segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Contraponto 111 - Aposentadoria no mesmo dia!


No mesmo dia, dona Edite pede e ganha a aposentadoria

do Bog do Balaio do Kotscho17/08/2009 - 10:48

Chegou logo cedo, como faz todos os dias, e veio toda contente me mostrar a carta que recebeu do INSS.

Ali se lê:

“Requerido em 14/7/2009. Benefício concedido com vigência a partir de 14/7/2009″.

Dona Edite Dias dos Santos, baiana de Planalto, que fica entre Vitória da Conquista e Perdões, nem podia acreditar no que estava escrito no papel: ganhou sua aposentadoria no mesmo dia em que dera “entrada nos papéis”, como se costuma dizer.

Informa ainda o documento: “A partir de 11/08/2009 compareça diretamente à agência bancária indicada neste documento, munido de sua identificação, para receber seu benefício. Os pagamentos serão efetuados no 5º dia útil de cada mês. Renda mensal: 465,00″.

Dona Edite começou a trabalhar aos oito anos, ajudando na roça dos pais, Getulino e Luiza. Teve nove irmãos, cinco ainda vivos. Trinta anos atrás, veio para São Paulo, e foi trabalhar como doméstica. Há mais de vinte, está com a gente, cuidando da nossa casa, com esmero e sempre de bom humor.

No último dia 10 de julho, completou 60 anos, e ficou sabendo por uma vizinha que já teria direito à aposentadoria. Mas não tinha a menor idéia de como fazer, por onde começar.

Lembrou-se da batalha do marido, o pedreiro Antonio, já falecido, que levou mais de dois anos para conseguir a aposentadoria, gastando dinheiro com advogado e tudo _ o mesmo tempo que eu também penei nas filas do INSS.

Como tenho vários amigos se aposentando, sabia que as coisas agora ficaram mais simples, e apenas a orientei a ir até o posto do INSS mais próximo para se informar sobre o que deveria fazer.

Dona Edite, que mal frequentou a escola e tem dificuldades com letras e números, foi lá sozinha, levando apenas a carteira de trabalho e sua identidade. Só havia três pessoas na fila. Uma hora depois, saiu de lá oficialmente aposentada.

Qual aposentado de outros tempos poderia imaginar uma cena destas?

Dos quatro filhos que teve, apenas uma, Marlene, está viva e mora com ela numa casa própria, no Jardim João XXIII, no quilômetro 18 da rodovia Raposo Tavares. As duas cuidam da sua pequena neta Isabela, que ficou orfã (dois anos atrás, o genro matou a filha de dona Edite e fugiu).

Tem ainda uma filha adotiva, Valdeci, que ficou em Planalto e cuida da terrinha da família, onde Edite tem dez cabeças de gado, que foi comprando com suas economias de uns tempos para cá.

Dona Edite é uma cidadã brasileira que não se queixa da vida. Para ela, apesar dos infortúnios da vida familiar, não tem crise nem tempo ruim. Agora, com a aposentadoria, ficou melhor _ vai pode aumentar seu pequeno rebanho. Pelas estatísticas do IBGE, já faz parte da chamada nova classe média.

Em tempo: Antes que algum engraçadinho comente que a aposentadoria dela saiu com tanta presteza porque tenho amigos no governo _ “assim até eu…” _ já vou logo respondendo que minha única participação na história foi lhe informar o endereço do posto do INSS.
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