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05/05/2012
EUA: Uma econimia abduzzida por extremistas
Do Viomundo - publicado em 4 de maio de 2012 às 11:34
por Heloisa Villela, de Washington
Está difícil tirar a economia americana do buraco. As últimas estatísticas, divulgadas hoje, mostram que a geração de novos empregos em abril ficou muito abaixo do que se esperava. O índice oficial de desemprego caiu para 8,1%. Mas só caiu porque muita gente desistiu de procurar trabalho, já que não consegue encontrar nada. E essas pessoas não entram na conta. Outro índice oficial, mais confiável, que considera todos os desempregados, está parado em 14,5%. Enquanto a Alemanha defende políticas recessivas, a Europa começa a questionar a validade da redução dos orçamentos públicos em época de vacas magras (como nós, latino-americanos, descobrimos que não dá certo durante a crise da dívida externa e dos famigerados programas do FMI). O economista Paul Krugman, colunista do New York Times, diz que a política americana foi abduzida por extremistas que impedem o país de sair da recessão. Acompanhem:
Plutocracia, Paralisia, Perplexidade
Paul Krugman, no New York Times
Publicado em 3 de Maio de 2012
Antes da Grande Recessão, eu dei algumas palestras na quais falei sobre o aumento da desigualdade para ressaltar que a concentração de renda no topo havia atingido níveis nunca vistos desde 1929. Com frequência, alguém na plateia perguntava se isso significava que outra depressão era iminente.
Bem, não é que é?
A ascensão dos 1% (melhor ainda, dos 0,01%) provocou a Pequena Depressão que estamos enfrentando agora? Ela provavelmente contribuiu. Porém, o ponto mais importante é que a desigualdade é o principal motivo para a economia estar tão deprimida e o desemprego tão alto. Nós respondemos à crise com uma mescla de paralisia e confusão – e os dois têm muito que ver com as distorções provocadas pela riqueza na nossa sociedade.
Falando de outra maneira: se algo como a crise financeira de 2008 tivesse acontecido, digamos, em 1971 – ano em que Richard Nixon declarou que “eu agora sou Keynesiano em matéria de política econômica” – Washington provavelmente teria respondido de forma bem mais eficiente. Teria havido um grande consenso bipartidário em favor de uma ação forte e teria havido um amplo acordo sobre que tipo de ação era necessário.
Mas isso foi naquela época. Hoje, Washington é marcada por uma combinação de partidarismo amargo e confusão intelectual – e os dois são, eu argumentaria, em grande medida resultado da extrema desigualdade de renda.
Sobre partidarismo: Thomas Mann e Norman Ornstein, acadêmicos que estudam o Congresso, têm provocado discussões com um novo livro que trata de uma verdade que, até agora, não se podia mencionar em círculos políticos. Eles dizem que nossa política disfuncional é em grande parte consequência de uma transformação do Partido Republicano em uma força extremista que “descarta a legitimidade da oposição política a ela”. Você não consegue cooperação ou servir os interesses nacionais quando um lado não vê distinção entre interesse nacional e seu próprio triunfo partidário.
Então, como isso aconteceu? No último século, a polarização política seguiu de perto a concentração de renda, e existe motivo para se acreditar que a relação entre as duas é de causa. Especificamente, o dinheiro compra poder, e o enriquecimento de uma pequena minoria efetivamente comprou a lealdade de um dos nossos dois partidos majoritários, no processo destruindo qualquer possibilidade de cooperação.
E a aquisição de metade do espectro político por parte do 0,01% é, eu diria, responsável pela degradação do nosso discurso econômico, o que tornou impossível qualquer discussão sensata a respeito do que deveríamos fazer.
As disputas econômicas costumavam ser balizadas por uma compreensão comum a respeito das evidências, criando um amplo âmbito de entendimento a respeito de política econômica. Para usar um dos exemplos mais proeminentes, Milton Friedman pode ter se oposto ao ativismo fiscal, mas deu todo apoio ao ativismo monetário para enfrentar grandes quedas da atividade econômica, de modo que hoje ele seria enquadrado bem à esquerda do centro em muitos dos debates atuais.
Agora, porém, o Partido Republicano é dominado por doutrinas que antes existiam apenas na margem da política. Friedman defendeu flexibilidade monetária; hoje, a maior parte do G.O.P. (o Partido Republicano) é fanaticamente devota do padrão ouro. N. Gregory Mankiw, da Universidade Harvard, conselheiro econômico do Romney, descartou, no passado, os que diziam que os cortes de impostos se pagam chamando-os de “charlatães e excêntricos”; hoje, essa ideia está muito próxima de se tornar doutrina oficial dos republicanos.
Mas essas doutrinas, majoritariamente, fracassaram na prática. Por exemplo, os conservadores têm previsto muita inflação e disparada das taxas de juros nos últimos três anos, e erraram todas as vezes. Mas esse fracasso não alterou em nada a influência que eles têm dentro do partido que, como Mr. Mann e Mr. Ornstein observaram, “não se deixa convencer por fatos, evidências e ciência”.
E por que o G.O.P. é tão devoto dessas doutrinas, apesar dos fatos e evidências? Isso certamente tem muito que ver com o fato dos bilionários amarem estas mesmas doutrinas, que servem de argumento para políticas que servem a seus próprios interesses. Portanto, o apoio dos bilionários é o principal motivo da manutenção destes charlatães e excêntricos na ativa. E agora essas mesmas pessoas efetivamente são donas de todo um partido político.
O que nos traz à questão sobre o que será preciso para acabar com a depressão na qual estamos.
Muitos propagandistas garantem que a economia norte-americana tem um grande problema estrutural que impede uma rápida recuperação. As evidências, entretanto, apontam para uma simples falta de demanda, o que pode e deve ser curado rapidamente por uma combinação de estímulos fiscal e monetário.
Não, o verdadeiro problema estrutural está no nosso sistema político que foi deturpado e paralisado pelo poder de uma pequena e rica minoria. E a chave para a recuperação econômica está em descobrir uma maneira de vencer esta minoritária influência maligna.
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