17/07/2015
Nenhum silêncio é inocente nessa hora
Um golpe não é feito para premiar os que tinham a análise política mais correta da história. Defender Lula hoje é defender a democracia.
Carta Maior - 17/07/2015
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
por: Saul Leblon
A insólita abertura de um inquérito contra Lula por suspeita de ‘usar sua influência no exterior para promover empresas brasileiras’ -- leia-se, para promover encomendas, empregos, serviços e renda no Brasil -- coloca um Rubicão para o campo progressista brasileiro.
O silencio equivale ao suicídio.
Movimentos populares, lideranças sociais e partidos progressistas sabem a que vem e a quem serve a iniciativa cabulosa de um promotor que responde pelo nome de Valtan Timbó.
Timbó, a planta, atordoa o cardume e facilita a sua captura pelos indígenas.
O timbó político excretado pelos interesses associados a esse inquérito fará o mesmo com o cardume das forças progressistas.
Exceto se nadarem rápido para além das águas onde o entorpecimento e o sectarismo formam um sumidouro sem volta.
Quem critica – com razão, como tem criticado Carta Maior-- a letargia do governo e do PT diante do passo de ganso da Liga dos Golpistas não deve alimentar ilusões.
A omissão diante de mais esse ensaio de golpe não consagrará espaço à ‘verdadeira esquerda’ na liderança progressista.
O que estamos vivendo é o oposto, um acelerado assalto ao espaço político da resistência democrática.
Com todas as virtudes e defeitos listáveis, Lula é hoje uma espécie de esteio simbólico dos avanços acumulados na luta pela construção de uma verdadeira democracia social no país.
Decepá-lo a machadadas de descrédito e suspeição –como tem sido feito-- até arrancá-lo do chão das possibilidades eleitorais do futuro é o plano acalentado pela Liga Golpista desde 2005.
Uma década de diuturno labor nessa tarefa atinge agora seu momento de decisão.
Para os dois polos da disputa.
Se o conservadorismo tiver sucesso não será apenas o esteio que virá abaixo.
Com ele todo um entorno histórico será aplastado. Impiedosamente. Como se fez após a derrubada de Jango, no Brasil; de Allende, no Chile; de Torres, na Bolívia...
Essa é a dinâmica em curso.
Significa que as ambiguidades e hesitações petistas estão acima de críticas, avanços e confrontações?
Ao contrário.
Mais que nunca é necessário abordá-las no idioma da camaradagem crítica, em adequados ambientes de debate, entre os quais não se inclui a mídia conservadora.
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A autocrítica e a superação dos erros cometidos é crucial para o campo progressista superar a encruzilhada de erros e hesitações angustiantes.
Mas cada crise tem uma contradição central.
Ignorar essa hierarquia ou ombreá-la em importância às demais costuma ser devastador, não importam as boas intenções avocadas no caminho.
Um golpe não é feito para premiar os que tinham a análise política mais correta da história.
Tampouco a dialética dura das transformações se assemelha à maciez da mecânica hidráulica.
O longo amanhecer de uma sociedade mais justa é um labirinto de contradições, uma geringonça que emperra e se arrasta, desperdiça energia, cospe parafusos e patina.
Para surgir um 'Lula' desse emaranhado tem que sacudir muito a geringonça imperfeita e remendada.
Greves, levantes, porradas, descaminhos etc.
Dói. Demora. Leva décadas -- às vezes séculos.
Uma liderança como a de Lula, feita de muitos ao seu redor --'uma quadrilha', diz o jogral do Brasil aos cacos - constitui um patrimônio inestimável na vida de uma nação.
Mesmo assim, é só o começo; fica longe do resolvido.
A cada avanço, não regredir já é um feito.
Não regredir hoje requer a convergência do campo progressista para enfrentar uma coalizão que farejou o espaço aberto pela transição de ciclo econômico –erroneamente conduzida pelo governo do PT-- e vislumbrou o espaço para o golpe tantas vezes adiado.
Insista-se, diante do timbó que entorpece as águas da razão: o golpe não é contra Lula ou contra o PT.
O golpe é contra a respiração social e econômica de um povo.
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