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28/09/2012
Desigualdade caiu forte (sic) nos últimos dez anos no País
AYR ALISKI
O Estado de S. Paulo
O Brasil reduziu drasticamente a distância entre os mais ricos e os mais
pobres nos últimos dez anos, mas ainda assim a desigualdade brasileira
está entre as 12 mais altas do mundo. A conclusão é do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que lançou ontem o estudo A década
inclusiva (2011-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda.
A pesquisa indica que "não há na História brasileira,
estatisticamente documentada desde 1960, nada similar à redução da
desigualdade de renda observada desde 2001". Paralelamente,
entretanto, ao apresentar a pesquisa, o novo presidente do órgão,
Marcelo Neri, ressaltou que os brasileiros ainda vivem sob extremas
distâncias, quando o assunto é renda. "O brasileiro mais pobre é tão
pobre quanto os intocáveis indianos e o mais rico não é menos rico que o
russo abastado e quase como o americano abastado", disse Neri.
O estudo do Ipea considera dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Uma das conclusões é que entre 2001 e 2011, a renda per capita
dos 10% mais ricos aumentou 16,6% em termos acumulados, enquanto a renda
dos mais pobres cresceu 91,2% no período.
"Se se fizesse uma conta simples, seria um crescimento de 9% ao ano. A
renda dos 10% mais pobres cresce 5 vezes e meia mais rápido que a dos
10% mais ricos", disse Neri. O Ipea ressalta também que a evolução da
renda dos 20% mais ricos no Brasil foi inferior ao de todos os Brics,
enquanto o crescimento de renda dos 20% mais pobres supera o de todos os
demais, com exceção da China.
Por nível de escolaridade, o estudo do Ipea ressalta que no caso das
pessoas que vivem em famílias chefiadas por analfabetos, a renda sobe
88,6%. Por outro lado, houve decréscimo de 11,1% daquelas cujas pessoas
de referência possuem 12 ou mais anos de estudo completos. Por regiões, o
estudo aponta que a renda do Nordeste sobe 72,8%, contra 45,8% do
Sudeste. Da mesma forma, a renda cresceu mais nas áreas rurais pobres
(85,5%) que nas metrópoles (40,5%). Além disso, o Ipea apurou que no
período considerado, a renda dos brasileiros que se identificam como
pretos e pardos sobe 66,3% e 85,5%, respectivamente, contra 47,6% dos
brancos.
Bolsa-Família. A pesquisa mostra, ainda, que nos dez anos considerados, a
renda das crianças de zero a quatro anos sobe 61%, contra 47,6%
daqueles de 55 a 59 anos. Neste último caso, o movimento é explicado por
ações como o Bolsa-Família e o Brasil Sem Miséria, argumenta o Ipea. A
pesquisa destaca que tais programas privilegiam as mães como titulares
dos benefícios. O estudo considerou dados das Pnads de 1995 a 2011.
Neri, que assumiu a presidência do Ipea dia 12, compara o movimento
traçado recentemente pelo Brasil como uma combinação do que ocorre na
China e na Índia e chega a denominar essa trajetória de efeito
"Chindia". "Os indianos e os chineses saindo da pobreza é mais ou menos a
mesma cena que os nordestinos, pessoas de cor preta, analfabetos, a
parte mais pobre do Brasil está percorrendo."
Na conclusão do estudo, o Ipea destaca que "na verdade, a desigualdade
no Brasil levaria pelo menos 20 anos no atual ritmo de crescimento para
atingir níveis dos EUA". Para a nova década, o Ipea ressalta, várias
vezes, a importância do Bolsa-Família. " A segunda década do novo
milênio parece ser a de múltiplos caminhos em direção à superação da
pobreza. Diversos deles serão trilhados sobre a estrutura do Bolsa
Família", conclui o estudo.
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