02/12/2009
O Brasil se posiciona resolutamente à frente da luta contra o aquecimento global. Assumindo agora orgulhosamente um papel de líder entre os países do Sul, o presidente Lula quer chegar a Copenhague levando no bolso um texto com força de lei, como testemunho de sua vontade política.
Por Jean-Pierre Langellier, enviado especial do Le Monde a Manaus*
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Um ano atrás, o Brasil anunciara um "Plano Nacional de Mudanças Climáticas" onde se comprometia a reduzir "sustentadamente" o desmatamento. A promessa não fixava uma data. Essa relativa timidez tinha numerosas causas. O lobby do agronegócio, influente em Brasília e amplamente sustentado pelo Ministério da Agricultura, exercia pressão contra qualquer medida coercitiva demais para os produtores agropecuários.
Dilma Rousseff, a chefe da Casa Civil – uma espécie de primeira ministra oficiosa – e futura candidata do partido de Lula, temia que metasambientalistas numeradas e datadas travariam, em plena crise, o plano plurianual de "aceleração do crescimento", um conjunto de grandes obras de infraestrutura, dispondo de US$ 290 bilhões (194,2 bilhões de euros), sob sua responsabilidade.
Ao longo de 2009, os ânimos evoluiram. Após seis meses de recessão, o Brasil saiu da crise, incólume e com o moral elevado. A aproximação da cúpula de Copenhague estimulou a reflexão. Em julho passado, numa reunião dos países emergentes conectada ao G8 de L'Aquila, o Brasil pareceu afiançar a posição chinesa, que consiste em devolver a fatura aos países industrializados do Norte, poluidores históricos, e portanto recusar-se a associar seus esforços para reduzir os efeitos do aquecimento.
A nova política brasileira em matéria de meio ambiente, anunciada em 13 de novembro, marca uma verdadeira ruptura. O Brasil promete aquilo que nem a China, nem a Índia e nem a Rússia – os outros Brics – parecem dispostos a fazer.
O país assumiu o "compromisso voluntário" de até 2020 reduzir em até 39% as emissões de gás causadoras do efeito estufa. Ele os limitará a 1,7 bilhão de toneladas, no lugar dos 2,7 bilhões previstas caso nada fosse feito e menos que os 2,1 bilhões emitidos em 2005, o ano recorde, e pouco mais que o 1,5 bilhão emitido em 1994. O Brasil é considerado, a depender dos cálculos, como o quarto ou quinto emissor mundial de gás, sobretudo em função das queimadas que acompanham o desmatamento da Amazônia e respondem sozinhas por cerca de 60% das emissões.
O grosso do esforço brasileiro se voltará para a floresta, com uma redução de 80% no desmatamento na Amazônia daqui até 2020. Mas o país tratará também da vegetação do cerrado e da pecuária, especialmente nas pastagens degradadas, dos fertilizantes, do uso de biocombustíveis, do desenvolvimento da hidroeletricidade e das fontes alternativas de energia, de uma siderurgia mais limpa.
Outros êxitos
Os objetivos delimitados foram incluidos no "plano do clima" que Lula deseja ver aprovado pelo Congresso de Brasília antes de Copenhague. Para tanto o presidente solicitou a tramitação em regime de urgência nas duas Casas. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), relatora do projeto, prometeu dizer aos delegados americanos a Copenhague que "nós não só podemos mas fizemos", numa alusão ao famoso "Yes, we can!" de Barack Obama.
Lula poderá ostentar um outro êxito em Copenhague. Entre agosto de 2008 e julho de 2009, o Brasil registrou o menor desmatamento anual desde a implantação do serviço de controle por satélite, em 1998. A superfície desmatada baixou 45% em relação ao ano anterior.
Coisa raríssima, os compromissos assumidos por Lula receberam elogios unânimes dos políticos e dos militantes ambientalistas, do Greeenpeace à ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também ela futura candidata presidencial, sob a bandeira do Partido verde.
A ambição proclamada por Lula reflete uma tomada de consciência quanto aos efeitos do aquecimento, especialmente para o próprio Brasil – como a mídia evoca quase diariamente – e quanto ao fato de que a proteção do ecossistema poder vir acompanhada pela manutenção de um forte crescimento.
A população evolui de percepção. Conforme uma pesquisa recente, os brasileiros colocam o meio ambiente em terceiro lugar na lista de suas preocupações, depois da criminalidade e da educação.
* Fonte: Le Monde
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Caro Célvio,
ResponderExcluirObrigado por estar me seguindo e pensava que já era seu seguidor, mas agora sou. Seu blog já estava na lista de Meus Favoritos e agora também em Últimas Notícias.
Obrigado também por ter me colocado em "Minha lista de Blogs".
Sucesso.
Abraços,
Saraiva