05/12/2009
Rodrigo Maia: "Faltou um pouco de solidariedade"
Mesmo dizendo que "não quero julgar o movimento deles" (tucanos), Rodrigo Maia deixa claro até que ponto os dirigentes do DEM estão à beira de um ataque de nervos com o 'Mensalão Candango'. E levanta um argumento sensível: o tempo de TV na campanha eleitoral.
"A coisa mais importante em uma campanha nacional não são nem os palanques regionais. É o tempo de TV. E o deles [tucanos] é igual ao nosso. Talvez sem o nosso tempo de televisão, a oposição não tenha chance de vencer as eleições", comenta o presidente do DEM, 39 anos, filho e companheiro de partido do ex-prefeito do Rio, Cesar Maia.
O ex-prefeito, que mantém um boletim eletrônico diário (o Ex-blog do Cesar Maia), tem sido lacônico sobre o 'Mensalão do DEM', mas nesta sexta-feira (4) saiu em defesa do comportamento do filho durante o escândalo. "Nas crises, a taxa de oportunismo cresce. Antecipar a luta pelo poder nos partidos é no mínimo imprudência, pois com o jogo aberto fica mais fácil identificar os atores. E nada ficará sem troco", escreveu o ex-prefeito, num texto interpretado como dirigido para a luta interna no DEM.
A BBC Brasil, filiada à famosa rede pública de comunicação inglesa, publica nesta sexta-feira uma opinião do professor David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília) que não deve ter agradado a Rodrigo Maia. O analista avalia que as denúncias de corrupção podem fazer o DEM virar 'um partido pequeno'. Veja a entrevista da BBC.
BBC Brasil: Como foi o clima na reunião de terça-feira, que discutiu a situação do governador Arruda?
Rodrigo Maia: Você tinha no partido um sentimento de perplexidade muito grande. E você tinha uma posição que era de todos: uma certeza de que nós precisávamos tomar uma posição em relação ao caso do governador Arruda. E aí você tinha duas posições: uma que foi minoritária, dos que queriam o rito sumário; outros, que queriam garantir ao governador o que ele tinha pedido, ou seja, o prazo de defesa. Prevaleceu a decisão da maioria.
BBC: O senhor é a favor da expulsão?
Maia: Vou julgar com base no relatório do ex-deputado (José Thomaz) Nonô (AL, relator do processo disciplinas contra Arruda no partido). Se eu antecipar meu voto, estou fazendo um pré-julgamento. Se não for a favor dele, posso estar dando argumentos para que, na Justiça, ele recupere a filiação dele. O procedimento correto é não pré-julgá-lo e esperar a decisão. É claro que o clima é tenso, é claro que as denúncias são gravíssimas, mas a nossa obrigação é esperar o relatório do deputado Nonô.
BBC: E como o senhor o avalia os comentários do senador Demóstenes (Torres, DEM-GO), por exemplo, de que "faltou coragem" ao partido, ao não decidir pela expulsão sumária?
Maia: Acho que, da mesma forma que foi coragem dele (Demóstenes) pedir o rito sumário para um governador do partido, foi também muita coragem da maioria ter a convicção de que deveria dar o direito à defesa ao governador. Acho que as duas posições são corajosas: a de defender o rito sumário e a de optar pelo direito defesa. Com toda a pressão da imprensa, eu acho que essa é uma posição corajosa também.
BBC: O senhor fala em uma “decisão majoritária”. Mas há representantes do partido que falam que foi uma decisão sua...
Maia: Não foi. Foi uma proposta do deputado Onyx (Lorenzoni, DEM-RS) e que eu coloquei em votação e todos...
BBC: Houve votação, então?
Maia: Não foi votação. O que houve foi, vamos dizer assim... ninguém se manifestou contra a proposta. Nem os que defendiam o rito sumário. Ninguém pediu votação nominal. Todo mundo acatou aquela decisão pela proposta que o deputado Onyx apresentou e que eu encampei e encaminhei.
BBC: E como está o planejamento do partido em relação a outros quadros mencionados no inquérito, como o vice-governador, Paulo Octávio?
Maia: Ninguém pediu abertura de processo para nenhum dos outros dois citados. Só posso me manifestar, só posso encaminhar abertura do processo se algum filiado do partido encaminhar o pedido.
BBC: A situação deles é comparável a do governador Arruda?
Maia: Todas as situações são muito complicadas. E vamos avaliar aquelas representações que forem encaminhadas ao partido.
BBC: Como o senhor avalia a postura do PSDB nesse episódio?
Maia: Como eu não tive a oportunidade ainda de falar com nenhum deles, não quero julgar o movimento deles. Mas olhando, e pelo que tenho lido, a impressão que me dá é de que faltou um pouco de solidariedade. No momento de crise de um aliado, de crise que nós vivemos hoje, e que o PSDB já viveu no passado, ficar querendo tratar de candidatura a vice, eu acho que é um pouquinho de... é diminuir o problema e tentar se esquivar do problema e não ser solidário ao aliado. Mesmo porque essa é uma decisão que cada partido vai tomar em suas convenções. Eles podem decidir chapa puro-sangue e nós podemos decidir indicar o vice.
BBC: E aí, rompe-se a aliança?
Maia: Se tiver incompatibilidade, pode não ter aliança. Mas não acontecerá isso. Agora, nós temos o direito de, na nossa convenção, decidir o que a gente quiser. Aliança com o PSDB, indicação do vice ou não... Cada um vai decidir. Mas tratar disso agora? Até porque a coisa mais importante em uma campanha nacional não são nem os palanques regionais. É o tempo de TV. E o deles é igual ao nosso. Talvez sem o nosso tempo de televisão, a oposição não tenha chance de vencer as eleições.
Fonte: BBC Brasil
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