quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Contraponto 4175 - "Obama e Lula"

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09/12/2010

Obama e Lula
Blog do Emir - 09/12/2010

A perda rápida de prestigio de Obama revela duas coisas: a primeira é que se pode ganhar eleição centrado no marketing, mas não se pode governar centrado no marketing. A segunda é que não se muda a mentalidade conservadora, forjada durante décadas, em uma campanha eleitoral, embora se possa avançar nessa direção, contanto que esses avanços sejam consolidados por politicas governamentais.

Apesar do enorme apoio popular e mesmo dos meios de comunicação e do apoio irrisório com que contava Bush no momento das eleições, Obama venceu por uma margem pequena de votos – 4%. O que refletia a enorme virada conservadora que os EUA tinham sofrido várias décadas antes – desde a vitória de Nixon, em 1968, apelando para a chamada “maioria silenciosa”. Não apenas a opinião publica deu uma virada conservadora, como as estruturas de poder – da Justiça à educação – que passaram, por sua vez, a consolidar um pensamento de direita no conjunto da sociedade.

Na presidência, Obama não se mostrou à altura das suas promessas. Salvou o sistema bancário, com a ilusão de que este salvaria o país e deixou abandonadas as vítimas principais da crise: os desempregados e os devedores das hipotecas bancárias. Na politica externa, mudou a linguagem, mas não os pontos essenciais da estratégia imperial: Cuba, Guantanamo, Iraque, Afeganistão.

Foi penalizado, à esquerda – com a abstenção e a desilusão – e à direita – com forte mobilização conservadora – e perdeu a maioria eleitoral, ficou em minoria na Câmara, terminando penosamente sua lua-de-mel com o eleitorado.

O marketing tinha possibilitado sua vitória, mas ela não se consolidou com política que se enfrentasse à hegemonia conservadora na sociedade, mesmo dispondo da crise social para demonstrar politicas distintas de enfrentamento da crise.

No Brasil, ao contrário, o marketing eleitoral foi positivo, porque se assentava em um governo enraizado fortemente nas camadas majoritárias da população, beneficiárias das politicas sociais. A comparação entre os governos FHC e Lula era inquestionavelmente favorável a este, em todos os níveis. Daí que a oposição buscou um atalho para chegar a setores da população através da exploração de preconceitos de caráter religioso. A retomada da esfera politica como essencial, determinou finalmente a vitória de Dilma.

A diferença entre Lula e Obama é que, com o primeiro, o marketing está apoiado em medidas concretas de um governo de caráter popular, cujas políticas defenderam os direitos da população durante a crise e estendem esses direitos com seu modelo econômico e social. Por isso Lula saiu vitorioso e Obama foi derrotado. Lula fortaleceu os bancos públicos para combater a crise, enquanto Obama confiou em que a recuperação dos bancos privados em crise alavancaria a recuperação da economia, se equivocou e foi derrotado.

Uma imagem eleitoral pode ser construída tecnicamente, porém só se sustenta se estiver apoiada em um governo e em uma liderança sólida e coerente politicamente.

*Emir Sader. Sociólogo e cientista político
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2 comentários :

  1. Não vou aqui meu caro Célvio, comentar o artigo como sempre de alto nível do professor Emir Sader, que me habituei a acompanhá-lo no Carta Maior. Quero aproveitar para parabenizá-lo pelo seu blog, ferramenta utilizada em prol de uma mídia mais democrática e comprometida com os interesses da nação. Por fazer algo semelhante entendo sua luta. Virei frequentador assíduo deste espaço.
    http://easonfn.wordpress.com

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  2. Caro Eason: disponha do ContrapontoPIG e receba um abraço cearense do Célvio.

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