28/04/2016
Temer, o retrocesso e sua inviabilidade
Por Fernando Brito
Não é preciso coisa alguma, exceto não estar obturado pelo fanatismo – e como há gente assim, hoje – para perceber que o Brasil está na iminência de uma caminhada para o passado que não tem como ser bem-sucedida.
Mais cedo, escrevi sobre a imoral intenção de tirar de 40 milhões de pessoas o miserável auxílio que lhes representa o Bolsa Família.
É algo que só um cidadão imbecilizado pela vida de classe média pode deixar de compreender o que representa nos miseráveis grotões e periferias deste país.
Áreas que, nestas cabeças, devem ser esquecidas, as primeiras, e tratadas a pau e polícia as segundas.
Mas a barbárie não vai ficar só lá, naqueles que nunca “vieram ao caso” neste país.
Vai chegar a eles, também, pela aposentadoria.
Pela violência, que responde imediatamente ao abandono (Temer, neste campo, tem um especialista a seu lado, Moreira Franco, o que havia prometido acabar com a violência no Rio em seis meses).
Vai chegar pelo salário e pela legislação trabalhista, pelo arrocho ao funcionalismo, por tudo o que se acabou por ver depois que acabou a farsa do real igual ao dólar de FHC.
Vai olhar feio para eles, pelos porteiros e domésticas, que vão começar a sentir na pele que as histórias que ouviam na TV e no rádio não eram bem como lhes contavam.
Vai chegar pelo mundo, que nos olha com espanto, querendo saber como é que um ladrão público comanda um golpe de Estado.
Vai escandaliza-los com a nudez de sua mediocridade, como fez no dia da votação na Câmara.
Vai surpreendê-los com sua voracidade, quando entregarem o pré-sal e abolirem – já deram ontem o primeiro passo, viu D. Marina? – os já miúdos cuidados com o meio-ambiente.
E vai, sobretudo, atazaná-los com o clima de guerra e radicalização que já tomou e ainda vai se ampliar neste país, porque estes retrocessos não se farão sem conflitos.
1964, mesmo no mundo da Guerra Fria, onde golpes eram internacionalmente aceitos desde que fossem “contra a ameaça soviética” só foi possível com força militar repressiva.
Hoje, esta força não pode existir, não num país desta envergadura, que não é um Sudão ou uma Somália.
Esta caminhada para o passado é, portanto, impossível e vai esmagar quem a tentar, ainda que com o apoio ostensivo da mídia e o previsível avanço policial sobre Lula, caminho fácil para um judiciário covarde, que terá de poupar Cunha et caterva…
Mas eles têm de fazê-la, porque é da sua natureza e a matilha da extrema direita o exige. Seria bom, como a Cunha, descartá-la, mas é impossível.
Em nada, já se viu, guardam a prudência de um governo que assumiria em condições precárias, sem voto.
Não, cuidam de tudo como um assalto ao poder, uma reversão completa dos rumos escolhidos eleitoralmente – como, em parte, fez Dilma, com os resultados que se viu – e anunciam pouco menos que uma “revolução” de direita, com a hegemonia que nem mesmo se tivessem vencido uma eleição teriam.
O Brasil, que nunca foi o céu, vai virar um inferno. As instituições preferiram o caminho da autodestruição, da perda do avanço civilizatório.
Entregaram o nosso país a uma aventura.
E a uma desventura, que a todos nós custará caríssimo.
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