terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Contraponto 16.013 - "Bendini ao JN: Petrobras não entrará em marcha à ré"

Bendine disse que enxerga nas investigações a possibilidade de aprimorar o modelo de governança da Petrobras, "para evitar erros no futuro". "O modelo de decisões será revisto e dará um processo mais ágil para a empresa e com muito mais segurança", ressaltou. Ele afirmou que o Conselho da Petrobras lhe deu "total liberdade e autonomia" na gestão da companhia. Bendini também frisou que se sente "tranquilo" para desenvolver seu trabalho e rechaçou a ideia de ingerência por parte do governo federal. "No Banco do Brasil tive total liberdade para trabalhar", afirmou.

O presidente da Petrobras afirmou que o endividamento da estatal "não é tão grande quanto parece".

"O mais importante na companhia, neste momento, é justamente a sua gestão de caixa e a sua gestão financeira". Ele frisou que "a Petrobras nunca vai se sujeitar à volatilidade do mercado externo".

Enquanto isso, na Petrobras, o comitê criado para acompanhar as apurações internas sobre corrupção listou 2 mil funcionários da companhia que devem ser alvo dos investigadores contratados pela empresa, ao longo deste ano. Desses, 150 tiveram apuração considerada prioridade e já estão sendo avaliados. O grupo menor é composto de pessoas que prestam ou prestaram informações à PwC, auditoria da Petrobras, nos últimos anos, para elaboração dos balanços trimestrais da companhia.

Todos os 2 mil funcionários serão alvo de verificação por parte dos escritórios TRW, brasileiro, e Gibson Dunn & Crutcher, americano, contratados pela Petrobras para tentar entender a extensão do esquema de corrupção revelado na Operação Lava Jato. Eles foram identificados por terem atuado na assinatura de contratos com as 23 empreiteiras apontadas pela Operação Lava Jato como participantes do esquema. Tais funcionários terão e-mails e ligações telefônicas rastreados. Seus objetos de trabalho serão alvo de vistorias. O comitê é composto pela ex-presidente do STF, Ellen Gracie, o consultor de governança Andreas Pohlmann e pelo diretor de Governança da Petrobras, João Elek.

Abaixo a entrevista na íntegra:

Jornal Nacional - O senhor acaba de assumir uma das maiores empresas do mundo, com sérios problemas econômicos, como perda de valor de mercado, endividamento elevado, falta de recursos para investir nos projetos já aprovados e segundo analistas com um grau elevado de ingerência do governo. Como pretende enfrentar essas questões e resolver esses problemas?

Aldemir Bendine - Por etapas. Primeiro, o mais importante na companhia, neste momento, é justamente a sua gestão de caixa e a sua gestão financeira. O endividamento não é tão elevado quanto se parece, dada a capacidade de geração de resultados da Petrobras.

Jornal Nacional - A Petrobras é uma empresa de capital aberto, com milhares de acionistas, mas com controle do governo. Analistas do mercado diziam que uma administração mais independente do governo seria o mais recomendável, para que a Petrobras pudesse ter melhores resultados. Sua indicação sugere o movimento oposto. O senhor acertou previamente com a presidente Dilma que a Petrobras deve ter liberdade para tomar suas decisões?

Aldemir Bendine - O Conselho de Administração me fazer o convite me deu total autonomia e liberdade na gestão da companhia. Em relação à questão do preço, eu acho que isso é uma coisa muito bem definida - a definição de preço. A Petrobras nunca vai se sujeitar à volatilidade do mercado internacional, seja pra cima ou seja para baixo. O que a Petrobras faz no momento da sua definição de preço é uma visão, um cenário de longo prazo.

Jornal Nacional: O histórico mostra que o preço da gasolina foi usado para ajudar a política anti-inflacionária. O senhor tem conhecimento disso, né? O senhor acha que hoje a Petrobras teria mais liberdade para praticar os seus preços?

Aldemir Bendine: Não tenho dúvida nenhuma disso.

Jornal Nacional - Como o senhor vai resolver o problema do custo da corrupção no balanço da empresa? Vai reavaliar contrato por contrato para lançar o valor real dos ativos?

Aldemir Bendine - Nós estamos aí reavaliando uma série de ativos e as metodologias empregadas. A gente há de separar e a gente precisa deixar isso muito bem claro, que este balanço vai refletir a situação atual da empresa em 2014. Ela pode estar sendo influenciada, sim, por conta da corrupção, mas também por outras variáveis como preço de commodities, enfim, uma série de variáveis que estarão apontando também o real valor destes ativos.

Jornal Nacional: Por causa da corrupção a imagem da Petrobras está muito comprometida, vista hoje com uma empresa que se rendeu à corrupção. Como o senhor pretende reverter essa situação?

Aldemir Bendine: O quadro técnico da empresa é o melhor quadro técnico do mundo neste setor. São pessoas extremamente engajadas que eu não tenho dúvida que darão uma resposta à altura. A Petrobras não vai parar. Ela não vai entrar em marcha a ré. Ela vai continuar trabalhando efetivamente. Estamos aguardando e colaborando com as investigações necessárias e isso vai nos ajudar muito em algo que eu também tenho muita experiência que é aprimorar o modelo de governança aqui da companhia para se evitar erros no futuro, como esses que aconteceram.

Jornal Nacional: Eu queria voltar um pouco na questão da produção do balanço. Como o senhor pretende chegar a este número? Se falou neste número de R$ 88 bilhões, mas que envolvia superavaliação de ativos, mas também a corrupção. Esse número para o senhor significa alguma coisa? Como o senhor pretende chegar a um número?

Aldemir Bendine: Não. Esse número não é um indicativo. Isso é um trabalho sendo feito com empresas que estão fazendo avaliações desses ativos. Isso vai ter que ser certificado depois inclusive pela auditoria externa. O que nós estamos discutindo neste momento são as métricas, são a forma a ser utilizada na apuração disso. Com certeza nós teremos uma baixa de ativos até porque nós também estamos fazendo uma correção do passado. Então nós queremos em 2014 um valor justo e que mostre com muita clareza e transparência qual é o número da companhia no momento.

Jornal Nacional: O senhor acha que com isso não vai ter problema com auditoria. Auditores assinarão este balanço da companhia?

Aldemir Bendine: Eu não tenho dúvida que a gente garantindo a credibilidade das informações prestadas, a auditoria já se manifestou inclusive vai estar nos acompanhando no dia a dia para certificar essa metodologia a ser utilizada.

Jornal Nacional: O mercado não recebeu bem a sua nomeação, porque o senhor fez carreira num banco público e não teria sido testado num ambiente de concorrência. O que o senhor tem a dizer sobre essa percepção?

Aldemir Bendine: Primeiro que o Banco do Brasil, ele é um banco sociedade de economia mista. Então ele efetivamente trabalha muito pesadamente na concorrência e nesses seis anos nós tivemos a oportunidade de fazer uma gestão que triplicou os ativos do banco e dobrou o seu resultado. Então eu acho que eu sou muito testado em relação a mercado.

Jornal Nacional: Logo após sua nomeação, o TCU e a Polícia Federal decidiram investigar empréstimo concedido pelo Banco do Brasil, sob seu comando, à empresa Torke Empreendimentos e Participações. Essa empresa, ligada a uma amiga sua, teria sido favorecida com a dispensa de formalidades exigidas pelo banco. Como o Sr. responde a isso?

Aldemir Bendine: Primeiro que são denúncias antigas e denúncias vazias, o que é muito comum quando você está à frente de um cargo público. Todas as informações foram prestadas e quem conhece minimamente o processo de decisão do BB sabe que seria impossível um tipo de concessão que não tivesse dentro da norma. O banco já prestou os devidos esclarecimentos, inclusive isso já foi avaliado por mais de 10 órgãos reguladores e fiscalizadores. E com tranquilidade acho que o banco tá lá à vontade e à disposição para prestar mais esclarecimentos, se eles forem perguntados.

Jornal Nacional: O que o senhor diria aos pequenos acionistas?

Aldemir Bendine - Que continuem a acreditar na companhia.
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