terça-feira, 27 de novembro de 2012

Contraponto 9853 - "O inútil esforço para destruir um mito"

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27/11/2012 

O inútil esforço para destruir um mito

 

Do Cafezinho -26/11/2012



 Miguel do Rosário

 

O Globo de hoje oferece um interessante estudo de caso. A Polícia Federal prendeu diretores de agências reguladoras e a chefe do escritório da presidência da república em São Paulo, a senhora Rosemary Noronha. Um lamentável episódio que merece mesmo a primeira página dos jornais. Até aí tudo bem.  O Globo, no entanto, força tremendamente a barra ao usar o escândalo para atingir Lula.




Primeiramente, o escândalo não tem nada a ver com o mensalão. Encontraram ligações entre Valdemar Costa Nesto e Paulo Vieira, diretor da Anac, mas o teor das conversas e o histórico de ambos revelam que o interesse comum eram negócios no Porto de Santos. Não tem nada a ver com mensalão, nem com Lula. Valdemar já foi diretor da Companhia Docas de São Paulo (Codesp) e o grupo de Vieira atua na mesma região portuária.




Falar em “elo” entre os dois escândalos seria como encontrar conexão entre a privataria tucana e os desvios de verba nas obras do Rodoanel em São Paulo. Pode haver personagens em comum, porque os mesmo corruptos operam em frentes distintas. Mas uma coisa não tem a ver com outra.

Mas isso é o de menos. A cachorrada mesmo é a perseguição implacável de Lula.
Vejam só. Uma funcionária de terceiro escalão é apanhada pela Polícia Federal e a foto de quem aparece com destaque na página 4?


A obsessão por Lula é doentia. Ora, culpem Dilma ao menos! Ela é a presidente! Um ataque a Dilma seria prejudicado, no entanto, pelo fato de que as prisões foram feitas pela própria Polícia Federal, que é subordinada ao Ministério da Justiça e, portanto, à presidente.

Observe ainda que a manchete da página foi feita com uma frase de segunda mão:
— Eu me senti apunhalado pelas costas (…) desabafou Lula, segundo gente com quem ele conversou.

Segundo gente?

A coisa é ainda mais cretina, porque a frase não apenas vira manchete, com direito à foto do homem, como será mote de uma coluna inteira de Noblat, dedicada apenas a insinuações levianas, irresponsáveis e caluniosas acerca do ex-presidente.

Lula foi presidente da república, ou seja, praticamente todos os funcionários federais, concursados ou indicados, estavam subordinados a ele. Foi Lula quem aparelhou e fortaleceu a Polícia Federal, permitindo que ela investigasse membros do próprio governo. Por isso mesmo, culpar o ex-presidente por malfeitos de mequetrefes de terceiro escalão é apenas uma tentativa canhestra (a trilionésima) de lhe enfraquecer politicamente.

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A coluna de Noblat é um agrupamento de imbecilidades, mas já que a moda hoje é reciclar lixo, talvez encontremos também algum uso para suas cretinices. O texto de Noblat segue em negrito, o meu em fonte normal. Se alguém reproduzir, favor cuidado para manter a diferenciação.

Enganado de novo?, por Ricardo Noblat
Ao se convencer que o Supremo Tribunal Federal seria duro com os réus do mensalão e despacharia para a cadeia cabeças coroadas do seu governo, Lula observou outro dia numa roda de amigos: “Não serão juízes que escreverão o último capítulo da minha biografia, mas o povo”.

Noblat e seu jornalismo fofoca… Lula observou outro dia numa roda de amigos…

A memória coletiva é falha. Não costuma guardar frases longas. Lula poderia ter dito algo do tipo: “A História me absolverá”. Foi Fidel Castro quem disse em 1953 depois da tentativa malsucedida de assaltar o quartel de Moncada na província de Santiago de Cuba. Como advogado, e ótimo orador, fez questão de se defender no tribunal. Aí cometeu a frase. Não sei se a História absolverá Fidel. No caso de Lula é ainda cedo para prever quem escreverá o último capítulo de sua biografia. Só digo para não confiar muito no povo.

Noblat deixa bem claro aí o objetivo de seus patrões: como não conseguiram destruir Lula enquanto presidente, a missão agora é destruir a sua história. Só rindo. Vejamos os exemplos que virão.

Em 1960, por exemplo, Jânio Quadros se elegeu presidente com uma votação recorde. Renunciou com sete meses de governo. Imaginou voltar ao poder nos braços do povo. Desconfiado, o povo não se mexeu. Na véspera de tomar posse em 1985, o presidente Tancredo Neves baixou hospital. Viveu apenas mais 39 dias para ser operado sete vezes. Foi uma comoção. Um ano depois, pouca gente ainda o citava.

Que coisa mais estúpida. Comparar Jânio Quadros, candidato da UDN, conservador, que não fez nada pelos pobres, nem pelo desenvolvimento, nem pela democracia, a Lula… Sem comentários. Tancredo Neves nunca foi eleito pelo povo, e sim escolhido numa eleição indireta monitorada pelos militares, então nem conta. Sorry, Noblat, mas Lula governou oito anos, elegeu sua sucessora, acaba de eleger o prefeito de São Paulo, e durante seu governo registrou-se, no Brasil, a maior ascensão sócio-econômica já vista no planeta.

Lula só terá a chance de ver o povo escrever o último capítulo de sua biografia se for de novo candidato a presidente. Do contrário, o mensalão ficará para sempre como o desfecho de uma trajetória – toda ela – excepcional.

Besteira. Mesmo com a mídia, sobretudo a paulista, bombardeando todos com ataques maciços de mensalão, o candidato do PT ganhou em São Paulo. O desfecho da trajetória de Lula sempre será o desempenho concreto de seu governo. O mensalão, embora nascendo de problemas reais de caixa 2, acabou por se tornar muito mais um ataque da oposição midiática, e sua incrível pressão sobre judiciário, do que um erro de Lula, que aliás nem é citado na Ação Penal 470.

Quem diria que um fugitivo da miséria do Nordeste, um ex-torneiro mecânico semianalfabeto, governaria o Brasil duas vezes? E elegeria seu sucessor? Quem diria que o partido dele, dono do discurso da ética e da honradez, patrocinaria um dia o maior escândalo de corrupção da história recente do país? 

Bem, maior escândalo segundo que parâmetros? Essa é a primeira grande falácia midiática quando fala do mensalão. Muitos outros escândalos envolveram valores maiores. Só o do Marka e Fontecidam, que receberam informações privilegiadas do Banco Central, na era tucana, envolve indenização, pedida pela justiça, de R$ 8,4 bilhões… Já o mensalão foi um escândalo de corrupção curioso, onde os principais envolvidos, como Genoíno, é um durango kid que mora na mesma casa há 30 anos, Silvio Pereira gerencia um pequeno restaurante da família, e a ex-mulher de Dirceu ganhou um… empréstimo para comprar um apartamento e um… emprego meia boca num banco!

É patética a reação de alguns dos condenados do PT às decisões tomadas pelos ministros do Supremo. Sugerem que os ministros trocaram de lado se unindo aos conservadores e reacionários.

Pois foi exatamente isso que aconteceu.

Culpam a imprensa por isso. (Jamais em parte alguma vi uma imprensa tão poderosa…).

Exato. Se estudar a imprensa de outros países, verá que não tem tanto poder real (em dinheiro, em concentração de mercado). Estude também a história da imprensa no Brasil, Noblat. Quer dizer, deixe de ser cara de pau. Você sabe muito bem que a ditadura militar consistiu, entre outras coisas, numa grande operação para aniquilar a imprensa independente, e deixar viva apenas a imprensa reacionária, golpista e servil ao interesses estrangeiros.

E incitam os chamados “movimentos sociais”, movidos a dinheiro público, a promover o “julgamento do julgamento”. Voltaremos à época dos júris estudantis simulados? Se voltarmos estarei dentro!

Sim, Noblat. O julgamento do mensalão foi político. Foram ditos absurdos jurídicos, contrassensos lógicos, e ofendeu-se gravemente princípios democráticos. Não podemos ser governados por juízes-marionetes da mídia.

Os mensaleiros foram sentenciados por uma larga maioria de ministros que Lula e Dilma escolheram.

Essa ladainha, de que os juízes foram escolhidos por Lula e Dilma, não explica muita coisa. Uma mulher escolhe um marido, e de repente descobre que o sujeito é violento e mau caráter. Só conhecemos o personagem através de suas ações. Nunca antes.

A imprensa é livre para defender seus pontos de vista, embora seja falsa a ideia de que atua em bloco cobrando a condenação dos réus. Até porque a maior fatia dela é chapa branca, sempre foi e sempre será. Como não tem independência financeira não pode sequer fingir que tem independência editorial.

Mentira. A grande imprensa no Brasil age em bloco, sim, e já até admitiu que atua como força de oposição. Negar essa realidade é esquizofrenia.

Que tal aproveitar a ocasião e explicar o que o levou a avalizar para cargos importantes do governo nomes indicados por Rosemary de Noronha, secretária de Dirceu durante mais de 10 anos? Ao herdar Rosemary, Lula a promoveu a chefe de gabinete da presidência da República no escritório de São Paulo. Sempre que viajava ao exterior, Rosemary o acompanhava. Pois bem: na semana passada, a Polícia Federal prendeu seis pessoas e indiciou mais 12, acusadas de fraudarem pareceres em agências e órgãos federais. Acusada de corrupção ativa, Rosemary faz parte do grupo, e mais dois irmãos que ela empregou no governo. A nomeação de um deles foi recusada duas vezes pelo Senado em dezembro de 2009. Lula forçou a mão e no ano seguinte a nomeação foi votada pela terceira vez. Finalmente saiu. Por que tanto empenho para atender um pedido de Rosemary?

Exagera-se, como sempre, a participação de Lula. Ora, Lula também “forçou a mão” para eleger Dilma Rousseff, cuja Polícia Federal prendeu Rosemary… Se Rosemary realmente prevaricou, é culpa dela, somente dela, não de Lula. Culpar Lula por erros de terceiros é como culpar Noblat porque sua empregada surrupiou roupas numa loja.

Enganado de novo, Lula? Sei. Seja pelo menos original. Não fale em traição. Nem em apunhalamento pelas costas.

Caso as acusações se confirmem, não é Lula o enganado, e sim o povo brasileiro, a quem todo funcionário público presta juramento de servir com ética. A partir do momento, porém, que a Polícia Federal, aparelhada e fortalecida por Lula, prende altos servidores do governo, a sensação que temos é que o Estado brasileiro, finalmente, começa a desenvolver anticorpos para se livrar de seus parasitas.

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