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18/08/2015
Não haverá impeachment, nem renúncia de Dilma
Hélio Doyle
É inegável que é enorme a desaprovação à presidente Dilma e ao seu governo. Como é inegável a enorme rejeição ao PT. Segundo pesquisas de opinião, os números são bastante significativos, e se confirmam no dia a dia. Dilma, o governo e o PT estão, na linguagem popular, batendo no fundo do poço.
Mas não é porque a presidente e o governo estão sendo muito mal avaliados que devem cair. No Brasil, ao contrário de outros países, como a Venezuela (sim, a Venezuela) não existe a democrática instituição da revogação de mandatos. A oposição não conseguiu, por mais que venha se esforçando, encontrar uma justificativa constitucional e legal para que o Congresso decrete o impedimento da presidente. E, como vivemos no presidencialismo, não há outro caminho para se derrubar um governo, a não ser o golpe de Estado – violento ou “institucional”, nos modelos paraguaio e hondurenho.
Por isso, agora, a oposição pede a renúncia de Dilma. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tucano geralmente cauteloso, aderiu à nova onda, trazida pelas manifestações de domingo.
Mas todos eles sabem que Dilma não vai renunciar e que estão apenas fazendo jogo de cena para agradar ao público, exercendo o velho direito de travar a batalha política para desgastar o governo e se colocar como alternativa de poder.
Tucanos e demais partidos e políticos da centro-direita e da direita tentam apenas dar alguma consequência às manifestações, para que as pessoas que foram às ruas não se sintam fraudadas e abandonadas pelos políticos – dos quais, aliás, a maioria não gosta. Como políticos não são ingênuos, sabem que as pessoas que saíram às ruas representam o segmento mais radicalizado das classes médias de estrato mais elevado – quer dizer, os mais ricos. E que dentre esses estavam direitistas empedernidos e fascistas declarados. Como a mulher que lamentava não terem matado “todos” em 1964. Ou os que agrediram e perseguiram petistas e quem usava roupa vermelha. Entre os manifestantes também estavam corruptos conhecidos e ainda desconhecidos, fazendo o discurso da moralidade com a maior cara de pau. E havia os que exaltavam corruptos, até em carro de som, talvez querendo uma frente ampla com os corruptos deles, contra os corruptos do outro lado.
Pelo que mostram as pesquisas, muitos insatisfeitos com o governo e com Dilma não foram às ruas. Por diversos motivos. Uns, para não se confundirem com os radicalizados, bem ou mal intencionados, e com os fascistas. Outros porque, embora descontentes, não acham que a saída é a derrubada do governo recentemente eleito. Não querem substituir o que existe hoje por Temer, Renan, Cunha, Caiado, Agripino, Aécio ou outro tucano dando as cartas.
E muitos, os mais pobres, não foram porque as manifestações eram claramente seletivas, de uma turma que não é a deles. Não se sentiriam bem no meio daquela classe média com viés de alta e das direitas festiva e raivosa. E, além de tudo, era longe. A turma da Zona Sul do Rio não quis fazer a manifestação em Madureira, claro – muito calor, sem praia, gente pobre.
Mas nada, a não ser alguns atos de violência e algumas declarações nazistas, desqualifica as manifestações e tira dos insatisfeitos o direito de realizá-las. É bom que a população se mexa, pois há muita coisa errada que precisa ser corrigida. Cada ato político, porém, tem seu peso real e o peso que os protagonistas, de um lado ou de outro, querem lhe dar. O que vale é o peso real.
O governo não deve minimizar a insatisfação, que é concreta e vai além dos que saíram às ruas. A oposição não deve maximizar os protestos, que foram segmentados e não refletem a disposição da maioria dos brasileiros. Pelo que aconteceu no domingo, o governo não vai ser derrubado. Nem Dilma vai renunciar.
Hélio Doyle é jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal
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