segunda-feira, 4 de junho de 2018

Nº 24.312 - "A demência condena"

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04/06/2018

Opinião

A demência condena

Da Carta Capital — publicado 04/06/2018 00h20, última modificação 02/06/2018 11h04


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Há quem suponha que bastaria tirar Temer do Planalto e do Jaburu


Deveríamos gritar: Fora Todos

por Mino Carta 


A larga maioria dos brasileiros ignora que a casa-grande desferiu um inédito golpe de Estado dois anos atrás, graças ao conluio entre os próprios Poderes da República, a mídia nativa, setores da Polícia Federal, enquanto as Forças Armadas por ora imitam Pilatos.


Esta ignorância tipicamente verde-amarela é o principal sintoma da doença gravíssima a acometer o País. Trata-se de demência em estágio avançado.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, “demência é um amplo espectro de doenças cerebrais que causam uma diminuição crônica, gradual e progressiva da capacidade de pensar e lembrar”. Conforme o Dicionário Houaiss, o substantivo feminino significa “comportamento inusual que aparenta, ou sugere loucura, insensatez, doidice e parvoíce”.

Há qualquer coisa de profundamente maligno nisso tudo. Historiadores ilustres já disseram e provaram que a Revolução Francesa não transpôs os Pireneus, com a consequência, entre outras, de jamais ter alcançado o Brasil. De fato, a democracia preconizada por Montesquieu, mesmo depois do golpe militar que gerou a República, no País não passou de uma aparência.

A casa-grande e a senzala continuam de pé, donde a democracia nascida a partir da Revolução de 1789 por estas bandas é impossível. Ora direis: a casa-grande é competente por manter intacto o seu poder. Há competência, entretanto, ao impor a lei da chibata enquanto a senzala é a versão brasileira do limbo? Neste terreno, a questão também transcende.

Nunca foi tão claro que sequer fomos iluminados pelos valores da civilização. Aqui não chegaram a Renascença, as lições de Direito romano, a sabedoria grega. Como diz meu companheiro Luiz Gonzaga Belluzzo, somos selvagens que convivem com avanços tecnológicos representados por computadores e celulares.

A quantidade de situações paradoxais, absurdas, doidas, e todas inexoravelmente daninhas, resultam da demência, a começar por um golpe favorecido pela inércia de um povo incapaz de reação, perpetrado para impedir de vez o único líder popular de dimensão nacional.

Não falta o lado tragicamente patético, o fracasso do golpe, e dos seus paneleiros e beócios de camiseta canarinho, para expor a dolorosa evidência de um cenário de véspera da guerra.

A demência, de todo modo, é progressiva, estampada nos rostos sinistros dos golpistas. Confesso o sobressalto que padeço ao me deparar com alguns desses semblantes, Cármen Lúcia, a medusa, Eunício Oliveira, foragido de Chicago nos anos 1920, o pantagruélico Rodrigo Maia, o espectral Pedro Parente.

E Temer de dedinhos apontados para o céu, como o futebolista crente ao agradecer a Deus pelo gol feito. Sergio Moro de cenho mussoliniano, Luiz Fux de graúna empoleirada sobre a cabeça, e tantos mais. Ouço falar de novas ações golpistas na perspectiva eleitoral, nas condições atuais certamente aziaga para a casa-grande.

Ouço falar em artimanhas destinadas a alijar Jair Bolsonaro da contenda e do retorno à hipótese parlamentarista. A demência golpista não tem limites, em meio à epidemia que poupa pouquíssimos e nega a estes o justo capítulo final, o funeral e o enterro do golpe e dos seus autores. Deveríamos implorar: fora todos.

Há quem suponha que bastaria tirar Temer do Planalto e do Jaburu. Desde os correligionários que consideram o presidente ilegítimo como a bola de ferro amarrada aos pés do convicto, até milhões de cidadãos. E se enganam. Para combater a demência, seria indispensável tirar os golpistas em peso.

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