado, tais famílias teriam um ganho de renda que isenção alguma de imposto seria capaz de proporcionar.

Entretanto a universalização de uma escola pública de qualidade e de um serviço de saúde que realmente funcione não pode ser feita sob a dinâmica do lulismo, pois ela exige investimentos estatais só possíveis pela taxação pesada sobre fortunas, lucros bancários e renda da classe alta. Ou seja, isso exige um aumento de impostos sobre aqueles que vivem de maneira nababesca e que têm lucros milionários no sistema financeiro.

Algo dessa natureza exige, por sua vez, uma mobilização política que está fora do quadro de consensos do lulismo.Porém a força política que poderia pressionar essa nova dinâmica ainda não existe no Brasil. Ela pede uma esquerda que não tenha medo de dizer seu nome.

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Contraponto 8003 - "Sem a Veja. Cachoeira teria chegado a tanto?"



Por Francisco de Assis

Comentário em resposta ao post "Usando a Veja para chantagem"

Caro Nassif

Este é o resumo: o que era a organização criminosa de Cachoeira em 2004, quando se associou a Veja com a gravação do Waldomiro, e o que era agora, quando foi desbaratada.

E esta é a questão: sem a Veja, teria chegado a tanto ?

Se o sr. Civita provar que não existe correlação entre o conluio com a Veja e o crescimento desta máfia, parabéns! Não será fácil, em tempos de internet, como bem sabe o Kamel e o Bolina, perdão Molina.

Caso contrário, quedará demonstrada a contribuição da Veja em muito da riqueza e poder acumulados criminosamente pela quadrilha, e portanto a revista terá sido 'pelo menos' cúmplice de muitos dos seus crimes.

Por que 'pelo menos' ? Porque é difícil acreditar que a Veja e Cachoeira sejam pares, ou que Veja serviu a Carlinhos. Ora, a Veja é o porta-voz da elite econômica dominante no país, que manda e desmanda no Brasil há séculos, e Cachoeira/Demostenes/Perillo/etc, por mais longe que pareçam ter ido, nada mais são que bandidos periféricos com mania de grandeza.

O que interessa a esta turma que a Veja vocaliza não é espalhar caça-níqueis em cidades-satélite, e sim apossar-se de um país. Recuperar-se da incompetência de seus representantes políticos, PSDB/FHC/PFL e caterva, ao permitir a "esta gente da esquerda" assumir o poder central, mostrar e executar um outro projeto de Nação. E, uma vez que democraticamente, se tornou muito dificil agora, "não tem arrego, vamos derrubar este governo" nem que seja através de um golpe, e, se é preciso usar dos serviços de tão reles criminoso, "às favas os escrúpulos".

Portanto, se nesta história há um chefe de quadrilha ele não está em Goiás, e sim na marginal, em São Paulo. E se esta CPI não chegar até ele, não terá valido a pena.



Veja bandida - O fim
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Contraponto 8002 - "Conversas detalham negócios de Demóstenes com Cachoeira"

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29/04/2012

Conversas detalham negócios de Demóstenes com Cachoeira


Da Carta Maior - 28/04/ 2012

O vazamento do inquérito contra o senador Demóstenes Torres lançou novas luzes sobre as relações do parlamentar com o esquema de Carlinhos Cachoeiras, a construtora Delta, agentes públicos e jornalistas. Após o vazamento, jornalistas e blogueiros dissecaram as transcrições das escutas telefônicas feitas entre integrantes do esquema. Conversas envolvem o ministro do STF, Gilmar Mendes, indicam tentativa de desestabilizar o governo Dilma. As articulações com a revista Veja são uma constante.

Najla Passos

Brasília - O vazamento do inquérito contra o senador Demóstenes Torres (ex-DEM), na noite de sexta (28), momentos após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowsky, autorizar seu repasse à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional, colocou fim à onda de vazamentos seletivos que vinha ocorrendo na grande mídia e lançou novas luzes sobre as relações do parlamentar com o esquema de Carlinhos Cachoeiras, a construtora Delta, agentes públicos e veículos da imprensa.

Em uma espécie de cobertura colaborativa descentralizada e espontânea, dezenas de jornalistas e blogueiros dissecaram, em algumas horas, o conteúdo das centenas de páginas de transcrições de escutas telefônicas feitas com autorização judicial entre os principais membros da quadrilha de Carlinhos cachoeira. O resultado é uma nova percepção sobre quem é, e como agia e quem eram os parceiros do senador que fez carreira com um discurso pesado de combate à corrupção e ao crime organizado.

As denúncias apontam, por exemplo, que Demóstenes teria atuado em conjunto com o ministro do STF, Gilmar Mendes, para levar à corte máxima uma ação bilionária envolvendo a companhia Energética de Goiás. (Leia aqui). E que a quadrilha à qual está vinculado atuou para derrubar, no ano passado, a cúpula do Ministério dos Transportes. (Leia aqui).

Impressionam, especialmente, as articulações sistemáticas entre Demóstenes, Cachoeira e a revista Veja, para a publicação de matérias de interesse do crime organizado. (Veja aqui um exemplo).

Acusações contra Demóstenes
No pedido de investigação encaminhado ao STF, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, aponta graves indícios da prática, pelo senador, de crimes de corrupção passiva, prevaricação e advocacia administrativa. “Constatou-se que o Senador Demóstenes Torres mantém estreitos vínculos com Carlos Cachoeira, de natureza pessoal e, também, de natureza profissional. Os contatos telefônicos entre eles são praticamente diários, sucedidos, muitos deles, de encontros para tratar de assuntos que não poderiam ser conversados por telefone. O conteúdo das conversas revela graves indícios de que o Parlamentar valia-se do seu cargo para viabilizar interesses econômicos comuns com Carlos Cachoeira”, afirma Gurgel.

De acordo com o procurador-geral, “são vários os contextos de ação do Parlamentar em benefício da Delta, existindo até a suspeita, extraída de diálogos interceptados, que ele seria sócio oculto da empresa”. Exemplo são diálogos captados entre os dias 12 e 13 de julho de 2010, nos quais Demóstenes é flagrado cuidando de assuntos da Delta com o Governo do Estado de Goiás. Pelos diálogos captados entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o então diretor da Delta para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu, a empresa estaria tendo dificuldade na condução de um contrato em razão de o Governo ter dado preferência à Queiroz Galvão e à Odebrecht, que, por isso, “queriam comandar o processo”.

CARLINHOS: (..) me escuta, não é melhor a DELTA sair fora desse trem não, ô

CLAUDIO ? Nós tamo fazendo média com DELTA ai, eu não tenho compromisso nenhum com DELTA, não,

CLÁUDIO: Que que é que você tá falando? O que que é?

CARLINHOS: Eu não tenho compromisso nenhum com DELTA, cara,eu pego e tiramos a DELTA, fala com o MARCONI ele pega e tira a DELTA, sem problema nenhum, você deixa esse HERALDO aí tomar conta do nossos negócios (INAUDÍVEL) eu tiro a DELTA, entendeu ? Não tenho compromisso nenhum com DELTA, tenho compromisso com você, com DELTA não tenho nenhum, entendeu ?

CLÁUDIO.. Uai, eu não tô entendendo, não tô entendendo porque você tá falando isso aí, sinceridade, cara.

CARLINHOS: (INAUDÍVEL) ele ia cobrar pedágio do pessoal, já não aconteceu, depende se o pessoal for, nós somos os últimos, já tem o pessoal da ODEBRECH mandando, todo mundo mandando e a gente aqui escutando, por que ? Porque você põe o HERALDO incompetente lá, entendeu ? E o que que eu tô fazendo com DELTA, cara? (...)

CLÁUDIO: (..) o cliente ai que colocou a ODEBRECH e a GALVÃO,cara, na história, você sabe ( ...) agora os caras tão botando as manguinhas de fora, achando, achando que como o cliente botou eles, agora eles mandam igual a nós, só que nós já falamos, o parceiro aí do lado aí, já me falaram que ele falou uma cagada, que não podia ter falado o nome do DEMÓSTENES, ele falou o nome do DEMÓSTENES na reunião, então nós estávamos falando que o dono do negócio é um sócio oculto, aí foi e falou que era o DEMÓSTENES
o dono do negócio aí é f., né, amigo?


São muitas as evidências de que Demóstenes recebia, sistematicamente, dinheiro da quadrilha. Conforme consta no inquérito, em diálogo no dia 22/3/2011, às 11:18 horas, entre Carlos Cachoeira e Cláudio Abreu, ainda não degravado, “é expressamente referido que o valor de um milhão foi depositado na conta do Senador Demóstenes e que o valor total repassado para o Parlamentar foi de R$ 3.100.000,00 (três milhões e cem mil reais)”.

Há outras gravações que falam em repasses menores, presentes, compras de vinhos caros e até foguetes para a comemoração da formatura da esposa de Demóstenes. A denúncia mais grave já levantada até o momento, é a que trata do repasse dos R$ 3,1 milhões. O procurador já pediu a quebra de sigilo bancário do senador, do então superintendente regional da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, de Cachoeira e seus principais comparsas para aprofundar as investigações.

Confira trecho do diálogo entre Claudio Abreu e Geovani (comparsa de Cachoeira), no dia 22/3/2011:

CLÁUDIO ABREU: Geovani

GEOVANI: Pode falar

CLÁDIO ABREU: Eu tô vendo aqui o que pagou em fevereiro aqui,pagou pra você 5.530. Era pra você colocar 4.977. Tá faltando aqui um saldo de 1.171, mais o 1 milhão que é aquele trem lá pra trás. Aquele lá é que vocês já usaram que o CARLINHOS reteve. Então, você tá me devendo 2.172 aqui na minha conta cara! O 1 (um milhão) que o CARLINHOS tá usando mais esse 1.172

GEOVANI: Então, mais tem aqueles 600 e o 173 ué, que "mandô" eu passar!

CLÁDIO ABREU: Eu já descontei Dr. É 1.972.000,00 menos 801.000,00. Você descontou aqui 600 mais 173, mais duas de 20 do JOÃO, mais uma de 20 para um rapaiz ai, dá 801. É 1.972 menos 800, vai ficar 1.171.

GEOVANI: Justamente, menos um (um milhão) que ele tá usando

CLÁDIO ABREU: Menos um não, cara. Esse menos um é lá pra trás. Você já descontou ele rapaiz. Você tá doido. Agora vai descontar mais um milhão.

GEOVANI: Não moço. Não descontou não. Esse um ele tá usando já faz dias já uai. Você sabe disso?

CLÁDIO ABREU: Eu sei amigo, esse um ele tá usando desde outubro do ano passado. Foi das contas do ano passado cara, que ele reteve 1.000.000,00 (um milhão) e não devolveu! Agora esse aí, foi que eu paguei pra vocês agora em fevereiro.

GEOVANI: Não, CLÁUDIO. É um seguinte: aquele 1.000.000,00 (um milhão) que descontou aquela vez é outro. Ele tá usando 1.000,000,00 desse agora. Por isso que toda vez tá dando essa divergência

CLÁDIO ABREU: Então ele segurou 2.000.000,00?


O assunto continuou no dia seguinte, entre Cláudio e o próprio Cachoeira:

CARLINHOS: Fala, CLAUDIO!

CLAUDIO: Eu to com os meninos aqui e eles mataram aqui, mesmo. É aquilo que eu falei, CARLINHOS... É Um milhão do Professor, que você pediu pra mim fazer... diluiu, já morreu. E mais um milhão que você reteve aí que é coisa particular sua... que é o que você tem que passar pra mim. O GEOVANI tá me passando aqui agora.

CARLINHOS: Que eu retive?... O quê que eu retive?

CLAUDIO: Um milhão que ele tá falando aqui, uai! Um milhão do DEMÓSTENES morreu! Aquele lá ficou na minha conta. E um milhão que você reteve em Dezembro.... É... ele falou que você tinha falado comigo... eu não lembro dessa conversa sua comigo, não.

Mas você não precisa falar comigo.

CARLINHOS: Vai cagar, CLAUDIO. Você tá brincando, né? Vai cagar!.. Eu precisava falar com você agora à tarde. Vai ter um tempinho pra mim ou não?

CLAUDIO: O "Vai cagar" tá no viva-voz aqui. O GEOVANI vai falar procê porque é ele que tá me mostrando as contas aqui, uê. Sou eu não!

CARLINHOS: Vai tomar banho, rapaz! Só porque eu vou te entregar naquele negócio do Copacabana Palace?

CLAUDIO: Ah, vai tomar no c., CARLINHO! Cê tá onde? Os meninos ficaram aqui. Agora que eu fui atender eles aqui. Ele tá me passando aqui um negócio aqui... é.... desse um milhão que você reteve aqui. Não é aquele do DEMÓSTENES que você já torrou, não.

É o outro.

CARLINHOS: É... vai cagar!


O procurador também afirma que “o senador Demóstenes, valendo-se do prestígio do cargo, intermediou interesses de Carlos Cachoeira perante a Procuradoria-Geral de Justiça de Goiás, chefiada por seu irmão, Benedito Torres”, como revela gravação de 16/5/2011:

CARLINHOS - doutor

DEMOSTENES - fala professor, você me ligou? você me ligou,professor?

CARLINHOS - liguei, você falou com seu irmão?

DEMOSTENES - de novo não, vou encontrar com ele pessoalmente

CARLINHOS - hã tá, deixa de falar, lá no DAE de Anapólis tem aquela empresa de carros lá que é prestadora de serviços, e lá só pode indústria ...e aquele malandro,aquele malandro daquele cara lá do (..) industrial ta ganhando um milhão dele, para dar vinte alqueires para ele lá, o cara tá até com o BALDIA, o BALDIA vai por o Ministério Público, mas você podia adiantar aí, precisava de uma entrevista com o promotor lá do jornal do BOTINA dizendo que vai entrar com o processo entendeu, sobre desse caso aí.

DEMOSTENES - é aquele negócio da GABARNO né?

CARLINHOS - exatamente, precisava designar um promotor pra ler isso aí

DEMOSTENES - na hora, é o de ANAPÓLIS, ô0000 e também é o seguinte, o problema é que o BICA ,eu to sabendo dessa história, fez um acordo com o tal de JOÃO FURTADO lá, pro JOÃO tomar conta dos casos, isso não pode acontecer né, não falei nada pra ele, (..) tem que, tem que ver aí, era melhor chamar o BICA que o BICA resolve esse trem

CARLINHOS - resolve nada, tem que atropelar ele, ele tá na mão do JOÃO, quem manda nele é o JOÃO e o JOÃO tá ganhando dinheiro também, tem que ser via Ministério Público, entendeu

DEMOSTENES - então vamo fazer, pode deixar que eu tomo conta disso então, falo, é vou ver como que faz isso, deixa isso aí é por minha conta então que vou resolver, mas o BICA tem que ficar, tem que ficar é, vou procurar, vou encontrar com meu irmão agora na hora do almoço, agora nos vamos almoçar juntos e vou falar essa questão com ele falo.

CARLINHOS - manda ele lá designar um promotor pra entrar com uma ação contra isso aí, porque isso aí é parte do Ministério Público municipal, entendeu, não precisa nem fica sabendo.

DEMOSTENES - é verdade, pode entrar por lá, pode entrar aqui também contra ato (....)

CARLINHOS - exatamente, tá bom, um abraço

DEMOSTENES - então o negócio é esse, o trem lá é comércio e lá é reservado só para indústria, né?

CARLINHOS - pra ter ideia, aonde eles estão lá hoje atrapalha o trânsito inteiro e dez empregos que só gera é prestadora de serviços e lá é industria pô,entendeu, e agora com o acordo com o (..) vão dar vinte alqueires de terra que o estado comprou a quatrocentos mil reais pra dá pra eles, pra gerar mais dez empregos

DEMOSTENES - não ok, deixa isso comigo,falo

CARLINHOS - um abraço, doutor obrigado

DEMOSTENES - um abraço, tchau

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