20/06/2014
EM CLIMA DE COPA
Profetas do caos perderam mais uma vez e só vira-latas não podem comemorar
ISTOÉ Independente - 18/06/2014
Paulo Moreira Leite
A
Copa do Mundo não completou uma semana e já é possível perceber um novo
fiasco hlstórico dos profetas do caos. Os aeroportos não ficaram um
inferno nem os vôos atrasaram – na média, o número de atrasos e
cancelamentos é um dos melhores do mundo.
Os estádios
estão aí, alegrando visitantes e torcedores. Os números de gols mostram
matematicamente que esta pode ser uma das melhores Copas de todos os
tempos.
O transito não está melhor nem pior.
Os problemas reais do Brasil seguem do mesmo tamanho e aguardam solução.
Não custa lembrar, também, que nenhum país está livre de um acidente horrível nos próximos 15 minutos.
Mesmo assim,
o clima do país mudou. Já consegue viver uma experiência que se
anunciava como tragédia: hospedar uma Copa do Mundo.
O desagradável é que essa situação podia ser percebida em fevereiro.
Foi então
que, em companhia do repórter Claudio Dantas Sequeira, entrevistei Aldo
Rebelo para a ISTOÉ. Perguntamos ao ministro sobre a ameaça de caos que
todos associavam a Copa. Aldo respondeu:
“A
experiência mostra que em eventos desse porte há, em primeiro lugar,
uma grande permuta entre viajantes e passageiros. Muita gente está
chegando à cidade-sede, mas muita gente está saindo. As empresas de
evento não fazem feiras nem seminários nessa época. O passageiro
tradicional, que visita parente, que viaja a negócios, para ir a um
museu, também não viaja.”
Antecipando
uma situação que hoje se verifica em voos com menos passageiros do que
se anunciava, o ministro disse: “Em Londres, durante a Olimpíada, havia
menos gente na cidade durante os jogos olímpicos do que em dias
normais. “
Aldo
prosseguiu: “Quem não gostava de esporte não foi para Londres naquele
período, mas para Budapeste, para Praga, para Madri. Já sabemos que
algumas cidades brasileiras terão menos visitantes do que em outras
épocas do ano. No Rio de Janeiro, não haverá o mesmo número de
visitantes que a cidade recebe durante o Carnaval. Em Salvador também
não.”
Em maio, em
entrevista ao TV Brasil, Aldo Rebelo apresentou argumentos semelhantes.
Mostrou a falácia em torno dos gastos excessivos com a Copa. Fez
comparações didáticas. É um depoimento esclarecedor, que você pode ler no link
O
espantoso é reparar que muitas pessoas trataram estes depoimentos -- e
outros que tinham o mesmo conteúdo -- como exemplo de jornalismo sem
valor, chapa-branca.A
A realidade – em poucas semanas – encarregou-se de mostrar seu caráter informativo e, com perdão do autoelogio, esclarecedor.
Nelson Rodrigues diagnosticou um mal cultural do brasileiro, o complexo de vira-lata. É certo que este olhar autodepreciativo contribui para embaçar uma visão mais realista da realidade. Ainda mais quando há um interesse, nem sempre oculto, a partir de forças nem um pouco ocultas, como você sabe, de criar um ambiente de medo, desconfiança e derrota.
Mas ouso
sugerir uma segunda abordagem à doença, talvez mais atual. Após anos sem
tratamento adequado, sem remédios e sem terapia, os sintomas iniciais
de subraça se desenvolveram e tomaram conta dos pacientes.
Eles
adquiriram uma nova personalidade. Deixaram de temer as próprias
fraquezas. Estão convencidos de que condição inferior é sua verdadeira
natureza – o que talvez explique a cafajestada, abaixo de qualquer
diagnóstico médico, na Arena Corinthiana, tratada com muita naturalidade
até que a reação de homens e mulheres comprometidos com valores
democráticos.
.
Não é difícil entender por que, até agora, não conseguem enxergar o que se passa na Copa.
Não é difícil entender por que, até agora, não conseguem enxergar o que se passa na Copa.
Paulo Moreira Leite. Diretor da Sucursal da ISTOÉ em
Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente
em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época.
Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
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