quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Contraponto 3985 - "Governo irlandês capitula e inicia negociações com o FMI"

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18/11/2010


Governo irlandês capitula e inicia negociações com o FMI

Do Vermelho - 8 de Novembro de 2010 - 15h54

O governo irlandês capitulou às pressões da Alemanha e iniciou negociações com o Fundo Monetário Internacional em torno de um pacote econômico que prevê um “socorro” estimado em dezenas de bilhões de euros, condicionado a um severo ajuste fiscal, cujo conteúdo ainda não foi divulgado, mas a julgar pelo histórico do FMI e a receita imposta à Grécia custará caro ao povo do país.
Inicialmente, o governo negou a possibilidade de acordo com a instituição. Assegurou que tinha condições e recursos para cuidar da crise financeira, certamente com receio da repercussão negativa na opinião pública da intromissão do fundo na política econômica. Não resistiu muito.

Escondendo o jogo

A verdade é que uma missão da instituição já está em Dublin (capital do país) e as autoridades estão sendo acusadas de esconderem o jogo do povo, omitindo informações sobre a extensão das negociações.

Coube ao ministro das Finanças irlandês, Brian Lenihan, informar nesta quinta (18) que o país pode aceitar um pacote de ajuda para os bancos após as conversas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e representantes europeus. Em sua opinião, o estabelecimento de um fundo de contingência pode ser um "desfecho muito desejável".

A edição eletrônica do jornal Irish Times diz que as conversas entre o governo da Irlanda, FMI e negociadores europeus em Dublin devem continuar na próxima semana. Embora não tenha definido um valor preciso, o presidente do Banco Central, Patrick Honohan, sugeriu que o pacote incluirá um empréstimo de dezenas de bilhões de euros.

A crise é dos bancos

Os problemas na Irlanda constituem um desdobramento lógico da crise mundial do capitalismo iniciada em dezembro de 2007 nos Estados Unidos. O déficit fiscal foi causado pelo resgate de 45 bilhões de euros promovido pelo governo em benefício de cinco bancos duramente atingidos pela crise financeira e sob risco de falência.

O socorro bilionário dado aos banqueiros não foi suficiente para contornar a crise, mas redundou no espantoso rombo orçamentário e despertou dúvidas sobre a capacidade do governo honrar os débitos que assumiu na operação. Em consequência, as taxas de juros cobradas ao país pela banca internacional subiram (o juro dos bônus de 10 anos chegou a 8,9% ao ano, com uma diferença de 6 pontos percentuais em relação ao que é pago pela Alemanha) e o governo foi pressionado pela Alemanha a fechar um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

É o povo quem paga

Como sempre ocorre nessas circunstâncias, e a exemplo da Grécia, é o povo trabalhador quem está sendo chamado a pagar a crise do sistema financeiro. Recorrer ao FMI significa aceitar suas condicionalidades e adotar medidas ainda mais duras, como corte radical de gastos públicos, demissões, arrocho de salários e redução ou supressão de direitos trabalhistas. Por esta razão, o governo relutou em anunciar o acordo e chegou a afirmar que não precisava de ajuda.

O acordo com o FMI não vai resolver os problemas. As receitas da instituição são amargas e contribuem para agravar a crise e exacerbar a luta de classes, como se pode ver pela Grécia, onde já ocorreram várias greves gerais ao longo deste ano contra o pacote negociado com o FMI e a União Europeia, em troca de uma ajuda duvidosa, cujo objetivo real, embora não declarado, é impedir a moratória e resguardar os lucros do sistema financeiro.

O governo irlandês já anunciou um “ajuste”, com cortes no valor de 800 milhões de euros, que vai ter impactos negativos nos serviços sociais e na área de saúde. Esta última deve amargar uma redução de 10% no quadro de pessoal, a extinção de 6 mil cargos já foi prometida e os trabalhadores terão a jornada de trabalho aumentada. O FMI vai exigir bem mais do que isto.

Pacote vai agravar crise

O Estado de Bem Estar Social do país, um dos mais avançados do mundo, corre o sério risco de ser desmantelado, a exemplo do que ocorre com muitos outros países da zona do euro. Com uma população de pouco mais de 4 milhões de habitantes, a Irlanda experimentou um breve milagre entre 1995 e 2001, quando o PIB cresceu a uma taxa anual média de 9%, o que levou alguns economistas a se referirem ao país como o “tigre Celta”, em analogia aos chamados tigres asiáticos.

Mas a trajetória de prosperidade foi abortada pela crise de 2001 nos Estados Unidos e agora, de uma forma bem mais intensa, pela mais recente recessão mundial, que também começou na casa de Tio Sam. Em 2009, o PIB irlandês despencou 7,1% e ao longo dos últimos cinco anos a taxa de desemprego passou de 3% para 13,5%. Cerca de 5% da população deve deixar o país. As coisas vão piorar após o pacote de arrocho do FMI, que deve derrubar ainda mais a taxa de consumo, elevar o nível de desemprego e obstruir o caminho da recuperação econômica. Portugal pode ser a próxima bola da vez na profunda e renitente crise da dívida europeia.

Da redação, Umberto Martins, com agências
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