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23/04/2015
Carta aos Ministros do Supremo, por Luís Nassif
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Como é que faz, Teori, Carmen Lúcia, Rosa Weber, Celso de Mello,
Luís Barroso, Luiz Fachin? Como é que faz? Não mencionei Lewandowski e
Marco Aurélio por desnecessidade; nem Gilmar, Toffoli e Fux por
descrença.
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Antes, vocês estavam sendo levados por uma onda única de ódio
preconceituoso, virulento, uma aparente unanimidade no obscurantismo,
que os fez deixar de lado princípios, valores e se escudar ou no endosso
ou na procrastinação, iludindo-se - mais do que aos outros - que
definindo o rito do impeachment, poderiam lavar as mãos para o golpe.
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Seus nomes, reputações, são ativos públicos. Deveriam ser
utilizados em defesa do país e da democracia; mas, em muitos casos,
foram recolhidos a fim de não os expor à vilania.
Afinal, se tornaram Ministros da mais alta corte para quê?
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Os senhores estarão desertando da linha de frente da grande luta
civilizatória e deixando a nação exposta a esse exército de zumbis,
querendo puxar de novo o país para as profundezas.
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Não dá mais para disfarçar que não existe essa luta. Permitir o
golpe será entregar à selvageria décadas de construção democrática, de
avanços morais, de direitos das minorias, de construção de uma pátria
mais justa e solidária..
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A imprensa mundial já constatou que é golpe. A opinião interna está
dividida entre os que fingem que não sabem que é golpe, e defendem o
impeachment; e os que sabem que é golpe e reagem.
Desde os episódios dantescos de domingo passado, acelerou-se uma
mudança inédita na opinião pública. Reparem nisso. Todo o trabalho
sistemático de destruição da imagem de Dilma Rousseff de repente começou
a se dissolver no ar.
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Uma presidente fechada, falsamente fria, infensa a gestos de
populismo ou de demagogia, distante até, de repente passou a ser cercada
por demonstrações emocionadas de carinho, como se senhoras, jovens,
populares, impotentes ante o avanço dos poderosos, a quisessem proteger
com mantos de afeto.
Abraçaram Dilma como quem simbolicamente abraça a
democracia. E os senhores, que deveriam ser os verdadeiros guardiões da
democracia, escondem-se?
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Antes que seja tarde, entendam a verdadeira voz das ruas, não a do
ódio alimentado diuturnamente por uma imprensa que virou o fio, mas os
apelos para a concórdia, para a paz, para o primado das leis. E, na base
de tudo, a defesa da democracia.
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A vez dos jovens
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Aproveitei os feriados para vir para minha Poços de Caldas. Minha
caçula de 16 anos não veio. O motivo: ir à Paulista hipotecar apoio à
presidente. A manifestação surgiu espontaneamente pelas redes sociais, a
rapaziada conversando entre si, acertando as pontas, sem a
intermediação de partidos ou movimentos. Mas unida pelos valores da
generosidade, da solidariedade, pelas bandeiras das minorias e pelo
verdadeiro sentimento de Brasil.
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São esses jovens que irão levar pelas próximas décadas as lições
deste momento e – tenham certeza - a reputação de cada um dos senhores
através dos tempos. Não terá o sentido transitório das transmissões de
TV, com seus motes bajulatórios e seu padrão BBB. Na memória desses
rapazes e moças está sendo registrada a história viva, tal e qual será
contada daqui a dez, vinte, trinta anos, pois deles nascerá a nova elite
política e intelectual do país, da mesma maneira que nasceu a geração
das diretas.
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Devido à censura, foram necessárias muitas décadas para que a
mancha da infâmia se abatesse sobre os que recuaram no AI5, os Ministros
que tergiversaram, os acadêmicos que delataram, os jornalistas que
celebraram a ditadura. Hoje em dia, esse julgamento se faz em tempo
real.
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Nas últimas semanas está florescendo uma mobilização inédita, que não se via desde a campanha das diretas.
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De um lado, o país moderno, institucional; do outro, o exército de
zumbis que emergiu dos grotões. De um lado, poetas, cantores,
intelectuais e jovens, jovens, jovens, resgatando a dignidade nacional e
a proposta de pacificação. Do outro, o ódio rocambolesco aliado ao
golpismo.
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Não permitam que o golpe seja consumado. Não humilhem o país
perante a opinião pública mundial.
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Principalmente, deixem na memória dessa rapaziada exemplos de dignidade. Não será por pedagogia, não: eles conhecem muito melhor o significado da palavra dignidade. Mas para não criar mais dificuldades para a retomada da grande caminhada civilizatória, quando a rapaziada receber o bastão de nossa geração.
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Principalmente, deixem na memória dessa rapaziada exemplos de dignidade. Não será por pedagogia, não: eles conhecem muito melhor o significado da palavra dignidade. Mas para não criar mais dificuldades para a retomada da grande caminhada civilizatória, quando a rapaziada receber o bastão de nossa geração.
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