segunda-feira, 25 de abril de 2016

Nº 19.218 - "Lula fala em São Paulo para os líderes mundiais"

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25/04/2016

Lula fala em São Paulo para os líderes mundiais


Jornal GGN – Nesta segunda (25), o ex-presidente Lula deveria discursar na abertura do seminário “Democracia e Justiça Social”, da Aliança Progressista. Ele estava sem voz e pediu que o ex-ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, o representasse. Em seguida, mudou de ideia, e decidiu dirigir algumas palavras ao público presente.

Ele agradeceu à iniciativa de realizar o encontro no Brasil em um momento tão delicado da democracia nacional. E então falou sobre a necessidade de construir uma nova utopia de esquerda, uma nova economia e uma nova governança para os setores progressistas.

Lula deu sua visão da crise econômica mundial. Ele disse que na época em que ainda era presidente do Brasil já defendia que os “partidos socialistas” que eram governo na Europa (Portugal, Espanha e Grécia) explicassem para a população as razões da crise, e não assumissem sozinhos a responsabilidade.

“Eu não sei por que nenhum companheiro conseguiu fazer um discurso para explicar a origem da crise. O dado concreto é que a crise não teve solução até agora. Ela tem causado problemas em vários países do mundo, uns sofrendo mais e outros sofrendo menos”, afirmou.

Lula esperava que americanos, europeus e chineses soubessem lidar com a crise. “Porque quando a crise era do Brasil, todos eles sabiam. Eu lembro como era fácil qualquer economista de outra parte do mundo, representante do FMI, representante do Banco Mundial dizer como resolver a crise no Brasil”.

O ex-presidente disse que os diagnósticos e saídas para a crise estavam errados. “Nós afirmávamos que para que a crise não perdurasse era preciso evitar o protecionismo e não permitir que houvesse problemas no comércio exterior. Sobretudo que os países mais ricos ajudassem a financiar as exportações para os países mais pobres se dotarem de avanços tecnológicos para poderem se desenvolver e até continuar comprando. Era uma mera ilusão, isso não aconteceu”.

Afirmou, então, que o mundo rico está fracassado, os BRICS estão enfrentando problemas sérios e a América Latina está retrocedendo, “não apenas do ponto de vista econômico, mas do ponto de vista da democracia”.

Ele lembrou que desde a aprovação da Constituição de 1988, só se passaram 28 anos. “Vejam que a elite brasileira não suporta 28 anos de democracia. Ela não suporta a perspectiva de um partido, ou o PT ou um partido progressista, continuar governando o Brasil”.

Lula criticou a mídia. “Eles fazem política da primeira página à última. Até nos obituários eles fazem política. 

Tal é a necessidade de criminalizar o PT, criminalizar os partidos progressistas. E agora estão querendo até criminalizar a parte mais progressista do movimento sindical”. “Não é possível aceitar que um canal de televisão ou um jornal governem o país”. Ele agradeceu à imprensa estrangeira “que está dando uma lição de moral na imprensa brasileira, fazendo uma cobertura dizendo apenas a verdade”.

De acordo com o ex-presidente, a elite brasileira é “estranha” de modo que o país foi o último da América Latina a abolir a escravidão e o último em que as mulheres conquistaram direitos iguais. E o país só teve sua primeira universidade em 1922, 400 anos depois do descobrimento. “Isso demonstra o quanto uma parte da elite econômica e política desse país foi perversa para não permitir a subida de um degrau das pessoas mais pobres. Durante um século o Brasil só conseguiu colocar 3,5 milhões de jovens na universidade. O Brasil somente agora chegou a 18% de jovens na universidade. Isso porque nós conseguimos em 12 anos dobrar o número de estudantes universitários nesse país”.

Para o ex-presidente, tirar a Dilma do poder “é apenas um gesto”. “O argumento é sempre o mesmo: acabar com a corrupção. Foi assim que Hitler cresceu, foi assim que Mussolini cresceu e é assim que a direita cresce em todos os países da América Latina. Aqui no Brasil, o vice-presidente é constitucionalista, é advogado. E ele sabe que a Dilma não cometeu nenhum crime que lhe permite sofrer impeachment. Cassar a Dilma é uma necessidade de cassar o PT. É uma maneira de dizer ‘o PT não volta tão cedo a governar esse país’”.

Lula disse que o PT vai lutar, porque “com democracia não se brinca”. “Muita gente morreu para a gente conquistar a democracia. Jovens, velhos, comunistas, operários, intelectuais, deram a vida para a gente chegar aonde chegamos. Inclusive, alguns dos que querem dar o golpe agora foram vítimas, foram exilados, foram morar no interior. Eu sou frustrado vendo que eles estão pensando exatamente aquilo que os seus algozes pensavam há 40 anos atrás”.

“Se eles pensam que vão destruir o PT, se pensam que vão destruir a nossa motivação, é só olhar para rua e ver a diferença do povo que está na rua. Do nosso lado tem uma juventude ávida para discutir política, acreditando que sem política não há saída. E do outro lado é a turma que nega a política, que político não presta, que político é tudo ladrão, que político é tudo corrupto. E nem sabem em quem votaram na última eleição. Se alguém está cansado de democracia, é bom avisar que nós do PT começamos a gostar dela agora e não vamos parar de defende-la. Muito obrigado pela solidariedade”. 


Abaixo, a íntegra da fala do presidente:

https://soundcloud.com/institutolula/discurso-de-lula-no-seminario-da-alianca-progressista
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