06/05/2012
Marco Aurélio Mello*
Vejo no jornal impresso logo cedo (recuso-me a dar o nome) manchete que conta que, além do BB, a Caixa agora vai detonar os juros altos no país. Fico esperançoso. Quem sabe agora os bancos privados parem com essa ladainha de spread e inadimplência e reduzam seus lucros astronômicos para voltar à atividade fim: emprestar dinheiro. Porque hoje, todos sabemos, o que remunera os bancos é a ciranda financeira, que eles chamam pomposamente de arbitragem, ganhos de capital, hot chips no mercado de ações, mercado futuro e sei lá mais o quê...
Aí abro a página seguinte do mesmo jornal (que nojo!) e encontro um artigo (provavelmente escrito antes do anúncio do governo, para dar tempo de entrar na mesma edição) dizendo que as medidas não servem. Vou atrás de saber quem é o "analista". O de sempre, ex-economista-chefe da Federação dos Bancos. É evidente que ele ia falar contra, não é mesmo? Seus argumentos são implacáveis: medidas pontuais não resolvem, é preciso reformar o sistema bancário, tributário e coisa e tal. Sei...
Para parecer razoável, seu raciocínio ilude a classe média intelectualizada. Ele fala bonito, apresenta informações, confronta seu raciocínio com experiências em países estrangeiros. Um gênio! Só que ele se esquece que a ciência que ele professa não é exata, é humana. Economia não funciona para os "cabeças de planilha", como ensina o Luis Nassif.
Vamos ao contexto. Inflação em queda, consumo em alta, inadimplência em queda, poupança em alta. Índice de satisfação dos brasileiros: dos mais altos do mundo. Otimismo com a economia, ok, confiança na presidente da República, ok. Portanto, num cenário de expectativa de crescimento econômico, com inflação controlada e renda aumentando, é hora de pagar dívidas, poupar e se for comprar, comprar a crédito com juros baixos, certo?
Sendo assim, eu que não sei sequer o bê-a-bá do economês posso atestar que as medidas foram acertadas. Banco público existe para empurrar banco privado para as cordas. A ordem numa economia de mercado é competir e o Governo tem que usar todos os instrumentos necessários, inclusive subsídios, se este for o caso, para induzir políticas de renda, consumo, crédito e poupança. O resto é bla-bla-blá de lobista/anunciante, que os jornais e seus editores deveriam estar "carecas" de saber.
- * Marco Aurélio Mello. Jornalista formado pela Metodista de SBC. Aluno convidado do curso de Comunicação de Massa e Sociedade Moderna da Universidade de La Crosse, Wisconsin, USA. Bolsista do 1º Curso de formação de Governantes da Fundação Escola de Governo. Há mais de 20 no ar.
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