23/09/2017
Um meio eficiente de intervenção militar pelo telefone, por José Carlos de Assis
Jornal GGN - SAB, 23/09/2017 - 09:45 ATUALIZADO EM 23/09/2017 - 10:00
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Foto: Agência Brasil
por José Carlos de Assis
Amigos meus que estão sinceramente transtornados com os rumos da economia e da política começam a considerar a hipótese de apoiar uma intervenção militar. Eu tenho os mesmos pressupostos deles, já que passamos pela mais profunda crise de nossa história produzida pelo poder civil entreguista, mas acho que, em termos de valores essenciais, a liberdade é um direito inviolável que não pode ficar ao sabor do guarda da esquina numa ditadura – como advertiu Pedro Aleixo a Costa e Silva sobre o AI5!
Fala-se muito em democracia, mas democracia é uma estrutura de governo que pode se adaptar a diferentes situações políticas. Liberdade é diferente. É um valor absoluto. Se perdemos a liberdade poderemos até promover desenvolvimento, mas jamais construiremos uma nação solidária, assim como uma perspectiva de felicidade. E liberdade é a primeira vítima de uma intervenção militar, pela própria natureza dos expedientes ditatoriais para a tomada e conservação do poder.
Aos que alimentam a ilusão de que uma intervenção seria do “nosso” lado, ou que teria um colorido nacionalista, ou que favoreceria o desenvolvimento econômico , enfim, que seria virtuosa, notem dois fatos: primeiro, Castello Branco não tinha intenção de perpetuar-se no poder e suas intenções comedidas estão no fato de que o primeiro Ato Institucional não tinha número; segundo, Costa e Silva, um radical, praticamente tomou o poder de Castello e levaria o país ao AI-5.
O Governo Temer é o mais terrível desastre econômico e político que poderia acontecer ao Brasil em décadas. Seu projeto neoliberal de radicalização privatista, totalmente subserviente ao capital financeiro especulativo, é um desafio à Nação e uma agressão à cidadania. Sua eficácia em termos de ação de governo se manifesta na compra quase pública da maioria do Congresso, que lhe garante a aprovação automática de todas as leis que impõe, da emenda do congelamento orçamentário à destruição da CLT.
Contudo, é preciso ter paciência. Melhor que uma potencial ditadura agora para bloquear as ações de Temer é estruturar a luta política, junto ao povo, pela democracia e pela liberdade na perspectiva das eleições de 2018. Nesse contexto, o fundamental não é a eleição presidencial. É a eleição do Congresso. Se a maioria do Congresso, conhecido pela venda de votos e pela patifaria de alguns parlamentares, for reeleito, aí sim, estaremos perdidos, qualquer que seja o presidente a ser eleito.
O desafio que se coloca às forças progressistas é, portanto, mobilizar meios eleitorais, qualquer que seja o esquema de financiamento oficial de campanhas a ser implantado, para que a Nação consiga um Congresso ao menos com maioria limpa em 2019. Com um grupo de intelectuais, professores, estudantes, sindicalistas e artistas, estamos preparando o lançamento na internet, na forma de conferência on line e em blog, a “Aliança pelo Brasil.
Nossa idéia é manter um programa regular, com a forma de uma mesa de debate on line, assim como um blog específico, para debater os problemas econômicos e políticos brasileiros, colocando o foco na renovação do Congresso. Para isso, procuraremos construir os perfis dos parlamentares atuais, identificando sua atuação política e, em especial, seus atos de traição ao povo.
Mais importante que isso, entretanto, é a mobilização popular em torno da proposição do senador Roberto Requião, presidente da Frente em Defesa da Soberania Nacional, no sentido de convocação, no momento que for oportuno, de um referendo revogatório das medidas antinacionais e anti-povo baixadas por Temer. Anularemos, por exemplo, a reforma trabalhista e o pacote de privatizações que está sendo proposto. E anularemos a estúpida emenda 95, de congelamento do orçamento público por 20 anos. A proposta de referendo revogatório será um dos principais eixos da campanha presidencial em 2018.
Isso é melhor que uma intervenção militar. Mesmo porque ninguém garante qual lado vão escolher os militares. Os sinais são péssimos. Um deles quer acabar com a luta de classes. Por outro lado, não vi nenhuma declaração peremptória de general em defesa do interesse nacional concreto, ou seja, da soberania real – por exemplo, contra a privatização do setor elétrico. Também não vi protesto deles mesmo no campo estrito da defesa, defendendo a necessidade do submarino nuclear, por exemplo.
Assim, em lugar de intervenção aberta, talvez fosse mais eficiente que algum general do Alto Comando pegasse o telefone e dissesse simplesmente a Temer: pare com suas ações entreguistas e fique quieto até o fim de 2018. Estou certo de que ele meteria o rabo entre as pernas e, por covardia, mudaria o curso entreguista de seu Governo, sem ferir a liberdade!
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