Confesso. Votei em Lula, em 2002 e 2006, e votei em Dilma, em 2010 e 2014.
Portanto, ao contrário do que dizem os que votaram em Aécio, tenho a ver com o que esta aí. Sou culpado.
Sou culpado de ter contribuído para tirar 36 milhões de brasileiros da pobreza extrema. Um desastre!
Agora, esse pessoal que ganha essas
“bolsas-preguiça” fica por aí exigindo mais direitos. Além de comida,
querem educação de qualidade, querem casa, saúde, TVs de tela plana e
computadores, cinema, balé e viagens. Querem tudo o que gente tem.
Querem até que seus filhos façam faculdade! Essas pessoas não sabem mais
qual é o seu lugar, como no passado da nossa pacífica e arcádica
desigualdade.
Sou culpado de ter incorporado 42 milhões de cidadãos à nova classe trabalhadora ou à nova classe média. Uma verdadeira hecatombe econômica e social. Hoje em dia, você entra num aeroporto qualquer e ele está atulhado. Atulhado de gente que nunca tinha voado antes. Gente que não devia estar ali. Gente que nem gente era. Está difícil achar espaços diferenciados. Shoppings, ruas antes exclusivas, bairros inteiros, e até universidades sucumbiram à barbárie do consumo popularizado. Mesmo fora do país a situação está difícil. Como bem observou uma grande pensadora, você vai ao exterior e pode encontrar o porteiro do seu prédio. A vida perdeu a graça. Foi-se a belle époque das gentes distintas, dos doces privilégios, do refinamento e da exclusividade. Sobrou a “rebelião das massas”.
Também sou culpado de ter contribuído para gerar 20 milhões de empregos com carteira assinada.
Resultado? Com essa taxa de desemprego baixa e o
aumento de 72% do salário mínimo, mesmo em meio à maior crise mundial
desde 1929, hoje é difícil achar pessoas que estejam dispostas trabalhar
por alguns trocados, sem carteira assinada, como antigamente. Nossos
trabalhadores, antes tão fiéis, tão resignados e disciplinados, tão
baratinhos, fofinhos até, tornaram-se uma corja de achacadores que exige
salários suficientes e empregos decentes. O custo Brasil foi a alturas
suíças, alpinas. Eles têm o desplante de ser até contra a terceirização,
essa modernidade que diminuiria nossos insuportáveis custos
trabalhistas. Mesmo as empregadas domésticas, essa reconfortante
recordação da escravidão, agora têm direitos insustentáveis. Mas nem
tudo está perdido. Com o agravamento da crise mundial e o ajuste talvez
as taxas de desemprego subam e os salários caiam. Só não vale recompor
depois. Nada de retrocessos.
E o que dizer da abertura das universidades para afrodescendentes, índios e pobres? Hoje você vai numa universidade e ela está cheia de egressos da escola pública, gente claramente pobre e de pele escura. Com o Prouni, o Reuni, a duplicação da rede federal e as absurdas cotas, as universidades estão se abrindo à população. População que não deve estar ali. Universidade, apesar do nome, é para poucos, não é para ser universalizada. Ainda mais com gente que não tem tradição de estudo. Sou culpado dessa degradação do ensino superior.
Meus votos irrefletidos e irresponsáveis também contribuíram para implantar aqui esse descalabro chamado Mais Médicos. A OPAS, essa conhecida agência internacional de intermediação de trabalho escravo, com atuação em mais de 80 países, teve a audácia de, em conluio com a ONU e o governo do Brasil, trazer aqui escravos cubanos para dar assistência médica a 50 milhões de cidadãos. Ora, escravos só os brasileiros, em nossas bucólicas fazendas. Esses 50 milhões antes sobreviviam tranquilamente. Era gente forte, submetida à saudável seleção natural. Agora, contribuem para cevar uma ditadura comunista, que o Obama, em gesto insensato, resolveu reconhecer. No Brasil, contudo, a Guerra Fria tem de permanecer, gloriosa, em seu doentio anacronismo.
E a corrupção? Antes, praticamente não havia corrupção no Brasil. Lembre-me bem que o “engavetador-geral” e a ausência de instituições independentes e fortes de controle se encarregavam disso. Não havia investigação. Portanto, não havia muitos casos de corrupção. Meu celerado voto num governo que criou as condições para que a corrupção fosse investigada a sério é que fez surgir toda essa corrupção no Brasil. Jamais me perdoarei. Mas perdoo aqueles que dizem que sonegação não é corrupção. Eles já foram redimidos por sua probidade suíça.
Tem mais. Pelo que vejo e leio em veículos isentos como Veja, Folha e Globo, entre vários outros, os meus desinformados votos levaram o país à maior crise da sua história, à exceção, pelo que recordo, de todas as anteriores, quando nos reerguíamos com as generosas mãos do FMI.
Tenho de reagir. Não posso conviver com tamanho sentimento de culpa.
Preciso ser coerente. Tenho de salvar a democracia do Brasil, com
terceiro turno e intervenção militar. Devo salvar as crianças do Brasil,
apoiando a redução da maioridade penal. Preciso lutar pelos empregos e
pelos salários dos brasileiros, com a terceirização. Devo me empenhar
pelo reerguimento da Petrobras, apoiando a venda do Pré-Sal. Será minha
missão combater a corrupção, combatendo o único governo que efetivamente
a combateu e a combate.
O fato é que não dá mais para continuar mudando tanto.
Ou se restaura o antigo Brasil, ou vou logo para Cuba expiar minhas culpas.
De Gol.
(*) Marcelo Neto é formado em Ciências Sociais pela UnB e assessor legislativo do Partido dos Trabalhadores.
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