segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Contraponto 17.497 - "Problema não são os autoritários da Paulista. São os órgãos de Estado contra a democracia."

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17/08/2015


Problema não são os autoritários da Paulista. São os órgãos de Estado contra a democracia.

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Todo mundo precisa, de vez em quando, “desintoxicar”.

Fernando Brito 

Foi o que fiz neste domingo, em lugar de ficar repetindo a observação do que já está mais que visto: a direita brasileira desavergonhou-se e assumiu uma forte expressão de rua que, desde que vieram os “antipolíticos” e “antipartido” de junho de 2013, alimenta os interesses conservadores.

Ela existe, sempre existiu e  continuará existindo. A diferença está no seu estado de excitação e mobilização e não é na crise econômica que ela encontra suas raízes, embora seja dela que extraia sua recente desinibição, certo que em escala menor do que a do “todo mundo está roubando” que é a tônica do hipócrita coral formado por instituições que se tornaram desgovernadas e entregues à politicagem.

A mídia, o Judiciário, o Ministério Público, a Câmara dos Deputados, o candidato derrotado nas urnas, todos se uniram para algo que, francamente, em tudo lembra um tribunal de exceção, onde o importante, não importa se com ou sem razões, o que importa é instaurar um processo de eliminação, a qualquer preço, de qualquer pretensão de que o país seja conduzido, como determinou o eleitor, por uma aliança de centro-esquerda, de tonas nacionalistas, populares e desenvolvimentistas.

Chegamos a absurdos como o produzido este final de semana, onde um relatório da Polícia Federal esmera-se em transcrever um telefonema de um acusado da Lava Jato onde o ex-presidente Lula não diz, rigorosamente, coisa alguma que interesse à investigação e ao monstruoso vazamento sobre a movimentação bancária do Instituto Lula, uma ousadia de ilegalidade que, houvesse algum tipo de respeito à legalidade, estaria provocando uma devassa para apurar a responsabilidade de divulgar dados bancários.

É muito mais grave para a democracia que isso esteja acontecendo que as manifestações da Avenida Paulista, que viraram “arroz de festa” da classe média.

A manifestação de domingo passou. Não é um elemento sólido do jogo democrático, porque dissolve-se pela falta de adesão crescente de massas – nitidamente, estão marcando passo desde que começaram – e pela falta de lideranças políticas  capazes de representá-las: favor não dizer que “somos todos Cunha” como registrava tragicomicamente uma das faixas dos manifestantes possa significar algo, como não significam os mentecaptos dos grupos “organizadores”.

O golpismo que não passou é o que está incrustado nas ações insanas que transformam – e nisso contaram com o beneplácito da inação do Governo e de seu Ministério da Justiça – as instituições em foco de agitação e não de sereno cumprimento das regras democráticas.

O golpe de Estado não raro é gestado dentro do próprio Estado.

Antes, há décadas, nos corpos militares e seus comandos, que recolheram amargos frutos diante da opinião pública por se prestarem de braço armado de processos de dominação nacional.

Agora, em instituições judiciais e parajudiciais, que se portam como uma casta de iluminados, que tudo podem, tudo julga e a todos acusam.

Bons ternos, de fino corte, em lugar dos dólmãs, mas idênticas razões absolutas para negar, como antes, o fundamento da democracia: o voto.

Como observou com lucidez Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo, o tal “republicanismo”tão brandido para justificar a inação levou-nos a um “aceita-se tudo em nome de sabe-se lá o quê”, onde o acovardamento da parcela não transtornada daquelas instituições vai entregando-as à loucura autofágica, aquela que em “nome da lei” destrói todas as garantias da lei: o contraditório, o devido processo legal, a presunção de inocência e o não desvirtuamento dos mecanismos de coação estatais.

As senhoras da foto, com o revelador cartas perguntando “por que não mataram todos em 64?”, não são uma ameaça, são umas pobres-coitadas, que cruzaram a existência sem aprender a respeitar os seres humanos.

Terríveis, mesmo,  são os que querem matar a democracia com os instrumentos do Estado, não com uma passeata.

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