segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Contraponto 14.342 - Meu "comunismo"

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 04/08/2014

Meu "comunismo"  


Do Facebook            Uol -  4/7/2014


ARIANO SUASSUNA

Nunca fui marxista. Apesar disso, quando, na década de 50, foi lançado o "Auto da Compadecida", fui denunciado como comunista num artigo de Plínio Salgado, líder da extrema direita brasileira. E, no dia 26 de novembro de 1959, abrindo a "Folha da Tarde", li a seguinte notícia:

"Infiltração comunista no teatro -determinado maior rigor da Censura:

- Em cumprimento ao despacho do diretor da Divisão de Diversões Públicas da Secretaria da Segurança, a Censura deverá intensificar a fiscalização das peças teatrais. Foi recomendada aos censores acuidade à denúncia feita pelo cardeal do Rio de Janeiro, segundo a qual o teatro estaria sendo utilizado para a infiltração comunista no país. Dom Jaime de Barros Câmara, naquela denúncia, fez alusão a um relatório sobre o teatro brasileiro, feito por agentes soviéticos e enviado à URSS. Esse relatório diz que o campo de ação dos comunistas visa os cursos de arte cênica nos países da América, como Uruguai, México e Brasil, e terá por objetivo semear a discórdia entre a população. Diz ainda que da ofensiva cultural da URSS constará a criação da Federação Mundial Juvenil de Teatro, que comportará um departamento latino-americano e que já teria assegurada a colaboração de diversos autores, inclusive brasileiros. Entre esses autores, dom Jaime aponta nominalmente Ariano Suassuna, além de outros, estrangeiros (principalmente poloneses), que desenvolvem suas atividades naqueles países citados".

O mais curioso, porém, é que mais ou menos naqueles dias eu estava sendo atacado pelos marxistas porque, atento aos crimes que então se praticavam na União Soviética (inclusive perseguindo ou fuzilando intelectuais, como fizeram com Boris Pasternak e Ossip Mandelstam), eu era contrário à colaboração dos católicos com eles.

Em 10 de junho de 1962, por exemplo, publiquei num jornal recifense um artigo no qual fazia uma distinção entre a esquerda "definida" e a esquerda "amestrada", isto é, a que obedecia incondicionalmente ao comando dos marxistas. É que um grande amigo meu se queixara do tom violento que eu vinha usando em minhas definições. Disse-me que ele próprio era da esquerda e estava se sentindo atingido por elas; o que me levou a escrever, no artigo, que, quando me opunha aos esquerdistas "amestrados", incluía aí somente aqueles que "sendo católicos, por exemplo, não se definem diante dos comunistas, omitindo-se de seus crimes ou aliando-se com eles". Acrescentava: "Quando os capitalistas cometem seus crimes, tais católicos de esquerda se juntam aos comunistas para protestar contra eles; mas, quando os comunistas cometem os seus, amoitam-se e os subscrevem com seu silêncio, uns por oportunismo, outros pelo medo ridículo de passarem por reacionários".
Trinta anos se passaram e, graças a Deus, a situação mudou. Marxistas como os do PC do B, por exemplo, reviram suas posições e hoje são nossos aliados na busca de um socialismo brasileiro e democrático e na luta contra o governo antinacional e antipopular de Fernando Henrique Cardoso.

São Paulo, Terça-feira, 31 de Agosto de 1999


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