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12/02/2015
A imprensa e sua balança viciada, por Luciano Martins Costa
Tijolaço - 11 de fevereiro de 2015 | 21:39 Autor: Fernando Brito
Fernando Brito
Mestre Luciano Costa, no Observatório da Imprensa,
publica um artigo que bem podia ser ilustrado com a linda “Basta um
Dia”, de Chico Buarque, imortalizada por Bibi Ferreira em “Gota D’Água”.
Pois para os jornais brasileiros, de fato, basta um dia para que se lhes veja “Todo o veneno/De um pequeno dia”.
Os jornais tornaram-se um instrumento de intoxicação
da opinião pública não apenas pelo que dizem, mas pelo que não dizem,
também.
Pregam a austeridade nos gastos públicos, mas se
comprazem com a derrota do Governo ao ter de aguentar a distribuição da
“caixinha” das emendas, aprovada pela mão de Eduardo Cunha.
Bradam contra a corrupção, mas mantêm a caluda com o arquivamento do processo do de propinagem nos trens paulistas…
Por que?
“O cidadão pode achar suspeita a diferença entre
os dois casos de corrupção. Num deles, o noticiário aponta diretamente
para o núcleo político do governo federal e criminaliza a Petrobras; no
outro, a imprensa criminaliza empresas supostamente corruptoras,
inocenta o Metrô e a Companhia de Trens Metropolitanos e reduz tudo a um
caso de cartel, fazendo de conta que o esquema funcionou por vinte anos
sem a participação de políticos.”
Bobagem…Num país onde Paulo Roberto Costa consegue
editores capazes de publicar que ele roubou “enojado” por anos a fio, é
capaz mesmo…
A máquina de forjar notícias
Luciano Martins Costa
Os jornais de quarta-feira (11/2) trazem alguns
exemplos de como o filtro da mídia distorce a realidade a ponto de
produzir contextos obscuros e, muitas vezes, contraditórios. A
explicação é bastante simples: como o interesse do produto jornalístico
não é informar, mas causar determinado estado de espírito, tudo de
relevante que acontece é tratado com o mesmo viés, colocado numa forma
de um mesmo padrão – mas as peças resultantes não se ajustam, ou, quando
se encaixam, formam um desenho que não faz sentido.
Vamos exemplificar com algumas notícias do dia.
Primeiro, o movimento do novo presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em seu esforço por ganhar
relevância no cenário político: ao patrocinar uma votação que obriga o
Executivo a honrar as emendas parlamentares, ele coloca o Parlamento em
choque com as medidas que o empresariado (e a imprensa) vem defendendo –
e com as quais o governo havia concordado; ao excluir o Partido dos
Trabalhadores da comissão que deve planejar a reforma
partidária-eleitoral, ele tira os governistas de um contexto
controverso, porque sabe-se que o Congresso não quer uma reforma para
valer.
Assim, o potencial de aumento das despesas
públicas provocado pelo favor que o presidente da Câmara faz a seus
pares cria argumentos para o Poder Executivo buscar recursos em outra
fonte, como, por exemplo, na tributação de grandes fortunas, o que
certamente favoreceria a popularidade da presidente da República. Ao
mesmo tempo, limpa o terreno para uma reaproximação entre o governo e as
lideranças sindicais. Por outro lado, sem cargos na comissão da reforma
política, o PT assume o papel em que historicamente fica mais à
vontade: o de oposição crítica.
Sabe-se que o deputado Cunha é basicamente um
negociador, e que seus movimentos iniciais são parte da estratégia para
estabelecer um patamar de poder a partir do qual poderá comandar aquela
parcela do Congresso que os jornalistas chamam de “baixo clero” – que
sobrevive politicamente à base de verbas obtidas com emendas ao
orçamento.
O que não se sabe, mas pode-se conjecturar, é se o
novo presidente da Câmara alimenta ambições maiores e que talvez esteja
de olho na proposta de impeachment da presidente da República, que vem
sendo estimulada pela imprensa.
Desculpas ignoradas
Outra notícia relacionada ao embate entre o
Legislativo e o Palácio do Planalto dá conta de que o presidente da
Câmara pretende convocar todos os ministros para darem explicações sobre
seus planos de governo. O potencial de conflitos nesses encontros – que
podem se transformar em interrogatórios constrangedores – colocaria em
risco a aliança governista, e é preciso lembrar que a caneta dos cargos e
verbas fica com o Executivo, o que poderia produzir um tiro pela
culatra.
Além disso, mas sem esgotar a lista dos temas
controversos trazidos à agenda pública pela imprensa, convém observar
que o escândalo da Petrobras ficou subitamente ausente das manchetes. A
decisão do Supremo Tribunal Federal, de arquivar o inquérito contra
políticos paulistas do Partido Democratas e do PSDB no caso dos trens
metropolitanos, ganha destaque e alimenta suposições de que a Justiça
oferece tratamentos desiguais conforme a origem do delito.
Por mais que acredite no que lê, o cidadão pode
achar suspeita a diferença entre os dois casos de corrupção. Num deles, o
noticiário aponta diretamente para o núcleo político do governo federal
e criminaliza a Petrobras; no outro, a imprensa criminaliza empresas
supostamente corruptoras, inocenta o Metrô e a Companhia de Trens
Metropolitanos e reduz tudo a um caso de cartel, fazendo de conta que o
esquema funcionou por vinte anos sem a participação de políticos.
O processo iniciado com a Operação Lava Jato vai
demorar muito tempo, e não há como manter o assunto nas manchetes
diariamente, a não ser como exercício de campanha, com a administração
seletiva de vazamentos do inquérito. Assim, a imprensa aproveita
qualquer citação para requentar o assunto, criando um clima de
apocalipse em relação à Petrobras.
Os jornalistas sabem que o processo ainda tem
muito terreno pela frente, e quando estiver no fim, ainda será preciso
determinar as responsabilidades de quem irá prover recursos para atender
aos pedidos de indenização e compensações financeiras que vierem a ser
atendidos pela Justiça.
A mídia tradicional ignora o histórico da
corrupção e trata de amplificar qualquer suspeita sobre personagens
ligados de alguma forma ao governo. O caso do geólogo Guilherme
Estrella, ex-diretor de Exploração da estatal, é exemplar: a acusação
que lhe foi feita pelo Jornal Nacional, da TV Globo, ganhou destaque
imediato; o desmentido e o pedido de desculpas da emissora (ver aqui) foram praticamente ignorados pela mídia.
É assim que funciona.
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