quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Contraponto 982 - Eleição no Chile está decidida?


16/12/2009
Esquerda obteve 56% dos votos na eleição chilena

Portal Vermelho - 15 de Dezembro de 2009 - 15h14

O empresário Sebastián Piñera precisa conquistar 480 mil eleitores se quiser chegar à presidência do Chile no 2º turno, tornando-se o primeiro presidente de direita do país desde a saída do ditador Augusto Pinochet, há 20 anos. No 1º turno, realizado no último domingo, o candidato conservador obteve 44,05% dos votos. Já o voto da esquerda – somando-se os eleitores de Eduardo Frei, Marco Enriquez Ominami e Jorge Arrate – chega a 56%, o que contradiz a teoria de uma tendência direitista no Chile.
Em segundo lugar na disputa, o governista Frei, da Concertação (centro-esquerda), teve 29,60%. Atrás dele ficou o independente Marco Enríquez-Ominami, dissidente da Concertação, com 20,13%, seguido do também independente Jorge Arrate, da coligação Juntos Podemos, encabeçada pelo Partido Comunista, com 6,21%.
O empresário Sebastián Piñera precisa conquistar 480 mil eleitores se quiser chegar à presidência do Chile no 2º turno, tornando-se o primeiro presidente de direita do país desde a saída do ditador Augusto Pinochet, há 20 anos. No 1º turno, realizado no último domingo, o candidato conservador obteve 44,05% dos votos. Já o voto da esquerda – somando-se os eleitores de Eduardo Frei, Marco Enriquez Ominami e Jorge Arrate – chega a 56%, o que contradiz a teoria de uma tendência direitista no Chile.
Em segundo lugar na disputa, o governista Frei, da Concertação (centro-esquerda), teve 29,60%. Atrás dele ficou o independente Marco Enríquez-Ominami, dissidente da Concertação, com 20,13%, seguido do também independente Jorge Arrate, da coligação Juntos Podemos, encabeçada pelo Partido Comunista, com 6,21%.

Apesar do bom resultado, à altura das pesquisas mais otimistas de seu comando de campanha, Sebastián Piñera não obteve a mesma proporção que a direita obteve em 2005. Na ocasião, Piñera, já candidato, teve 25,41% e Joaquín Lavin, 23,23%. Juntos, somavam 49% dos votos.

Já o voto dito de “esquerda” – somando os eleitores de Frei, Ominami e Arrate – chega a 56%, o que contradiz a teoria de uma tendência direitista da população chilena. Inclusive, a principal razão da popularidade de Michelle Bachelet, que termina o mandato com 73% de aprovação, é o conjunto de políticas sociais, especialmente durante o último ano de crise econômica.

Esta situação incentivou Piñera a adotar, já no anúncio das primeiras apurações, um discurso com forte orientação social. “Serei o presidente dos que estão sem trabalho, da classe média, dos doentes, dos adultos mais velhos e de quem precisa de um governo que lhes estenda a mão”, afirmou, na sede do comando de campanha.

A equipe do candidato já adiantou que ele pensa adotar uma estratégia similar à do presidente francês Nicolas Sarkozy: atrair os jovens com um discurso baseado na mudança e na modernidade, além de oferecer ministérios a membros da Concertação. Na França, o chefe de Estado conseguiu debilitar o partido socialista com a nomeação de vários ministros de esquerda, inclusive o chanceler Bernard Kouchner.

Voto disciplinado

Para reverter a situação, Eduardo Frei pode contar com a totalidade dos votos de Jorge Arrate. O ex-socialista, que tinha criticado a falta de transparência na escolha do candidato da Concertação, já tinha apelado para um pacto da esquerda com a centro-esquerda, antes mesmo do primeiro turno, para “notificar ao país que Sebastián Piñera não será presidente do Chile”.

“Os eleitores dele votarão no Frei, automaticamente, é um voto disciplinado”, considera Paula Narvaez, porta-voz do comando da Concertação, em referência à tradição do Partido Comunista. O ex-presidente, que governou o Chile entre 1994 e 2000, deveria também atrair uma boa parte dos que escolheram Ominami no primeiro turno. Mas esta transferência não é automática.

Apesar de ter adotado um discurso de união da esquerda durante a jornada de voto, o deputado de 36 anos apareceu bem mais intransigente no seu discurso frente aos apoiadores. Ele pregou a liberdade de escolha de seus eleitores e rechaçou qualquer acordo formal com a Concertação.

“Aos que queiram negociar, eu digo de maneira forte e clara: não há nada para negociar”, afirmou. Mas disse que eleger Piñera seria “um retrocesso histórico”, considerando que o bilionário simboliza “o mais cruel do mercado”, especialmente em relação ao tema da educação pública.

O ex-socialista, apelidado de “El díscolo” (“o rebelde”, em espanhol) insistiu, porém, nas similaridades entre os candidatos que ganharam no segundo turno. “O único ponto distinto são os setores sociais que apoiam Frei”, afirmou, destacando que esse povo tem “ideias e convicções que foram seqüestradas por cúpulas e líderes partidários de um Chile do passado”.

As cúpulas partidárias se transformaram em “administradores de um modelo de distribuição de poder, de privilégios, que capturaram a política e o Estado com objetivos distintos do bem comum”, precisou. É a principal critica feita à Concertação, que conseguiu eleger quatro presidentes desde o fim do regime militar, em 1990.

A declaração foi interpretada pela equipe de Frei como uma estratégia de afastamento do jovem candidato. “Até ontem à noite, ninguém sabia qual asa do entorno de Ominami ia vencer : as pombas ou os falcões”, disse para Opera Mundi um assessor da presidente Bachelet, encarregado de facilitar o diálogo da Concertação com os “marquistas”, ou seja, os que trabalham com Marco Enriquez-Ominami.

A principal figura das “pombas” era o senador Carlos Ominami, o pai adotivo do candidato – seu pai biológico, Miguel Enríquez, um líder guerrilheiro, morreu em 1974, quando seu filho tinha apenas um ano, num enfrentamento com as forças do regime ditatorial.

Carlos Ominami aparece como o grande perdedor das eleições. Obrigado a abandonar o Partido Socialista para apoiar seu filho adotivo, não conseguiu se reeleger senador, concorrendo como independente. No sistema eleitoral chileno, um independente tem poucas chances de ganhar contra os dois principais grupos políticos.

Além de Carlos Ominami, os três políticos mais próximos de Ominami também perderam: os deputados Álvaro Escobar, Marcelo Trivelli e Esteban Valenzuela não conseguiram segurar seus cargos como candidatos independentes.

Votos brancos

“Infelizmente, ficou claro que prevaleceu a opinião dos falcões, o que é muito ruim para a gente”, disse o assessor de Bachelet, precisando que o maior medo não é só uma transferência de uma pequena parte dos votos «marquistas» para Piñera, mas que uma parte não vote em ninguém, «especialmente os mais jovens, desiludidos com a Concertação”.

Os falcões defensores da estratégia “Tudo ou nada” destacam o fato que, apesar das palavras duras contra Piñera, Ominami tem mais interesse numa vitória do postulante da direita, pois assim poderia aparecer como o opositor mais forte na perspectiva da próxima eleição, daqui a quatro anos. O comando de campanha inclusive já registrou o domínio www.marco2014.cl na internet.

Sem o apoio explícito de Ominami, Frei tentou polarizar a eleição, com uma guinada à esquerda. Num discurso qualificado entre “os melhores” da carreira deste político pouco carismático, mais famoso por seus silêncios, ele chamou seus apoiadores a “sair às ruas, levando uma mensagem progressista, humanista”. Frei se apresentou como o candidato dos direitos humanos. “Não à anistia, não a uma lei de ponto final. Os tribunais têm que fazer seu trabalho”, disse, referindo-se aos julgamentos de repressores da ditadura de Pinochet.

Humilhação

Da parte de Piñera, o principal problema pode vir de tensões entre seu partido, Renovação Nacional (RN), e seu sócio na coligação Aliança por Chile, a União Democrática Independente (UDI) – cuja principal figura, Joaquín Lavin, foi derrotada na tentativa de se eleger senador para o candidato da RN, Francisco Chahuán. A UDI considera Piñera responsável pela ruína da candidatura de Lavin, num episódio que lembrou o enfrentamento entre os dois no primeiro turno da eleição de 2005.

A derrota do candidato emblemático da UDI pode resultar num problema para Piñera na conquista de mais votos. Se tivesse sido eleito, Lavin teria como missão atrair os votos da direita mais dura, que não gosta das propostas liberais de Piñera, como ser favorável à união civil dos homossexuais, nem de seu "afastamento" em relação à herança de Pinochet.

“Em política, as humilhações causam rancores e podem custar caro”, explica o analista político Santiago Escobar, que ressalta a “ausência de rostos políticos importantes” da UDI ao lado de Piñera durante seu discurso de vitória.

Com Opera Mundi
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