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28/02/2015
Um crime de lesa-pátria
Deixar a indústria naval brasileira afundar pode ser pior do que perder o grau de investimentoLEONARDO ATTUCH
De uma maneira simplificada, a economia pode ser encarada por duas lentes: a dos que observam prioritariamente seus aspectos financeiros e a dos que preferem enxergar fatores ligados à produção. A grosso modo, é isso que separa monetaristas e fiscalistas dos chamados desenvolvimentistas.
Na vida real, as duas dimensões da economia se completam, uma vez que não há desenvolvimento possível sem um mínimo de ordem no campo fiscal. No Brasil de hoje, a ênfase do discurso político vem sendo colocada no corte de despesas – assim como faz ‘uma dona de casa’, como salienta o governo Dilma Rousseff.
No entanto, é preciso cuidado para não se render cegamente a esse discurso e permitir que conquistas importantes dos últimos anos sejam perdidas. O exemplo mais gritante, de um setor que grita por socorro, é a indústria naval, numa crise que tem como epicentro a empresa Sete Brasil, controlada por bancos e fundos de pensão.
Criada logo após as grandes descobertas do pré-sal, a Sete nasceu para se beneficiar e também beneficiar o País de uma de suas vantagens comparativas. Como a Petrobras acabara de se tornar uma das empresas com mais reservas de petróleo provadas no mundo, nada mais natural do que desenvolver uma indústria de apoio ao setor de óleo e gás no Brasil. Em vez de alugar sondas de perfuração no exterior, por que não construí-las por aqui?
Foi assim que, contratada pela Petrobras, a Sete subcontratou estaleiros em várias regiões do País, atraindo investimentos internacionais de empresas como Samsung, Jurong e Hyundai, entre outras, em parceria com empreiteiras nacionais. O problema: como as construtoras foram atingidas pela Lava Jato, o BNDES não libera um financiamento de US$ 5 bilhões que daria oxigênio à Sete. Com isso, os estaleiros estão parando. Não apenas parando, mas também, obviamente, demitindo.
Nos últimos dez anos, a indústria naval brasileira saiu do ponto morto e foi a quase 200 mil empregos.
Caso nada seja feito para evitar seu naufrágio, todo o esforço dos últimos anos para criar uma política de conteúdo nacional no setor de petróleo terá sido em vão. E dentro de alguns anos, quando os preços do petróleo se normalizarem, a Petrobras terá voltado a alugar a sondas no exterior. Para a credibilidade do País, deixar a indústria naval afundar pode ser ainda pior do que perder o grau de investimento.
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