19/09/2012
Mensalão, Joaquim Barbosa, Lula, FHC, prioridades e preferências
Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
O futuro presidente do STF, juiz Joaquim Barbosa, vai assumir o cargo em novembro quando o mandatário atual, juiz Carlos Ayres Britto, vai se aposentar. Acontece que o condestável juiz, que recentemente afirmou que não dá satisfações a ninguém, é o relator do processo do mensalão do PSDB e já avisou que não vai levar o caso a ser resolvido para o gabinete da presidência da instituição. Todavia, o juiz que assume a Corte pode levar os processos que estão sob sua responsabilidade para relatar, conquanto que estejam prontos para iniciarem o julgamento e às votações dos 11 juízes do Supremo. Quem será, então, o responsável pela relatoria do mensalão dos tucanos cuja figura central é o ex-governador de Minas Gerais e ex-presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo? De acordo com um magistrado do STF, o juiz (ou juíza) que assumir a relatoria será o nomeado pela presidenta Dilma Rousseff, logo após a aposentadoria de Ayres Britto.
Entretanto, o magistrado disse o seguinte: “o mensalão tucano está longe disso”, ou seja, ainda não se sabe quando tal escândalo do PSDB será julgado, apesar de esse caso escabroso ter sido o primeiro dos mensalões ocorrido na década de 1990, e que está, neste momento, engavetado em alguma repartição do STF, da PGR do procurador Roberto Gurgel e escondido e proibido de ser manchete na imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), porque a PGR e a imprensa formam, juntamente como alguns juízes do STF uma frente de oposição aos governos trabalhistas de Lula e Dilma. Realmente, a eleição de São Paulo mexe muito com a cabeça e arma os espíritos dos conservadores.
Falo isto sempre, o que já considero um mantra. Mas fazer o quê? Paciência. E por quê? Porque tem de ficar claro às pessoas que existe no Brasil um movimento orquestrado pela direita midiática aliada à direita partidária (PSDB e o pequeno DEMo) e às instituições do Judiciário, como o STF e a PGR, que historicamente no Brasil grande parte de seus membros tem sua origem na burguesia, nas oligarquias, e, quando não a tem, seus valores ideológicos são conservadores, e, consequentemente, contrários às mudanças e às reformas estabelecidas e efetivadas pelos governantes trabalhistas
Esses fatos não são novos e não são novidades. Aconteceram as mesmas coisas, as mesmas tentativas e concretizações de golpes de estado contra os presidentes Getúlio Vargas e João Goulart. Não esqueçamos que temos uma elite das mais cruéis do mundo. Eu a considero a pior de todas as elites econômicas do planeta. Elas são simplesmente selvagens. Golpeiam e rasgam as constituições e apoiam golpes, como os que ocorreram recentemente no Paraguai e em Honduras.
Ressalto ainda que tais “elites” tem ainda o apoio de parte significativa da classe média, que é rancorosa, ressentida e alienada, pois não percebe que igualar as pessoas dentro de um contexto sensato, realista e possível gera estabilidade social, pois dessa forma se diminui a violência, o desemprego e se aumenta as oportunidades de emprego e de acesso ao ensino, inclusive o superior. Parte da classe média reacionária é simplesmente burra, pois não percebe que quando todos ganham e tem oportunidades se constrói com mais facilidade uma sociedade humana, livre, democrática e principalmente justa.
Por sua vez, volto à tona, e afirmo: o “mensalão” do PT não é um julgamento apenas jurídico. Ele é político e de tendência golpista, pois usado pela imprensa de negócios privados como uma ferramenta, uma arma de combate ao PT, que é a trilha para desestabilizar o Governo Dilma e, consequentemente, desconstruir a figura de Lula, político de grandeza internacional, socialista e trabalhista, que não foi, de forma alguma, cooptado pela direita nacional e internacional, não traiu seus princípios políticos e ideológicos, não abraçou os dogmas do Consenso de Washington de 1989, que implementou, durante duas décadas, o sistema de exploração global mais cruel de todos as eras conhecido como neoliberalismo, que foi, de forma definitiva e retumbante, derrotado pelo seu próprio fracasso.
Lula não foi cooptado como o foi o fracassado FHC, aquele do apagão energético, do afundamento da maior plataforma de exploração de petróleo do mundo — a P-36, da compra de votos da sua reeleição, dos correligionários que criaram os mensalões do DEM e do PSDB, da doação do patrimônio público brasileiro, conhecida também como Privataria Tucana e da ida ao FMI por três vezes, de joelhos e com o pires nas mãos, porque o Brasil administrado pelo FHC, o Neoliberal, quebrou três vezes. O sociólogo que não conhece o povo brasileiro e sua equipe governamental são geniais, não são?
Contudo, os tucanos tem dois fatores importantes ao seu lado: a imprensa e os homens de toga filhos das oligarquias. E se não fossem eles, tal gente não teria condições de concorrer quaisquer eleições majoritárias. Lula sai do poder com 94% de aprovação popular, e quem quer governar são togados nomeados e barões de imprensa golpistas que pensam que falam pela totalidade do povo brasileiro. Durma-se com um barulho desses. Todos os mensalões tem de ser julgados tão rápidos como o do PT e de preferência, como ocorre no momento, em ano eleitoral. A Justiça é para todos. E o Judiciário é de todos. Quem vai chamar o procurador Roberto Gurgel às falas? Boa sorte em novembro, senhor J. Barbosa, apesar de suas prioridades e preferências. É isso aí.
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