03/03/ 2012
Celso Lungaretti: "Querem ganhar do governo no grito"
Do Vermelho - 3 de Março de 2012 - 10h49
O colunista Hélio Schwartsman, na Folha de S. Paulo deste sábado (3), após fazer uma profissão-de-fé antiditatorial como preâmbulo, sustenta ser um "exagero, porém, que as leis e regulamentos castrenses permitam enquadrar e punir por desrespeito à hierarquia os oficiais reformados, que são, para todos os efeitos, cidadãos aposentados".
Segundo Schwartsman, ainda é pouco o que lhes concedeu uma lei aprovada no catastrófico Governo Sarney, dando aos militares o direito de "opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público". Exatamente o que eles haviam negado à totalidade do povo brasileiro durante os 21 anos anteriores.
No entanto, a politização e a partidarização das Forças Armadas – às quais se acabará chegando se for flexibilizado demais o regulamento disciplinar dos fardados e pijamados – é potencialmente muito arriscada num país que passou por constantes turbulências de origem ou com envolvimento militar no início do século passado, sucumbindo em seguida a duas ditaduras dificílimas de remover.
Vejam o caso presente. Os seguidores do torturador Brilhante Ustra não estão discutindo a Comissão da Verdade em tese, mesmo porque já é lei contra cuja aprovação nada mais podem fazer, mas sim visando atingir objetivos eminentemente práticos: tentam intimidá-la, antes mesmo de empossada; e intimidar os ministros Celso Amorim, Eleonora Menicucci e Maria do Rosário; e intimidar a própria presidente Dilma Rousseff.
Externando sem papas na língua seu extremo desprezo pelo Legislativo e pelo Executivo, sonham mesmo é com uma volta ao escabroso período da tutela castrense sobre a Nação.
Então, enquanto subsistir tal viés totalitário e os militares da reserva insistirem em conturbar a política brasileira com ostensivas provocações, turvando a água para os pescadores da ativa eventualmente entrarem em cena, seria suicida uma postura complacente por parte do Governo Federal.
Não é hora de abrir mão de dispositivos aplicáveis dos regulamentos disciplinares dos fardados, mas, pelo contrário, deve utilizá-los na medida necessária para esmagar os ovos de serpente antes que eclodam.
Quando alguém tenta ganhar de um governo no grito, a sabedoria política e até o comezinho bom senso mandam que o governo grite mais alto.
* Celso Lungaretti. Jornalista e escritor, no blogue Náufrago da Utopia
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