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06/06/2014
Não é a Copa, imbecil, são as eleições!
Por Emir Sader.
A imagem do
Brasil foi projetada internacionalmente nas ultimas décadas de três
maneiras distintas: o Brasil da ditadura militar, o Brasil do
neoliberalismo e o Brasil do Lula. O da ditadura tinha a cara do
“milagre econômico” e a da repressão. Cada campo político exaltava um
lado. No neoliberalismo, da mesma forma, o Brasil foi retratado de
modelo que parecia se consagrar a fracasso.
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O Brasil do
Lula foi a imagem mais difundida do país em muito tempo.
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Depois de estar apagado na mídia internacional por um bom tempo, de repente, para surpresa geral, no meio da era neoliberal, o pais mais desigual do mundo passou a ser a referencia na luta contra a fome e o modelo de sucesso no combate à desigualdade. É uma imagem que incomoda muito. Antes de tudo, às hostes neoliberais, cujos princípios são negados abertamente pelo Brasil, que faz residir nessa negação exatamente o seu sucesso. E incomoda aos setores da ultra-esquerda, que já tinham cantado a “traição” do Lula e do PT, no começo do governo e tiveram que engolir a seco o sucesso popular interno e internacional do Brasil.
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Depois de estar apagado na mídia internacional por um bom tempo, de repente, para surpresa geral, no meio da era neoliberal, o pais mais desigual do mundo passou a ser a referencia na luta contra a fome e o modelo de sucesso no combate à desigualdade. É uma imagem que incomoda muito. Antes de tudo, às hostes neoliberais, cujos princípios são negados abertamente pelo Brasil, que faz residir nessa negação exatamente o seu sucesso. E incomoda aos setores da ultra-esquerda, que já tinham cantado a “traição” do Lula e do PT, no começo do governo e tiveram que engolir a seco o sucesso popular interno e internacional do Brasil.
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Desde o ano
passado, foi se desatando uma gigantesca campanha internacional contra o
Brasil, que busca desconstruir esse Brasil que incomoda a esses
setores. Tratou-se de dizer que, com as manifestações de junho do ano
passado, ruía todo o castelo construído no Brasil. Não poucos – da
direita à ultra-esquerda, aqui e lá fora – se valeram da palavra
“farsa”, como se tudo o que acontece no Brasil desde 2003 fosse uma
montagem, que finalmente se desmontava. Houve até quem prognosticasse
que o país entrava numa “fase de rebeliões”, fazendo dos seus desejos
realidade.
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Coisas presas na garganta vieram pra fora sem nenhuma auto-censura, acreditando que a realidade era redutível às suas palavras.
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Coisas presas na garganta vieram pra fora sem nenhuma auto-censura, acreditando que a realidade era redutível às suas palavras.
A persa de
apoio do governo incentivou a oposição a acreditar que “o ciclo do PT
havia terminado”, levando forças da própria base de apoio do governo a
acreditarem que sua hora havia chegado. Puseram seus melhores ternos e
foram para a janela a ver passar o féretro do governo.
Contam esses com a formidável maquinaria neoliberal global, que tem no The Economist, no Financial Times, no The Wall Street Journal, no El Pais,
suas vozes cantantes. Junto com a anunciada – e nunca cumprida –
desaceleração da economia chinesa, agregaram uma suposta recessão dos
Brics a uma também imaginária recuperação dos países do centro do
capitalismo. Tudo contra todas as evidencias, que os desmentem em
números, todos os meses.
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Faz parte
dessa contra-ofensiva da direita a campanha orquestrada contra o Brasil.
Para não citar a cascata de calúnias e mentiras – que incluíam desde o
assassinato de crianças em Fortaleza e uma greve geral de todas as
polícias estaduais –, basta recordar que o Ministério de Relações
Exteriores da Alemanha classificou o Brasil como “pais de alto risco”,
categoria usada para países com conflagração armada, com insegurança
total, como Nigéria, Sudão, Ucrânia.
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Nada fez com que diminuísse a procura de pacotes para a vinda ao Brasil, nem na Alemanha, nem na França como atestou o Veríssimo de Paris, depois de alinhar algumas das barbaridades que falam do Brasil por lá.
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É uma
ofensiva intencionada, pelo que o Brasil do Lula os incomoda. Aqui
dentro, com a Copa coincidindo com as eleições, a mídia – mais do que
nunca assumida direção partidária da oposição
– se joga inteiramente nas denuncias sobre a Copa e no eco desmesurado
de qualquer mobilização que, de alguma forma, possa aparecer ligada à
Copa, na expectativa de que possam desgastar a candidatura da Dilma.
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Se valem de
manifestações de distintos setores, algumas deles em que alguns, de
forma oportunista, buscam os holofotes da mídia nacional e
internacional, para gerar uma imagem de descontrole social. Contam com a
mídia internacional afoita de notícias sensacionais e com a operação
política global da direita contra o Brasil.
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Não fosse
ano eleitoral e a circunstancia de que a direita deve ter sua quarta
derrota consecutiva, a mídia não estaria tão assanhada assim. Não
estaria – até as eleições, claro – dando cobertura e sobredimensionando
qualquer manifestação existente ou por haver. Afinal, no marco geral de
diminuição sistemática das tiragens e da audiência, a Copa seria um bom
tema para diminuir esse ritmo de queda.
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Mas, não é a
Copa, imbecil! É a eleição presidencial. É a perspectiva provável de
reeleição da Dilma, ainda mais com a possibilidade de um retorno do Lula
em 2018. Isto é o que produz o desespero da direita nacional e dos seus
aliados internacionais. Não olhem para o dedo que aponta a lua, olhem
para a lua. A questão política central este ano não é a Copa, são as
eleições.
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As armas da crítica: antologia do pensamento de esquerda (os clássicos: Marx, Engels, Lenin, Trotski, Rosa Luxemburgo e Gramsci), organizado por Emir Sader e Ivana Jinkings, já está disponível por apenas R$18 na Gato Sabido, Livraria da Travessa, iba e muitas outras!
Confira o dossiê especial sobre a Copa e legado dos megaeventos, no Blog da Boitempo, com artigos de Christian Dunker, Mike Davis, Mauro Iasi, Flávio Aguiar, Edson Teles, Jorge Luiz Souto Maior, entre outros!.
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Emir Sader
nasceu em São Paulo, em 1943. Formado em Filosofia pela Universidade de
São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É
secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais
(Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Pauliceia, publicada pela Boitempo, e organizou ao lado de Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile a Latinoamericana – enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49º Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção do ano. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quartas.
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