quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Contraponto 9323 - "Dilma reafirma altivez na ONU e coerência no Brasil"

247 – O sonho dos políticos, pensadores e da mídia conservadora nacional de ver a presidente Dilma Rousseff romper, ainda que minimamente, seus compromissos com o ideario defendido por ela mesma com sangue e garra, em seus tempos de enfrentamento à ditadura militar, acaba de acabar. Ontem, ao inaugurar a assembleia gera da ONU, a presidente não apenas reafirmou as críticas que têm feito à maneira conservadora com que os países ricos enfrentam a crise financeira internacional, mas ampliou o leque de atenções do Brasil na direção de governos expulsos do chamado main stream internacional, como as nações africanas, o Estado da Palestina e Cuba. Cunhando a expressão "islamofobia" e atacando abertamente a histórica política dos países ricos de armarem oposições a governos que não lhes interessam mais - no caso presente, e citado nominalmente pela presidente, da Síria --, Dilma fez como se batesse com a mesma luva de pelica em todo o G-7, o bloco dos países ricos, e, especialmente nos Estados Unidos do presidente Barack Obama. Sem concessões, ela condendou a escalada armamentista e, em troca, ofereceu a altertativa da produção de alimentos como verdadeira ferramenta da paz.

Aqui, os conservadores se apressam em dizer que, desse modo, o País continuará rumando pela pista lateral das grandes vias globais, enquanto a presidente acredita que, sem ganhos reais na política de vassalagem praticada em outros tempos - e que ela, por personalidade, não sabe interpretar -, somente pela reafirmação da altivez o Brasil poderá ser ouvido e respeitado. Não poderia haver, para esse script, melhor atriz do que a verdadeira Dilma.
Além disso, com os resultados da política econômica caseira, que mantém empregos e reduz de maneira inédita os níveis de desigualdade social, como registra pesquisa do Ipea divulgada hoje, ela vai abrindo espaço, na prática, para novos olhares sobre o Brasil. A chanceler alemã Ângela Merkel já deixou claro, em mais de uma ocasião, que não quer os conselhos da colega brasileira. Em contrapartida, porém, o presidente François Hollande, da França, não só se elegeu com uma plataforma alternativa de enfrentamento da crise, como pede Dilma, como passou a praticá-la desde o primeiro dia de seu mandato. O contraditório, para horrar dos que professam o pensamento único, foi estabelecido. O País que Dilma comanda, que não só fala, mas faz, não está sozinho.

No campo interno, após empreender uma faxina ética que empolgou o público pela rapidez, eficiência e objetividade com que foi consumada, Dilma tratou de reapertar os laços políticos que a unem com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma mensagem clara de que uma coisa é uma coisa, e outra, outra. Se, naquele ponto, a agenda presidencial coincidiu com os reclamos do tipo udenistas da mídia que não faz a sua faxina -- o que são os bônus de volume publicitário senão a corrupção institucionalizada nos veículos de comunicação? --, no terreno político Dilma demarca sua liderança a lado da de Lula. E não apenas mantém, como aprofunda, as políticas de atenção social que, nos últimos anos, retiraram 40 milhões de brasileiros da linha da pobreza. De Dilma, ficou claro mais uma vez pelo discurso na ONU e na postura política adotada no Brasil, o que os conservadores devem esperar é apenas mais do mesmo que se viu até aqui -- e isso, para eles, é muito.
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