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05/08/2014
Gilson Sampaio - terça-feira, 5 de agosto de 2014
Tyler Durden
Tyler Durden
Para
pôr fim às guerras dos EUA em todo o planeta, assessor de Putin propõe
Aliança Antidólar: “Uma coalização antidólar será o primeiro passo para
criar-se uma coalizão antiguerra capaz de deter a agressão
norte-americana.” Washington não parece ter previsto que a guerra pela
Ucrânia pode, em pouco tempo, converter-se em guerra pela independência
da Europa – que pode interessar-se por livrar-se do domínimo pelos EUA –
e guerra contra o dólar.
Assessor de Putin propõe “Aliança Antidólar”
Já
faz algum tempo que tanto a Ucrânia como a resposta russa às sanções
(que puseram em movimento o grande eixo eurasiano, aproximando China e
Rússia e acelerando o negócio “Santo Graal” de gás entre os dois países)
deixaram as manchetes. Mas ainda não se entendeu por que a
imprensa-empresa ucraniana largou a cobertura da Ucrânia como se fosse
batata quente, sobretudo porque a guerra civil prossegue no Donbass
ucraniano e continua a fazer dúzias de mortos dos dois lados.
O
mais provável é que o público tenha-se cansado de ouvir metáforas sobre
jogos de xadrez ou de damas entre Putin e Obama, e tenha sido
despachado para ler a propaganda que cerca as metáforas ‘analíticas’ e
os eventos mortais da 3ª guerra do Iraque, como há tantas décadas.
Mas
é provável que ‘sair do foco’ seja exatamente o que mais deseja a elite
política russa. De fato – como noticia Valentin Mândrăşescu, editor de
Voice of Russia –, enquanto a grande máquina norte-americana de distrair
a atenção popular foca-se em outros temas, a Rússia já se prepara para
os passos seguintes.
Assim se chega a um
conselheiro de Putin, Sergey Glazyev – o homem que, no início de março,
foi o primeiro a sugerir que a Rússia se livrasse dos títulos dos EUA e
abandonasse o sistema do dólar, como retaliação contra as sanções –
estratégia que funcionou naquele momento, porque, apesar de o Kremlin
ter conservado integralmente o controle sobre a Crimeia, as sanções
ocidentais pararam como por passe de mágica. (E não só isso como,
também, como acaba de informar o banco centra da Rússia, o superávit do
país em conta corrente de 2014 pode alcançar $35 bilhões, bem superior
aos $33 bilhões de 2013, e distantíssimo dos inventados “mais de $200
bilhões” de capitais que fugiriam da Rússia e sobre os quais muito
falava recentemente Mario Draghi).
Glazyev foi
também quem empurrou o Kremlin a aproximar-se da China e forçou que os
russos assinassem o acordo de gás com Pequim (mesmo que não tenha sido
assinado nos termos que mais interessariam à Rússia naquele momento).
É esse o Glazyev que publicou artigo na revista russa Argumenty Nedeli,[1]
no qual delineou um plano para “minar a força econômica dos EUA” e,
assim, forçar os EUA a pôr fim à guerra civil na Ucrânia. Glazyev
entende que o único meio para impedir que os EUA iniciem uma nova guerra
fria é pôr abaixo o sistema do dólar.
Como Voice of Russia resume o artigo publicado em Argumenty Nedeli,[2]
o conselheiro econômico de Putin e homem que concebeu a União Econômica
Eurasiana argumenta que Washington está tentando provocar uma
intervenção militar da Rússia na Ucrânia, usando a Junta de Kiev como
isca. Se desse certo, o plano daria a Washington várias importantes
vantagens.
Primeiro, permitiria que os EUA
introduzissem novas sanções contra a Rússia, riscando as posições russas
em papéis do Tesouro dos EUA. Mais importante: uma nova onda de sanções
criará uma situação na qual empresas russas não terão como honrar os
juros de suas dívidas com bancos europeus.
Nas
palavras de Glazyev, a chamada “terceira fase” de sanções contra a
Rússia terá custo tremendo para a União Europeia. O total da perda
estimada será superior a 1 trilhão de euros. Essas perdas ferirão
gravemente a economia europeia, convertendo os EUA em único “paraíso
seguro” do planeta. Sanções fortes contra a Rússia também deslocarão dos
mercados europeus de energia a empresa russa Gazprom, o que deixará
aqueles mercados abertos à entrada do gás natural liquefeito – muito
mais caro – que os EUA têm para vender.
Co-optar
os países europeus para uma nova corrida armamentista e de operação
militar contra a Rússia fará aumentar também a influência política dos
EUA na Europa, e ajudará os EUA a forçar a União Europeia a engolir a
versão norte-americana do Tratado TTIP [Transatlantic Trade and
Investment Partnership] – acordo comercial que, basicamente, converterá a
União Europeia em grande colônia econômica dos EUA.
Glazyev
entende que iniciar uma nova guerra na Europa trará só benefícios para
os EUA e só problemas para a União Europeia. Em inúmeras vezes,
Washington já usou guerras globais e regionais como ferramentas para
favorecer a economia norte-americana; agora, a Casa Branca tenta usar a
guerra civil na Ucrânia como pretexto para repetir o velho truque.
Glazyev: “Só nos resta atacar a máquina de imprimir dinheiro do FED”
O
conjunto de contramedidas que Glazyev propõe toma por alvo,
especificamente, o coração que bombeia ‘energia’ para a máquina de
guerra dos EUA: as impressoras que imprimem dinheiro no FED.
O
conselheiro de Putin propõe que se crie uma “ampla aliança antidólar”
de países que desejem e possam extrair o dólar de seu comércio
internacional. Membros da aliança também têm de abandonar instrumentos
de reservas denominados em dólares.
Glazyev aconselha tratar os instrumentos denominados em dólares como papeis-lixo[3]
e que os reguladores devem exigir colateralização total desses papeis.
Uma coalização antidólar será o primeiro passo para a criação de uma
coalizão antiguerra capaz de deter a agressão norte-americana.
Não
surpreendentemente, Sergey Glazyev entende que o papel principal para
que se crie essa coalizão política deve caber à comunidade empresarial e
de negócios da Europa, porque as tentativas dos EUA para iniciar grande
guerra na Europa e guerra fria contra a Rússia ameaçam, em primeiro
lugar, o big business europeu.
A julgar
pelos recentes esforços para deter as sanções contra a Rússia
empreendidos por líderes empresariais alemães, franceses, italianos e
austríacos, o conselheiro de Putin está correto em sua avaliação.
Washington não parece ter previsto que a guerra pela Ucrânia pode, em
pouco tempo, converter-se em guerra pela independência da Europa – que
pode interessar-se por livrar-se do domínimo pelos EUA – e guerra contra
o dólar.
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